terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: os prêmios!

Quem gosta de cinema, seja o de Hollywood ou o de Michael Haneke, tanto faz, fica acordado até três horas da matina quando o evento televisionado é a entrega do Oscar. Não interessa se você vai trabalhar ou estudar quando o sol raiar. Cinéfilo de coração aguenta o sono, musicais com Russell Crowe, um bloco inteiro de in memorian, piadinhas infames e muitos, muitos intervalos comerciais para chegar de olhos abertos até Best Picture.

Estas são as palavras do meu amigo Otávio no seu ótimo blog de cinema Hollywoodiano. Concordo totalmente, até porque fui um dos que ficou na madruga e tive que raiar com o sol.

As Aventuras de Pi (The life of Pi, 2012) foi o grande vencedor com 4 títulos e - se analisarmos bem - Lincoln (2012) foi o grande perdedor. Considerado o papa-títulos do ano por retratar o grande presidente dos EUA, o filme de Spielberg só levou a estatueta óbvia para Daniel Day-Lewis. Quando digo óbvio, não estou falando do talento do ator. Estou falando dos resultados de prêmios anteriores que acabam tornando o show quase previsível.

A vitória de Argo (2012) foi pra mim uma surpresa mais do que agradável. Vibrei. Achei que a entrada da primeira-dama Michelle Obama dava como certa a vitória de Lincoln, mas tem gente dizendo que foi uma mensagem política. Dane-se. O filme é ótimo.

Mas o show foi marcado pela queda da bela e chique Jennifer Lawrence (afinal ela caiu de Dior e foi ajudada por Bradley Cooper e Hugh Jackman...), pelo endeusamento a Tarantino (Waltz e roteiro? Sei não...), pelo esquecimento de Ben Affleck como indicado à direção (e daí? Levou o filme!) e pelos musicais da história do cinema: Chicago, Dreamgirls (UAU Jennifer Hudson!), Hairspray (na presença de John Travolta), A noviça rebelde (na presença de Christopher Plummer), Les Miserábles (Ah essa revolução! E não é que Russell Crowe canta mesmo?), entre outros.

Ah... avisem ao Seth McFarlane que não deu.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Cartazes oscarizáveis

Mais tarde teremos a entrega do Oscar para o cinema americano. O maravilhoso designer Olly Moss fez um incrível cartaz com os 84 Oscar anteriores interpretando os vencedores daquele ano.

Clique para aumentar e divirta-se tentando lembrar os vencedores!


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood também encomendou cartazes comemorativos celebrando os indicados a Melhor Filme aos artistas da Gallery 1988. Vejam:

Amor, por Matt Owen
A hora mais escura, por Godmachine
Django Livre, por Mark Englert
Argo, por Anthony Petrie
As aventuras de Pi, por Tom Whalen
Lincoln, por Jeff Boyes
Indomável sonhadora, por Rich Kelly
Os miseráveis, por Phantom City Creative
O lado bom da vida, por Joshua Budich

Excelente iniciativa. Tomara que ela seja repensada todos os anos! Meu palpite para o Oscar? Lincoln... americano adora se presentear. Mas podemos ter uma grande surpresa com o excelente Argo.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: A VIAGEM

Tá, tá... eu sei que esse filme não está no Oscar e foi considerado um dos piores filmes do ano passado, mas eu gostaria de fazer algumas considerações. Primeiro, vamos à história de A Viagem (Cloud Atlas, 2012):
Seis histórias ocorrem em épocas e países distintos, mas estão interligadas. No século XIX, Adam Ewing (Jim Sturgees) é um advogado enviado pela família para negociar a comprar de novos escravos. Ao retornar para casa, ele salva um escravo, Autua (David Gyasi), que muda toda sua vida. Em 1930, o jovem e talentoso compositor Robert Frobisher (Ben Whishaw) ajuda o também compositor, e já idoso, Vyvyan Ars (Jim Broadbent) a escrever sua obra-prima. Em 1970, a jornalista Luisa Rey (Halle Berry) conhece Rufus Sixmith (James d'Arcy) quando o elevador em que ambos estão quebra e acaba se envolvendo em uma trama nuclear de proporções apocalípticas. Nos dias atuais, Timothy Cavendish (Jim Broadbent) é dono de uma pequena editora, precisa se esconder de um autor violento e acaba preso em uma instituição psiquiátrica. Em uma Coréia do Sul futurista, Sonmi-451 (Donna Bae) é um clone que trabalha em um restaurante fast food. Ela foi programada para realizar todo dia as mesmas tarefas, sem manifestar qualquer reclamação, mas a situação muda quando outro clone acaba, sem querer, despertando-a sobre sua existência. Em um futuro pós-apocalíptico, conhecemos Zachry (Tom Hanks) e sua tribo que venera Sonmi como se fosse uma deusa. Sua vida muda quando a evoluída Meronym (Halle Berry) lhe pede para viver com sua tribo em troca de um favor.

