terça-feira, 1 de maio de 2018

Reflexões sobre o livro "Transparência do Mal – Ensaios sobre os fenômenos extremos", de Jean Baudrillard

Texto produzido em 1º de maio de 1996 para a disciplina Análise à Informação, do Prof. Jorge Lúcio de Campos, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

ENSAIO 1: "APÓS A ORGIA"
Toda boa redação deve ser dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, devem estar o tema central e as ideias a serem abordadas. O ensaio "Após a orgia" é como uma introdução.

Baudrillard apresenta uma série de argumentos demasiadamente radicais, caóticos e negativos. Chegou a me lembrar o poeta pré-moderno Augusto dos Anjos, que escandalizou sua época por usar um linguajar rebuscado e negativo. Sua radicalidade se expressa pelo excesso de palavras como "tudo", "todos", "nada", "jamais", que, em Geografia, aprendemos a não usar por serem tão generalizantes.

O autor define "orgia" como "o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios". E é nesse pensamento que se seguem seus outros ensaios, explicando-se uma série de liberações de nossa sociedade, relacionadas sempre com a pergunta crucial do livro: O QUE FAZER APÓS A ORGIA?

Não acho que nossa sociedade tenha percorrido "todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, signos, mensagens, ideologias, prazeres". Nossa sociedade tradicional é calcada no ideal de progresso, onde o espaço de experiência é diferente do horizonte de expectativa. Isso nos leva a analisar uma sociedade que sempre procura melhorar através de mudanças sejam elas boas, ou não. Assim, fico impossibilitado de dizer que estamos progredindo no vácuo. Nós não vivemos uma reprodução indefinida em um tempo cíclico de saber no passado. O homem surpreende a toda hora e pode alterar seus ideais e sonhos, vivendo um tempo linear de saber no futuro.

Baudrillard argumenta que as coisas não desaparecem por morte ou fim. A proliferação, saturação, exaustão e epidemia das mesmas podem realmente levá-las a um fim dispersivo. O cineasta Wim Wenders diz que numa cidade grande, onde o acúmulo excessivo de propaganda é alienante, o tudo acaba se tornando o nada. É exatamente isso que o autor quer dizer: perde-se o sentido e a força quando se chega à contaminação exacerbada.

A trilogia do valor é facilmente entendida graças ao feedback que possuímos, uma vez que não há uma explicação clara e bem desenvolvida do tema. As atenções se voltam apenas para o quarto valor: o valor fractal. Esse valor é dado como o valor de avaliaço impossível que irradia para todos os lados sem referências, de forma aleatória. Isso porque é difícil avaliar o valor do que está em constante mudança, saindo de um eixo ordenado óbvio. Mesmo os opostos não andam mais lado a lado, numa luta eterna pela hegemonia. Esse é o valor fractal. E o autor determina esse valor como o "esquema atual de nossa sociedade". Assim, ele entra num paradoxo que ele diz melhorar o funcionamento de uma sociedade. Ao mesmo tempo que finaliza o ideal de progresso, ele dá um movimento às coisas de maneira fractal.

Esse paradoxo é mal analisado quando se sustenta o ideal de que o progresso, a riqueza e a produção desapareceram, mas continuam existindo. Como falar no desaparecimento das bases político-econômicas de nossa sociedade? É fato que estamos enfrentando momentos difíceis e confusos, mas anular a essência da sociedade? Isso fica exagerado. Concordo com a ascensão do jogo político em contraposição ao fim das ideias, porque (infelizmente) leio jornais para saber o que ocorre no ninho de víboras do governo.

O que, com certeza, possibilitou o homem mudar, ou seja, evoluir para o que é hoje, foi sua curiosidade. Nascida no âmago de todos os seres, essa sede de conhecimento nos levou a lugares incríveis e a descobertas fascinantes. Por isso, fica injusto considerar a curiosidade como uma pulsão secreta em todo ser humano de desfazer-se das ideias e das essências para chegar à orgia, excedendo em todos os sentidos. Nosso objetivo é estudar, experimentar para que alcancemos novas possibilidades e facilitemos a vida de todos.

