sábado, 12 de junho de 2010

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

(Carlos Drummond de Andrade)

Um comentário:

Graça disse...

Ah meu amado Drummond! Belo poema; sábio poema.
O tempo é a matéria de todos nós e se soubermos entendê-lo, e mais, se soubermos respeitá-lo a vida presente será vivida com muito mais sabor, mais alegrias, menos angústias, menos incertezas.
O tempo é singular, é de cada um; por isso há que se dar "tempo ao tempo" para que possamos verdadeiramente viver.
Não é fácil mas certamente vale a pena tentar.