Direto aos problemas, eu começo pelo título. Reza a lenda que o o nome "A viagem" foi dado porque acharam que tinha a ver com espiritismo e vidas anteriores e associaram o filme à antiga novela da Globo de mesmo nome. Acreditam? Pois é... na verdade, não existe encarnação, mas um maldito sinal de nascença em forma de cometa e o uso contínuo de atores em maquiagens distintas dão a entender que sim. Em alguns casos podemos até discutir algo como memória genética e por aí vai... Mas não! Não é sobre encarnação, mas sobre a repercussão dos atos que tomamos em vida! Confesso que não sei como traduzir o título, mas o que está não rola.

O segundo problema é a edição. Não há um porquê explícito nos cortes entre as histórias. De repente vamos do século XIX ao futuro pós-apocalíptico aos dias atuais em um piscar de olhos. Quase uma novela de Glória Perez... Às vezes até demoramos a nos dar conta do que estamos vendo. E isso é chato porque as histórias não são todas interessantes. Acho que 2 ou 3 te prendem e te fazem querer saber mais, como a história de Jim Broadbent como um editor preso em um hospital psiquiátrico. É leve, engraçada, romântica. A Coréia futurista lembra demais Matrix (1999) - que também foi dirigido pelos irmãos Wachowski - e nos intriga e nos envolve a cada cena (seria uma nostalgia ao original Matrix que desencadeou sequências medianas?). Podiam lançar um DVD onde poderíamos assistir cada história separadamente, na ordem que quiséssemos...

Por último, vem o objetivo. O filme começa em um lugar qualquer e vai pra lugar nenhum. Não estou falando de locações, mas de um motivo, um porquê, uma razão para aquilo tudo estar acontecendo. Ou seja, o filme acaba e é fácil você procurar uma razão para você estar ali vendo aquele filme.

Mas também não achei tão devastador assim. A maquiagem é interessante (mas não é essa cocada toda que estava sendo proclamada. Talvez merecesse uma indicação). Vale a pena esperar os créditos para ver como os atores se transformaram ao longo do filme. É um filme grandioso que vale o ingresso do cinema pelas imagens e sons. E só.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: O HOBBIT

O retorno à Terra Média é o filme de hoje. Falemos de O Hobbit: Um jornada inesperada (The hobbit: An unexpected journey, 2012). Vamos a história:
Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) vive uma vida pacata no condado, como a maioria dos hobbits. Um dia, aparece em sua porta o mago Gandalf, o cinzento (Ian McKellen), que lhe promete uma aventura como nunca antes vista. Na companhia de vários anões, Bilbo e Gandalf iniciam sua jornada pela Terra Média. Eles têm por objetivo libertar o reino de Erebor, conquistado há tempos pelo dragão Smaug e que antes pertencia aos anões. No meio do caminho encontram elfos, trolls e a criatura Gollum (Andy Serkis) com seu precioso - e já famoso - anel.
Impossível não se sentir em casa. Temos Frodo, Gandalf, Gollum, Saruman, Lorde Elrond, Galadriel... As paisagens são familiares e até mesmo os personagens desconhecidos nos passam uma sensação de deja-vu.