Talvez seja um grande erro não obedecer ao código genético. Se eu fosse um fanático religioso, diria que a genética é um pecado mortal, uma afronta a Deus. Clonagens e próteses são uma tentativa de driblar os valores naturais. "O máximo da sexualidade com o mínimo de reprodução" é a ordem da liberação sexual. "O máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo" é o sonho de uma sociedade clônica. Mas será que chegamos, alguma vez, a um desses dois extremos? Nossa sociedade jamais foi influenciada apenas em sexo ou apenas em clonagens. Ocorre sim, como o autor comenta em seus outros ensaios, uma transexualidade que se estende bem alem do sexo. Não se tem um processo de confusão e contágio; tudo é experimental, são tentativas de formar personalidades próprias e extrapolar seus desejos mais íntimos. Realmente perde-se o caráter específico do sexo e cria-se um processo viral de indiscriminação. Isso, exatamente, porque é algo novo que vai contra os valores sociais e morais de nossa sociedade.

São esses valores que dão margens a essas discussões. O conservadorismo e as tradições que nossa sociedade guarda, de fundo moral e ético, acabam criando paradoxos com a evolução do saber que acompanha o crescimento da humanidade. Há uma dificuldade muito grande em quebrar tabus para acolher os novos conhecimentos.

A comparação entre a metáfora e a metonímia, direcionada ao processo transversal é interessante. A utilização da denotação das duas palavras para dar um sentido conotativo à transversalidade cai perfeitamente nesse discurso. Nesse processo da transversalidade, é fácil perceber essa metonímia ao avaliarmos o campo de ação de uma disciplina qualquer. As disciplinas criaram uma interligação, fazendo desaparecer os vestígios dos conjuntos individuais para formar um enorme termo de coletividade. E é por causa dessa contaminação, dessa infecção de todos os domínios que podemos falar "tudo é sexo", "tudo é política", "tudo é dinheiro". Essa radicalização é bem contestada quando Baudrillard fala que "cada categoria é levada a seu mais alto grau de generalização, e por isso, perde toda sua especificidade e se desfaz em todas as outras".

Há uma análise nesse ensaio, sobre as teorias revolucionárias, que nos faz pensar sobre o tão esperado progresso da humanidade. O capital não leva em consideração os valores econômicos, fugindo de seu próprio significado centralizador, sem quaisquer referências (aliás, raramente o capital seguiu as leis a ele impostas); o político foi questionado e, quando teve suas bases enfraquecidas, levou consigo o social; a arte tentou renegar as regras que a limitavam mais continuou seguindo padrões que levaram à banalidade das imagens; a utopia sexual de tornar a totalidade do desejo como uma realização na vida de cada indivíduo acabou numa confusa transição sexual de circulação promíscua que levam a uma indiferença e discriminação do ato. Ou seja, as tentativas que nossa sociedade fez para melhorar suas condições e seu campo de ação, determinaram o começo da orgia.

O princípio do Mal de Baudrillard acaba por aparecer. A curiosidade que a sociedade carrega instiga uma parte maldita: a vontade de violência e morte. O movimento incessante da sociedade, sempre eficiente e sempre fracassada, na tentativa de disfarçar o Mal, beneficiando o Bem, descreve essa parte maldita do princípio. O autor considera o Bem uma sentimentalidade ingênua que sempre será superada pela energia irônica do Mal.

