terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O império do efêmero

Esse é o título do livro do filósofo francês Gilles Lipovetsky que levei 7 meses pra finalizar! Ele não é a razão da minha ausência por aqui, não... estou atarefado mesmo. Mas é um livro muito difícil de ler. Vou explicar o porquê...

Parágrafos que se arrastam por duas ou três páginas. Frases que são um parágrafo inteiro. Orações sem verbo. Somando isso tudo a uma prolixia de palavras redundantes e tiradas do fundo dicionário sem a menor necessidade, o livro se torna um parto doloroso de se ler. O que faz continuar é realmente o assunto (e subtítulo): a Moda e seu destino nas sociedades contemporâneas. Revisitando a história do frívolo e do efêmero através da moda, Lipovetsky faz reflexões que ultrapassam a lógica do diferenciamento social e confere à moda um caráter quase libertário, fazendo dela um prenúncio das sociedades democráticas. E essa "empolgação" com a moda é defendida com unhas e dentes!

É interessante dizer que, apesar do livro ter sido escrito em 1987, muitas de suas reflexões ultrapassam mais de 20 anos e se mantém vivas, quase premonitórias. Descobri que ele gerou muita polêmica com o livro, sendo duramente criticado por um lado e transformado em guia da década por outros. Eu concordo com o segundo grupo... ele deveria ter sido leitura obrigatória na época, não só para situar as pessoas, mas também para prepará-las para o que poderia vir... e acabou vindo! Sugiro a leitura da curta entrevista que ele deu para a revista Moda Brasil em 2002, reposicionado e revisitando alguns pontos.

A efemeridade me interessa, então, para mim, o livro é muito bom. Mas fico imaginando que se ele tivesse sido melhor escrito (ou traduzido), O Império do Efêmero teria um alcance bem maior. Portanto, Companhia das Letras, sugiro uma segunda edição revisada e melhorada (nada de reimpressão ou edição de bolso), porque essa edição já passou do ponto e está se tornando um paradoxo: ela precisa da efemeridade!

Um comentário:

Graça disse...

A efemeridade é uma característica do mundo em que vivemos.
Há situações em que isso não é mau: a rígida manutenção de hábitos, costumes e tradições que marcaram longos períodos do cotidiano da vida em geral engessaram as transformações, a liberdade de pensamento e a produção criativa.
Entretanto, hoje caímos no extremo oposto que é a efemeridade pela efemeridade: as mudanças ocorrem numa velocidade que nem dá tempo de refletirmos sobre ela. Aliás, percebo que algumas mudanças não passam de releituras requentadas e pioradas de conceitos antigos.
Muitos velhos paradígmas eram para cair e caíram sim, Amém! Mas dos que foram colocados temporariamente no lugar vários muitos não tem consistência e carecem de reflexão mais acurada.
São novos "valores" morais (e, por favor, não confundir com moralismo), éticos (que ética?), familiares, afetivos, de relações de trabalho (um "puxa tapete" generalizado), de pseudo respeito às diferenças (esse, então, e um lindo discurso fortemente afastado da prática) e tantos outros que passam tão rápidos como tempestades de verão.
Só uma coisa, na minha modesta opinião não se tornou efêmera e está cada vez mais enraizada e assustadora: A ESTUPIDEZ HUMANA, a capacidade eterna de cometer os mesmos erros, a ânsia pela conquista e manutenção do poder a qualquer preço, ainda que isso signifique o assassinato puro e simples de milhares de pessoas (vide Líbia), a dificuldade de aceitar, entender e respeitar a alteridade, e um etc. quase inesgotável
Por trabalhar com adolescentes (onde o índice de suicídios cresce em proporções alarmantes) e por ter vivido intensamente as chamadas, por Chico Buarque, "páginas infelizes da nossa História" me vejo em situações difíceis e não posso me dar ao luxo de uma transmissão de negativismo. Mas que anda difícil lá isso anda.