E isso é tão bom quanto ruim... porque o filme é chato! Já passamos pela longa trilogia do Senhor dos Anéis (Lord of the Rings, 2001, 2002 e 2003) e não somos apresentados a nada novo. São as mesmas correrias e batalhas lotadas, sendo que os efeitos especiais não parecem ter evoluído e é possível detectar alguns problemas de continuidade (fora os inúmeros clichês). E o pior é que Peter Jackson resolveu criar uma nova trilogia caça-níqueis que deixou esse filme sem um final e com partes alongadas que nem o fino livro considera! Devemos esperar ainda por Aragorn, Legolas, blá, blá, blá que não aparecem no livro!

Só Gollum salva! Mesmo um vilão, ele já havia conquistado o público e agora é facil você torcer por ele e vê-lo como vítima. Sua disputa com Bilbo é um dos poucos bons momentos do filme.

Apesar disso tudo, com certeza irei ao cinema para ver as continuações por mais chato que seja. E quero deixar aqui uma questão que me intriga desde a trilogia inicial: porque Gandalf não convoca as águias desde o início e encurta essas viagens longas e perigosas? Cara chato!

O filme está concorrendo à prêmios técnicos e tem chance de levar alguns, mas não merecia só por conta desse capitalismo exagerado que arruinou o potencial de um filme único (ou, no máximo, dois).

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: OS MISERÁVEIS

Hoje falo da adaptação da obra de Victor Hugo, Os Miseráveis (Les miserábles, 2012). O escritor contou a seguinte história:
Próximo a Revolução Francesa do século XIX, Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele recebe uma segunda chance de se redimir e se reinventar para fugir da perseguição do inspetor Javert (Russell Crowe). Seu caminho se cruza com o da desesperada Fantine (Anne Hathaway) e toda sua vida muda quando ele promete cuidar de sua filha, Cosette.

Tive a sorte (e o enorme prazer) de conhecer esta obra-prima através da montagem na Broadway. Dessa forma, tudo era familiar... mesmo assim... a emoção fluiu em cada música, cada momento, cada lembrança. Fico muito feliz de saber que ainda me arrepio com música e que ainda sou tocado pela arte. Isso me sublima.

Dito isto vamos às considerações. As reclamações ao filme são inúmeras, porque ele é totalmente musical, ou seja, sem quaisquer diálogos. Talvez os incautos não tenham entendido que o filme é uma adaptação do que foi feito na Broadway, e não ao livro, e por isso tenham saído injuriados.

Alguns que viram a magnânima peça também reclamaram da linguagem. Ora... são duas mídias diferentes! Claro que tinha que ser diferente! No teatro, temos acesso visual a tudo com destaque para a iluminação, ou seja, quando alguém canta você vê o ator inteiro e a parte do cenário que está iluminada. Quando temos dois ou mais cantores em cena, podemos ver tudo ou escolher o que ver e ouvir. No cinema, não: nós vemos o que o diretor quer. A saída de Tom Hooper foi dar um close nos atores em seus momentos musicais, como se fosse a iluminação do teatro que faz todo o foco ficar em cima deles. Em caso de cenas de ação, duetos ou mais cantores ficamos a mercê das decisões da direção (e às vezes ficamos sem saber quem está cantando. Mas não é assim no teatro?).

Isso é ruim, então? Acho que não. Isso dá aos atores um potencial dramático único. Hugh Jackman (que já ganhou prêmios como cantor da Broadway) consegue ficar irreconhecível e se distancia de seus papéis de galã de ação. Anne Hathaway só precisou de uma música (e que música! Que cena!) pra ser indicada a todos os prêmios do cinema americano e (se não me engano) levá-los pra casa. Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen (isso mesmo... o Borat!) dão o alívio cômico sem se perder na força dramática da história.

Não sei se o filme irá levar muito mais do que o prêmio de Anne Hathaway - e alguns prêmios técnicos -, porque esse filme é, na verdade, a música. Impossível não querer entrar para a resistência francesa com todos aqueles incríveis hinos (e com o esperto Gavroche) ou se apiedar da on-my-own Eponine. Até o fraco Russell Crowe (aliás... era ele mesmo cantando?) e a acima-do-tom Amanda Seyfried são salvos pela música.

