terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O tamanho de uma exposição

Hoje estava pensando sobre o tamanho das exposições que normalmente são realizadas por aí. Com aquele papo de sempre que o mundo está muito acelerado e as pessoas não tem tempo pra nada e que a tecnologia está mudando tudo, será que não deveríamos reavaliar a forma das exposições? Não digo levá-las exclusivamente para o mundo virtual, porque acredito na presença e na interação observador e objeto e duvido das condições de manutenção tecnológica. Reflito sobre a forma como os conteúdos são apresentados.

As grande exposições podem ser cansativas nos dias atuais. Excesso de acervo e de texto podem atrapalhar um projeto e acho que um curador tem que ficar atento a isso. Há alguns anos fui curador e coordenador de design da exposição Jogos de Damas - Perfis femininos na história republicana (Museu da República e Palácio do Planalto) e o material que tinha em mãos era extenso. A idéia de abordar não só as primeiras-damas, mas também mulheres brasileiras importantes, aumentou os contornos da exposição. Tomando como partido um mosaico colorido de quadrados, dispusemos imagens, textos e acervo de forma cronológica, mas que oferecia a possibilidade dos visitantes obterem a informação que achem necessária. A exposição por si só já dava o clima necessário para seu entendimento. Mas no fim, se pensarmos na totalidade da exposição, ou seja, se alguém resolvesse ler e ver tudo que era oferecido, ela era grande e até mesmo cansativa.

Por isso acredito que a grandiosidade de uma exposição deve ser diretamente proporcional ao artista/coletivo e à sua produção. Matisse, Rodin, Burle Marx e os artistas russos tiveram exposições enormes, todos com sucesso de público. São obras e histórias que praticamente falam por elas mesmas. É muito mais contemplação do que ação educativa. Os textos eram reduzidos e ampliavam o conhecimento. Poucos recursos audiovisuais, concentrados em alguns vídeos que o visitante decidia se queria ou não ver (se teria tempo ou não de ver).

Uma seleção bem feita de obras, textos suscintos e claros e recursos audiovisuais na medida podem parecer itens óbvios, mas são fundamentais e muitas vezes não seguidos em montagens de artistas desconhecidos, de pouco reconhecimento ou de resgate de importância. Cito a contraposição entre as exposições que estão hoje na Caixa Cultural do Rio de Janeiro como exemplo: Wifredo Lam: Gravuras, Bandeira de Mello: "Eu existo assim", Coletivo Potiguar: Imagens da esquina do Brasil e Propagandas de cigarro: Como a indústria do fumo enganou as pessoas.

A exposição do Lam tem o objetivo de homenagear esse artista cubano, apresentando mais de uma centena de obras. Só que ficou a pergunta: precisava disso tudo? O trabalho selecionado e forma disposta em quadros deu a impressão de que seu trabalho é "mais do mesmo". Será que se a exposição não fosse um pouco reduzida, com uma seleção mais rígida de trabalhos não teríamos uma referência maior de sua importância? Creio que sim, até porque, na sala em frente, a homenagem feita a Bandeira de Mello nos serve como prova. Pinturas, desenhos à carvão e crayon, uma linha do tempo e um número (bem) menor de projetos nos levam a conhecer melhor o artista e passamos a admirar sua técnica e suas obras.

A exposição do Coletivo Potiguar certifica minhas idéias e começa a introduzir a questão das novas formas de apresentação do conteúdo. Nove artistas expõem uma média de cinco fotografias representativas de seu trabalho. Um pequeno texto serve de legenda para a seleção e para o próprio artista. Rápido, direto, claro, suscinto, assim como a exposição de propagandas de cigarro toda feita em painéis. Se não fosse a tradução (necessária) dos textos publicitários, a exposição cairia como uma luva no que acredito seja uma nova forma contemporânea de expôr.

Sem querer tirar o lugar das grandes e magníficas exposições, será que a contemporaneidade não está pedindo esse tipo de formato de exposição? Direta, objetiva, de captação rápida da mensagem e do conhecimento, com temas intrínsecos às particularidade contextuais? Acho que sim. A linguagem tecnológica (e não somente os seus recursos) pode ensinar alguma coisa. Além de designers, curadores e colecionadores, acho que os patrocinadores e idealizadores devem refletir sobre isso.

Um adendo sobre a exposição do Bandeira de Mello, o qual não conhecia: os projetos "inacabados" do artista me causaram a mesma reação que tive na exposição de Margareth Mee. Fiquei impressionado com a genialidade da técnica. Só achei uma pena que, no vídeo que passava, eu ouvi a seguinte frase dele: "Quem não sabe desenhar, não pode entender a forma". Será que preciso entrar num curso de desenho urgente? Acho que não. Eu não desenho da forma que ele quis proteger. Eu desenho na mente.

Um outro adendo... bem repetitivo: como é bom passear pelo centro do Rio e ter tantas exposições de graça para visitar. Não vou me cansar de falar isso. E a Caixa Cultural está se tornando meu local preferido, sempre com várias exposições interessantes, instigantes e educativas ao mesmo tempo!

Um comentário:

Graça disse...

Se quem não sabe desenhar não pode entender a forma então o que dizer do Mestre Oscar Niemayer? Tive a oportunidade de ver os seus "rabiscos" (que ousadia!!!)originais dos projetos de Brasília. Eram tão complexos que havia uma equipe de desenhistas para traduzí-la (um tio muito querido já falecido fez parte desse seleto grupo).
O que resultou daqueles "rabiscos" geniais dispensa comentários.