Acho bem errado dizer que o êxito da comunicação e da informação indica a incapacidade da sociedade se superar através de outros meios. É através da comunicação e da informação que a sociedade, como coletivo, e o indivíduo, como entidade só, conseguem satisfazer sua curiosidade e aprender métodos de superação mais fáceis ou lucrativos. Até mesmo o conhecimento entra num processo de superação, quando seu excesso acaba em dispersão. Ao adquirirmos conhecimento, livramo-nos daqueles que se tornam vagos e ilógicos. Temos, assim, um processo metonímico de comutação. Quando Baudrillard fala que a imagem do homem sentado contemplando o horizonte e seu silêncio se tornará uma bela imagem no futuro, começamos a pensar outra vez sobre a relação tudo-nada, a que se refere Wim Wenders, graças à anulação da presença do silêncio no meio dessa invasão comunicacional e informativa. Acho que esse interesse no silêncio já está, aos poucos, surgindo. Há um anúncio de TV que mantém o silêncio, deixando apenas as imagens e as palavras correrem. Isso quebra o cotidiano de informações ininterruptas e acaba prendendo o telespectador.

ENSAIO 2: "TRANSESTÉTICO"
A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes ela assumia um caráter próprio por receber as influências dos indivíduos que a moldavam. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impôr seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existe mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada. Continua também com suas características de proliferação de seus discursos sedutores e/ou destruidores.

No ensaio "Transestético", percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte numa estase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

A evolução do homem, já analisada em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "transestetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo. Isso não é uma descrição clara dos Mamonas Assassinas? Todo o besteirol, a lixo-cultura que eles empreenderam se tornaram uma ideologia que é cultuada até hoje, mesmo depois da morte do grupo.

Nesse ensaio, o ideal do transversal é esclarecido. Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. Baudrillard diz que é assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. Mas ele pisa num terreno contrário a arte. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

O homem é uma criatura iconoclasta. Os ícones nos fazem crer na possibilidade da existência. Toda imagem nos passa alguma coisa, mas a profusão delas nos leva a um apagamento dos vestígios e das consequências. Seria fácil colocar a existência de Deus em questão, mas as imagens transmitidas por ícones não nos permitem deixar de crer. Assim, devemos considerar a arte contemporânea como os ícones e suas imagens, levando em conta sua função antropológica sem critérios ou julgamentos estéticos.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois se elevou a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil, como já foi analisado. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

Para Baudrillard, a arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Arte ao Lado: Otávio Oliveira

Otávio Oliveira é o filho do meio, o “mais diferente dos três irmãos”, como ele diz. Era considerado o artista da família, pois, ainda criança, demonstrou facilidade em desenhar tudo que o cercava. Com o tempo, se interessou por música e aprendeu vários instrumentos musicais (quase se formou em violão clássico). Lia avidamente todos os livros que caíam na sua mão. Na hora de escolher uma carreira, sabia que necessitava fazer algo que o sustentasse, porém, era imprescindível que houvesse algum tipo de arte associada à profissão.

A odontologia apareceu como a “resposta perfeita”. Tornou-se um dentista pós-graduado em prótese, habilitando-o a lidar com a correção funcional e estética dos problemas causados pelas perdas dentária. A profissão permitiu uma vida digna a seus filhos e supriu sua necessidade de estar perto da arte.

Ele sabe que existe um grande lado de ciência no que faz. Após a parte técnica e a parte funcional do trabalho, entra a escultura dos elementos perdidos que deve estar em harmonia não só com os outros dentes, mas com todo o rosto. É preciso estudar a face de cada pessoa individualmente, pois “perceber suas peculiaridades é vital na criação não só de um sorriso bonito, mas de um sorriso que represente a verdadeira felicidade daquele que sorri”

Para Otávio, a arte é literalmente transformadora:
“Só a arte pode nos dar a sensibilidade necessária para perceber tais nuances. Tê-la dentro de si é um privilégio. Me sinto abençoado por isso.”
E é abençoado mesmo porque a arte transborda dele. Otávio foi meu dentista por um período curto, mas nos reconectamos através das redes sociais. Foi onde eu conheci o pai de família, o romântico, o músico, o cantor, o escultor, o pintor… o artista que ele é por completo.


quarta-feira, 25 de abril de 2018

Pantera Negra

Pantera Negra (Black Panther, 2018) é um filme de super-herói, gente. Nada mais do que isso e nada diferente do que a Marvel faz com relação a enredo. Está tudo lá: a ascensão e queda do herói para sua final redenção, a ascensão do vilão até sua derrota, as grandes perseguições e cenas de combate, a tecnologia, o humor... fórmulas que a Marvel já está craque.