Repetirei quantas vezes for necessário: a música é sublime e a arte é capaz de nos salvar de nós mesmo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: O LADO BOM DA VIDA

Hoje vamos saber mais sobre o ótimo O lado bom da vida (Silver linings playbook, 2012). Como de praxe, primeiro a história:
Por conta de algumas atitudes agressivas, Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu tudo na vida: sua casa, o emprego e o casamento. Depois de passar um tempo internado em um hospital psiquiátrico, ele retorna para a casa de seus pais, decidido a reconstruir sua vida, passando por cima do passado recente, até reconquistar a ex-esposa. Embora seu temperamento ainda inspire cuidados, um casal amigo o convida para jantar e ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem viúva também problemática. Ambos iniciam uma amizade que provoca mudanças significativas em seus planos futuros.
Adoro quando vou ao cinema sem quaisquer expectativas e saio supreendido! Avaliado como drama, o filme deveria ser classificado como tragicomédia romântica. É duro ver todo o cinema rindo - inclusive você! - das situações difíceis que os personagens passam. Parece quando rimos assim que alguém cai da cadeira... não deveria ser engraçado!

Neste filme percebemos que todo mundo tem problemas, mas são os considerados problemáticos que possuem a probabilidade de se tornarem pessoas melhores. Os "normais" vivem conformados em suas insatisfações, suas inseguranças e suas manias sem saber (nem se dar conta de) como sair disso.

E o filme ainda tem Jennifer Lawrence roubando TODAS as cenas! Mesmo quando ela está frente a frente com Robert De Niro! Aliás, a melhor cena é quando ela dobra o ator. Seu Oscar seria garantido se a concorrência não estivesse tão equilibrada, mas ela andou ganhando praticamente tudo que disputou, então, a chance é grande. De Niro e Cooper devem ficar felizes por suas indicações e só. Como o filme foi produzido pelos pelos papa-títulos dos irmãos Weinstein, tem gente apostando na vitória final. Se ganhar será ótimo, mas acho difícil porque existem algumas inconsistências e fortes concorrentes.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: DJANGO LIVRE

Hoje falarei sobre o faroeste de Tarantino, Django Livre (Django unchained, 2012). Primeiro, a história:
Django (Jamie Foxx) é um escravo liberto cujo passado brutal com seus antigos proprietários leva-o ao encontro do pouco ortodoxo Dr. King Schultz (Christoph Waltz). O alemão compra Django com a promessa de libertá-lo quando tiver capturado seus torturadores, vivos ou mortos. Missão completa, Schultz transforma Django em um caçador de recompensas, tendo como objetivo principal encontrar e resgatar Broomhilda (Kerry Washington), sua esposa, que ele não vê desde que ela foi adquirida por outros proprietários, há muitos anos. Sua busca os leva a Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), o dono de uma plantação famosa que treina os escravos locais para lutar. A partir daí, o cerco toma forma e são feitas escolhas entre independência e solidariedade, sacrifício e sobrevivência.

Antes de assistir esse filme, é preciso entender Tarantino, pois o filme tem todos os clichês do diretor. Quando vi a primeira parte de Kill Bill (Kill Bill: vol. 1, 2003) no cinema, eu ri horrores com todo o sangue esguichado porque sabia das homenagens que estavam sendo feitas. Mas depois de ver Bastardos Inglórios (Inglourious basterds, 2009) e Django, fica-se a certeza que Tarantino criou um "estilo" cinematográfico próprio: da vingança sanguinolenta (ou estaria ele ficando repetitivo? Será que devemos esperar uma vingança sanguinolenta em ficção científica espacial?).

Bom... o filme não é pra qualquer um. Nenhuma atuação consegue se destacar porque Tarantino é quem aparece. Ele é o filme. Aliás, um filme longo demais, mas que não poderia ser mais editado ou não seria Tarantino. Inclusive acho que Christoph Waltz deveria se afastar um tempo dele, porque, depois de ganhar o Oscar com seu excelente nazista, seu doutor (também alemão) caiu na mesmice.

Agora venho me retificar: apenas um ator aparece e ele se chama Samuel Jackson, o arroz de festa de Hollywood. Há alguns anos, Jackson decidiu participar de todos os filmes possíveis porque gosta de trabalhar. Assim entrou para os novos Guerra nas Estrelas (como o jedi Mace Windu) e para os filmes da Marvel (como o diretor Nick Fury), entre muito outros filmes que podem ter suas qualidades questionadas. Mas o talento do ator não. Seja protagonista ou coadjuvante, Jackson se entrega ao personagem da forma que o diretor pede: caricato e polêmico.

Pra mim, o filme sai de mãos vazias ou com prêmios técnicos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ao Oscar com: ARGO

No próximo domingo teremos a entrega do Oscar. Por essa razão, farei postagens rápidas sobre alguns filmes que estão na disputa de alguma categoria. Já falei sobre As Aventuras de Pi (The life od Pi, 2012), e hoje falarei sobre Argo (2012).

A história:
1979. O Irã está em ebulição, com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini e oasilo político que os EUA garantiram ao antigo xá opressor. Nas ruas de Teerã, diversos protestos contra os americanos. Um deles acontece em frente à embaixada do país, que acaba invadida, mas seis diplomatas americanos conseguem escapar do local e se refugiam na casa do embaixador canadense. Lá eles vivem durante meses, sob sigilo absoluto, enquanto a CIA busca um meio de retirá-los do país em segurança. A melhor opção é apresentada por Tony Mendez (Ben Affleck), um especialista em exfiltrações, que sugere que uma produção de Hollywood seja utilizada como fachada para a operação. Aproveitando o sucesso de filmes como "Guerra nas Estrelas" e "A Batalha do Planeta dos Macacos", a ideia é criar um filme falso, a ficção científica Argo, que usaria as paisagens desérticas do Irã como locação. O projeto segue adiante com a ajuda do produtor Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (John Goodman), que conhecem bem como funciona Hollywood.

Sinceramente fui esperando muito pouco do filme, pois confesso que não sou muito fã dessas reconstruções políticas internacionais (sou mais ficção e conspiração) e não acreditava na veracidade da história. No entanto, com um elenco excelente e uma direção superba de Ben Affleck, o filme me impressionou bastante. Em determinado momento do filme, a situação está tão tensa que não se ouvia respirações no cinema. Quando a situação se resolveu, foram inúmeros suspiros de alívio e pessoas se acomodando em suas cadeiras.

Andei lendo que a academia esnobou um pouco esse filme e não o indicou para prêmios importantes. Lamentável, pois mesmo não acreditando na veracidade da história, me interessei muito mais por esse filme do que por Lincoln (que deve ganhar tudo... afinal... é o "grande presidente americano" na telona). Porém, Argo e Ben Aflleck ganharam praticamente tudo que concorreram até agora! Dos competidores ao melhor filme, esse ganha o meu voto.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cores rotuladas

Toda cor tem um significado: vermelho é fogo; verde é natureza; o céu é azul; e assim vai. Enquanto algumas das associações são feitas diretamente pela visualização de objetos e fenômenos naturais, outras são criadas pela sociedade, como a psicologia das cores que nos diz que vermelho é paixão, branco é paz e laranja abre o apetite. É claro que isso vai gerando padrões visuais tão enraizados na cultura que fica até difícil de se perguntar porque essa cor representa isso e não aquilo? Por exemplo, se o planeta é 2/3 de água e ainda temos tudo envolto por céu azul, por que pensamos no verde para ecologia?

Como designer, as características das cores são de suma importância, pois alteram a percepção do que se cria. Veja um caso: conheço um profissional que fez uma embalagem de filme para microondas com as cores vermelha e amarela porque são cores quentes (esquentar comida) e juntas formam laranja (que abre o apetite). No entanto, o cliente queria usar o verde porque a embalagem era de papel reciclado. O profissional lutou contra isso porque não há nada ecológico em plástico de microondas e muito menos em papel reciclado*. Esse é apenas um caso entre vários que poderiam ser contados.