No entanto, é preciso entender o fenômeno social que levou esse filme a bater inúmeros recordes (na casa de 1 bilhão de espectadores), a botar um super-herói na capa da revista Times e estar com possibilidades de disputa de Oscar.

Enquanto o filme da Mulher-Maravilha deu força à mulher não só como protagonista, mas em todos os aspectos dentro do filme (direção, figurino, direção de arte e por aí vai) e fora dele (manifestação anti-assédio), o filme do Pantera Negra traz a representatividade étnica com um elenco estrelar, 98% negro, cineasta negro, mostrando não uma África sofrida, mas uma África ACIMA da cultura branca ocidental europocêntrica com diversas críticas pontuais muito bem feitas.

Nós temos empatias por todos os personagens (interpretados por FERAS como Chadwick, Lupita, Forrester e Angela, somados a Daniel - de Corra! -, Letitia - grande Shuri -, Danai - poderosa Okoye, chefe das Dora Milaje -, Winston - o Homem-Gorila - e Michael B. Jordan em redenção cinematográfica, entre muitos outros). São tantas texturas, complexidades, nuances dos personagens traduzidas num visual arrebatador que une à tecnologia às expressões tradicionais africanas. Os vilões novamente não são vilões, mas aqui nesse filme isso é bom. Somente Ulysses Klaue (Andy Serkis) pode ser considerado realmente "do mal".

O filme está conectado diretamente à Guerra Civil e Vingadores 2, seja pela presença do Soldado Invernal, seja pela presença de Martin Freeman após os problemas na ONU. É meio longo, porém, necessário para apresentar todas as referências do Pantera e ainda mantê-lo conectado ao MCU.

Como aqui nessas postagens eu tenho falado sobre a relação cinema/quadrinhos... posso afirmar: a Marvel acertou em cheio! Acho que tudo estava no filme. Até as adaptações foram bem feitas, como o "superuniforme". E pra mim, é por isso, que esse é um grande filme do MCU.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Thor foi pro espaço

Tiraram o cabelo comprido sem razão. Tiraram um olho sem razão. Tiraram Mjolnir sem razão. Tiraram Asgard. Nem precisaria dizer mais...

Eu realmente saí do cinema (em novembro de 2017) bem desapontado com o fim da trilogia do Thor nos cinemas. Thor Ragnarok foi feito para tirar a má impressão de seus filmes anteriores (ditos muito sérios) com um humor totalmente fora de contexto e acabaram desconfigurando-o totalmente.

Primeiro, vamos à contratação de Taika Waititi, um ator/diretor que parece trazer somente o tal humor over, porque as decisões seminais do filme foram realizadas pelos produtores da editora. Ele também faz Korg, um guerreiro de pedra com sotaque havaiano longe do personagem dos quadrinhos, engraçadinho na tela, porém perdido.

Segundo, vamos aos atores... Contratar Cate Blanchet como a primeira grande vilã da Marvel parecia um tiro certeiro. Mas veja a atuação dela... parece que ela não está levando a sério!

Terceiro, vamos ao Hulk... personagem aparentemente querido do público, mas também envolvido em imbróglios contratuais (e medo de mais fracassos individuais) que é colocado no meio de um filme que não lhe pertence, ganha mais falas, mais tempo de tela e nos leva ao quarto ponto...