E uma coisa que sempre me intrigou são as cores formadores de gênero, ou seja, as masculinas e femininas. Por que meninos tem que usar azul e meninas tem que usar rosa - principalmente quando bebês? Pra mim isso sempre foi uma orientação (determinação) sexual velada da sociedade, mas nunca soube da origem disso, mesmo que tivesse alguns palpites. Agora finalmente consegui algum embasamento teórico! E antes de entrar nisso, vejam esse vídeo POR FAVOR! É rapidinho e dá pra ativar legendas em português.



É ou não é orientação velada?

Encarte de moda de 1928
Bom... a colunista Laila Razzo do Jornal Pequeno de São Luís parece ter feito uma extensa pesquisa sobre o assunto, inclusive descobrindo que antes era o contrário! Isso mesmo... meninos tinham que usar rosa e mulheres azul! Ela traz informações que eu não sabia, como a influência do Cristianismo na mudança das cores de gênero, tanto de antes (quando vermelho era uma cor masculina denominada aos cardeais e o azul destacava a pureza da Virgem Maria) quanto no atual (azul é a cor do céu que protegia os meninos por causa da sucessão familiar, enquanto o vermelho era a cor dos demônios e das mulheres tentadoras).

Laila também aborda o já conhecido papel do marketing (É recorrente a utilização de símbolos específicos pela mídia a fim de valorizar minorias, mesmo que em campo abstrato de ideias, dando-lhes identidade em força consumidora.) e das guerras mundiais (Nos primeiros estágios após a II Guerra Mundial, a população passou a ser bombardeada pela publicidade de um mercado que enxergou o potencial de direcionamento de seus anúncios por cores representativas de gênero).


Infelizmente o texto dela saiu do ar depois da reformulação do jornal, mas destaco aqui partes interessantes:
"(...) Revestido de um interesse único pela diferenciação dos nenéns e guris fêmea e macho, já que não dá pra dizer quem é o quê nessa época da vida (e como se importasse tanto), pintaram elas de rosa e eles de azul. O costume causa um desconforto danado quando se vê um bebê de macacãozinho amarelo, que gafe horrorosa chamar ele de ela ou ela de ele, tirando que a mãe ou o pai vão se sentir mortalmente ofendidos. Pior que nem dá pra disfarçar com um 'Qual é o nome?', porque ficar sem falar 'dele' ou 'dela' já aparenta uma coisificação do serzinho. Piora quando respondem um nome unissex. Quanto desconforto por um costumezinho 'inofensivo'!"

"O problema não é a cor, e sim os valores sociais que as embalagens, bonecas, panelinhas e pôneis transmitem nessa roupagem. O conceito vendido do que é ser mulher e também do que é ser homem, enraizados desde muito cedo no inconsciente."

"É certo que o ser humano desde muito jovem já procura se encaixar como parte de grupos, um dos primeiros é a orientação e divisão de gênero, principalmente por haver uma diferença explícita no que meninos e meninas são levados a entrar em contato. Com uma sociedade pautada na identidade pelo que se consome e a necessidade de pertencer e se conectar, pouquíssimos meninos e meninas passarão impunes de olhares reprovativos e provocação de seus iguais (após terem a noção dessa divisa de gêneros em objetos e brincadeiras – já foi observado que crianças são livres de pré-conceitos de gênero no início da infância), educadores e outros adultos por terem preferências de vestuário, brinquedos e cores não tradicionais e incomuns ao seu sexo, ou por seus pais assim escolherem educá-los."
O texto era muito bom. Pena que saiu do ar. Tem um outro no Portal da Família, que também oferece informações contextualizadoras interessantes.

Precisamos nos lembrar que um arco-íris é um belíssimo fenômeno ótico antes de nos preocuparmos com qualquer simbologia de gênero. Precisamos nos lembrar que é a sociedade que dá rótulos e não as cores.

* Papel reciclado simplesmente é mais danoso ao ambiente do que o papel comum porque precisa de um número enorme de produtos químicos para retirar as impurezas antes de virar um papel utilizável. O correto seria utilizar papel de madeira de reflorestamento.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem perdão, Malafaia!