Quarto, vamos às contínuas adaptações de quadrinhos para as telonas:
  1. Hela como a primogênita de Odin? Conquistadora ao lado do pai? Banida por ambição? A morte de Odin a liberta? Hã? Nem na mitologia nem nas HQs!
  2. Thor usando os poderes de Heimdall? Hã?
  3. A única Valquíria que sobrou não tem nome e é uma alcoólatra espacial? (Não... não há justificativa... e atente que nem me incomodei pelo fato dela ser negra quando as valquírias eram a epítome da brancura/loirice nórdica, já que Heimdall é Idris Elba)
  4. Planeta Hulk é uma das histórias mais bem sucedidas do Hulk nos quadrinhos. Resumindo: com medo da fúria do gigante verde, alguns heróis o exilam no espaço; ele cai num planeta onde se torna um gladiador e, por fim, o salvador. Aqui no filme, lembramos que o Hulk ficou preso em uma nave depois da batalha em Sokovia, em Vingadores 2. Ele é colocado no Torneio dos Campeões do Grão-Mestre (outro clássico quadrinístico para ver herói vs. herói), junto com Korg e Miek (personagens do Planeta Hulk), só pra enfrentar o Thor (um combate interessante que mais vale pela cena que Loki vibra com o que o Hulk faz com Thor). Porém, a saga dos quadrinhos é muito maior, mais importante e impressionante. O filme reduziu tudo a nada.

For isso tudo, ainda temos [spoilers]:
  • A destruição sem sentido do Mjolnir em nome de dar poderes elétricos para Thor. Não... não adianta dizer que o martelo era poderoso demais. Ok, ficou visualmente bacana, mas não, não tem explicação.
  • A morte ridícula de Volstaag e Fandral (dos três guerreiros, Hogun é o que tem uma morte mais digna)
  • Sif ignorada ao ponto de nem aparecer no filme.
  • Um Skurge de quinta que não disse ao que veio.
  • Um teatrinho shakespeariano engraçado porque tem Sam Neill como Odin, Matt Damon como Loki e Luke Hemsworth (irmão de Chris) como Thor, enquanto Anthony Hopkins faz o Odin/Loki.
  • A participação do Dr. Estranho, que liga Thor ao lado místico do MCU, apesar do resto todo do filme direcioná-lo para o lado cósmico a la Guardiões da Galáxia (inclusive a primeira cena pós-crédito é ligação direta com a Guerra Infinita). Aliás, nessa cena (só) vale o Mjolnir como guarda-chuva, lembrando o início do herói nos quadrinhos.
  • Quer saber o que é o Ragnarok mitológico? Clique aqui, pois é beeem diferente do explicado no filme. Até os quadrinhos trabalharam melhor.

Especificamente sobre Sakaar, o planeta do Torneio dos Campeões, vale uma ressalva. Confesso que não entendi a estética daquele "lixão espacial" quando vi pela primeira vez. Porém, vendo os extras do blu-ray, entendi tudo: é uma senhora homenagem a Jack Kirby, um dos grandes construtores visuais do Universo Marvel. Passei a gostar da vibe oitentista.

Precisamos saber também que cronologicamente esse filme se passa AO MESMO TEMPO que Guerra Civil e seria, por essa razão, que Thor e Hulk não participaram do terceiro filme do Capitão. No entanto, pra mim, o objetivo foi literalmente ACABAR com a trilogia individual do Thor e, talvez, eliminá-lo das vindouras fases do MCU. Não duvido que ele morra nos próximos Vingadores...

Apesar dessa minha crítica, o filme foi muito bem recebido. Ou seja, ignorem tudo que eu escrevi e vejam o filme por sua própria conta.

sábado, 7 de abril de 2018

De volta ao lar

E o Homem-Aranha está de volta ao lar, ou seja, ao MCU! Título perfeito (Spiderman: Homecoming, 2017) para uma confusão legal feita há nos atrás pela Marvel. Resumindo: pra colocar seus heróis na telona, a editora vendeu um monte de direitos cinematográficos. Por exemplo, X-Men e Quarteto Fantástico foram para a FOX, enquanto o aracnídeo foi para a Sony.

Antes de falar do novo filme, deixa eu lembrá-los que, em 2002, o primeiro filme do Homem-Aranha foi um sucesso estrondoso e a Sony viu que havia tirado a sorte grande. A sequência em 2004 foi ainda maior, mas o fim da trilogia em 2007 deixou um pouco a desejar.