No último domingo, o pastor Silas Malafaia (líder da igreja Assembléia de Deus - Vitória em Cristo) foi o entrevistado de Marília Gabriela no SBT. Para entender o que vou escrever a partir deste momento, sugiro que você veja a entrevista completa que está em 4 partes no site do programa (1 - 2 - 3 - 4). Em seguida, se tiver tempo, veja a resposta do geneticista Eli Vieira, rebatendo todos os argumentos e pesquisas "científicas" (com aspas mesmo) que o pastor citou.



Bom... não sabia se deveria continuar a dar Ibope para esse indivíduo, mas acho que o número de boçalidades proferidas com uma oratória agressiva (porém impressionante) é capaz de destruir a humanidade na base do ódio. Enxerguei um sucessor de Hitler...

Vestido de bicheiro, o pastor berra suas teorias a partir das suas próprias interpretações da Bíblia e se esquiva de perguntas contundentes. Grita em nome de Deus para colocar gays e assassinos no mesmo patamar (Eu amo os homossexuais como eu amo os bandidos) e urra sobre a possibilidade real de reorientação sexual por meio da religião. Acha horroroso o radicalismo islâmico, mas quer destruir os "safados" da revista Forbes nos EUA (Não tem dados que declarem que eu tenho R$ 300 milhões de reais. Meu patrimônio é de R$ 4 milhões, R$2 milhões são da minha editora).

Sobre a revista Forbes, até acho que Malafaia consegue uma boa defesa quando fala sobre sigilo fiscal. Mas é sabido que a revista faz uma estimativa das fortunas a partir de bens. No caso das igrejas, é possível que tenha sido feita uma estimativa do tão falado dízimo obrigatório. Mas fica feio quando ele usa as dificuldades familiares para justificar o dízimo. Quando é perguntado das recompensas que os fiéis tem, ele não diz quais são, mas nos deixa a pulga atrás da orelha: "quem fica pagando por 30, 40 anos por algo que não dá retorno? Deus trabalha com uma lei de recompensa.". Tá... verdade... mas e o discurso que se não pagar não vai ser feliz, não vai subir aos céus, a família vai acabar, etc etc etc. É na base da ameaça?

Então, quando entrou no assunto da homossexualidade, ele fica possuído. Diria até que ele deveria ir para um sessão de descarrego pra tirar o demônio do corpo. Cita pesquisas sem autoria, ignora a História da humanidade (mas crê no Dilúvio e na destruíção de Sodoma e Gomorra), impõe sua questionável autoridade de psicólogo e teólogo e acaba agindo como um fundamentalista (não um idealista, como ele tenta deixar claro). Ele consegue se esquivar, mas ainda deixa no ar uma preferência por um criança largada na rua do que a adoção por pais/mães homossexuais. Marília Gabriela tenta dizer que ele deveria ter cuidado com suas palavras porque ele é capaz de gerar um discurso de ódio, mas ele se apóia em um amor de Deus e numa Bíblia interpretada por ele.

Nesse ponto, sugiro que você veja o vídeo do deputado federal Jean Wyllis combatendo o discurso do pastor. O vídeo é bem anterior aos últimos eventos, mas é importante, pois o deputado termina seu discurso questionando a interpretação da Bíblia para benefício próprio.



Você viu que o deputado também fala sobre a evolução da sociedade (em casos como escravidão e atuação feminina), mas o pastor não crê na evolução humana. Para ele, "o que muda é a tecnologia, o homem é a mesma coisa". Ele diz que a evolução das espécies é só uma teoria porque não pode ser observada... Se você viu o vídeo do geneticista ou estudou biologia em qulquer escola, sabe que não há nada mais a falar sobre as teorias criacionistas. Mas o que me impressiona é um homem que se diz tão estudado, psicólogo, pioneiro em teologia e o escabau a quatro ser capaz de citar inúmeras pesquisas ditas científicas e não acreditar na ciência da evolução. Assim como escolhe o que usar na Bíblia, ele escolhe o que ler sobre ciência.