Quando Homem de Ferro foi lançado em 2008 pela própria Marvel, deu-se o problema: enquanto os fãs exigiam o retorno do teioso para casa, a Sony jamais largaria sua mina de ouro. Então, assim como nos quadrinhos mudam o desenhista e as histórias são recontados com outros pontos de vista, em 2012, mais um filme foi feito... um "reboot" que não era exatamente um reinício.

Só que em 2012, a Marvel detonou tudo com Os Vingadores e já preparou terreno para vários filmes de sua segunda fase. A Sony precisava fazer algo com o universo do Aranha e resolveu lançar o segundo filme do "reboot" em 2014, cheio de pontas para criar um universo particular. Porém... o filme pecou em vários erros semelhantes ao do terceiro filme da primeira trilogia e as pessoas começaram a perder interesse por essa versão do herói. O público exigia que ele voltasse para as mãos da Marvel.

Um ano de intensas negociação (com direito a quase porrada de produtores), finalmente foi negociada uma parceria entre Marvel (agora com toda a força da Disney e das Lucasfilms) e Sony. Assim, o Homem-Aranha estreou em 2016, no terceiro filme do Capitão América, Guerra Civil. Ah... agora sim! Teremos o melhor Homem-Aranha de todos!!!

Longe disso.

O "amigão da vizinhança" virou uma salada:

  • Tom Holland é uma mistura de Tobey Maguire com Andrew Garfield, porém com a idade, ansiedade adolescente e condição atlética certa (o poder de adesão foi muito bem trabalhado).
  • Seus colegas adolescentes tiveram suas características físicas alteradas. Ok, entendo a tal da representatividade... mas colocar o Flash como um indiano não dá. MJ como um nerd é impossível! Liz negra e filha do Abutre... hã??? E Ned... talvez o MELHOR PERSONAGEM DE TODO O FILME... é, na verdade, outro personagem do universo Marvel, o Ganke do Homem-Aranha Ultimate.
  • Tia May garotona também é questionável... pelo menos tiraram o tom "Tonyzete" que deram a ela no filme Guerra Civil.
Jacob Batalon faz o ótimo Ned Leeds.

É visível também que houve uma tentativa de traduzir o sucesso da primeira trilogia quando toda a cena da barca é PRATICAMENTE IGUAL a cena do trem no Homem-Aranha contra o Dr. Octopus. Além disso, prestem atenção no Abutre... ele É O DUENDE VERDE! Suas asas parecem o planador! E ele descobre a identidade do herói em uma cena que jogam uma luz verde do semáforo na cara dele! Mesmo sendo feito por Michael Keaton (eterno Batman e Birdman) com um enredo até bem estruturado (o tráfico de armas alienígenas), isso ficou muuuuuito ruim pra mim. Pelo menos dessa vez eles entenderam que colocar três vilões não funciona e Shocker e o Consertador são personagens bem coadjuvantes.


Tony Stark - que já roubara metade do filme do Capitão - também rouba um pedaço desse filme na construção de uma relação pai e filho. Mesmo que não seja totalmente presencial... é dele a Controle de Danos (empresa que cuida das destruições em combates de super-heróis), é dele a nova tecnologia do uniforme (com destaque para as teias-planadoras, o sinal-aranha e o rastreador, porque o modo "Morte Súbita" e o drone não colaram) e é a mudança dos Vingadores para o Triskelion que dá o norte ao filme. Fora Happy Hogan que é a "babá" do Aranha e (spoiler) a cena do pedido de casamento.

Mesmo não contando mais a origem, foi necessário estabelecer o herói dentro no MCU e isso tornou o filme longo demais. Não é um filme ruim, mas ficou aquém. Parece uma sina manter o nível desse personagem. A Sony anda tentando estender o universo aracnídeo com filmes do Venom, da Gata Negra e da Silver Sable e eu não sei como isso vai mexer com o Homem-Aranha no MCU, que vai entrar na Guerra Infinita com sua tia sabendo de sua identidade. Aguardemos.