No meio de seu discurso, Jean Willys diz que a favor da liberdade de crença religiosa e, portanto, acredita que todos tem o direito de acreditar (ou não acreditar) no que quiserem. Por essa razão, temos que respeitar a crença desse pastor e de seus fiéis acerebrados que desrespeitam a própria cultura. No entanto, eu não vou respeitar um discurso de ódio embasado em religião. Religão é uma coisa do homem e não de Deus. A Bíblia é um livro escrito por homens e não por Deus. Se a religião prega o ódio é um problema do homem e não de Deus. Não há Deus, seja qual for a crença, que pregue o ódio.

Ainda bem que, no fim, Marília fechou com chave de ouro. Depois que o pastor desejou que "esse Deus que eu creio se revele cada vez mais a você", a jornalista não pestanejou e retrucou: "que o meu Deus, que eu não sei se é o mesmo que o seu, te perdoe".

Eu não o perdôo. E, se eu acreditasse no Deus dele, tenho certeza de que ele iria para o inferno.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sprinklers... hã?

Preferi não tecer comentários aqui no blog sobre a tragédia de Santa Maria, porque o mundo todo só fala nisso: das 24 horas antes de cada vítima até os estabelecimentos fechados porque só agora resolveram fiscalizar. Já começou à caça às bruxas, sejam os donos da boate, a banda, a prefeitura que liberou o alvará ou até mesmo os bombeiros que não fiscalizaram antes da maneira correta. Mas foi o conjunto de todos esses fatores que resultaram na tragédia.

No entanto, algo me surgiu à cabeça. Falou se tanto em casa lotada, espuma acústica inflamável, extintores que não funcionaram... mas e os sprinklers? Fiquei achando até que ia ter uma daquelas chamadas do Globo Repórter com a voz de Chapelen:
Sprinklers: o que é? Como funciona? Tem no seu prédio? Tem na sua academia? Tem na boate? De onde vem a água? Bombeiros explicam tudo o que você queria saber sobre sprinklers nesta sexta, no Globo Repórter...
Confesso que comecei a procurá-los em restaurantes e academias e nada... Comece a procurá-los e você ficará tenso. Mas você sabia que existe o Instituto Sprinkler do Brasil, uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação de informações relativas ao combate a incêndios por meio da utilização de chuveiros automáticos?


Então (pra quem não sabe), o ISB diz que o sprinkler
é um chuveiro automático capaz de controlar ou suprimir um incêndio antes que ele se espalhe, por meio da distribuição de um jato de água que atua sobre o foco inicial do fogo. É ativado por meio de um elemento termo-sensível que, quando atinge a temperatura de operação (de 68˚C a 74˚C, dependendo do sistema), rompe-se, permitindo que o sprinkler se abra. Nesse momento, sob pressão, a água é descarregada pelo orifício do sprinkler, espalhando-se em formato de guarda-chuva sobre o fogo.

Um sistema de sprinkler faz soar um alarme sempre que a água é descarregada por um ou mais sprinklers. O alarme local – a campainha fora do edifício – soa, alertando a todos na área da liberação de água. Ao mesmo tempo, um alarme também poderá soar em uma central remota de monitoramento ou supervisão. Ao ouvirem o alarme ou descobrirem o fogo, as pessoas presentes no edifício devem telefonar para a brigada local de combate a incêndio. Mas terão a segurança de que o sistema de sprinkler já estará acionado para o controle e até a supressão do fogo, minimizando as perdas e facilitando o trabalho dos bombeiros.

O sistema de sprinklers inicia o combate ao incêndio sem a necessidade da ação humana. Outros meios, como extintores e mangueiras, obviamente pressupõem a ação de pessoas. Como o fogo provoca altas temperaturas em pouquíssimo tempo, gerando densa fumaça e acabando com o oxigênio, a ação humana no controle do incêndio é prejudicada. Em um edifício sem sprinklers, o fogo facilmente fica descontrolado e quando os bombeiros chegam, têm dificuldade de combatê-lo – muitas vezes não evitando perdas irreparáveis.
Acho que fica bem claro o recado que eu quero passar aqui. No filme Constantine (2005), os sprinklers são utilizados com água benta para destruir demônios... ou seja... brincadeiras ficcionais a parte, vale a pena gastar um pouco mais com a segurança, não?