Outro dia cometi a (talvez) heresia de falar que não gosto de Woody Allen. Nem de Paris. Agora cometerei um ato de blasfêmia:
eu não gosto do Batman.
Sei que corro o risco de sofrer ataques virtuais (e reais) por causa disso, mas eu gosto de super-heróis lúdicos, que tem poderes inverossímeis e me tiram da (às vezes) desagradável realidade. Um homem que usa os punhos e o cérebro pra lutar não pode vencer um super-homem. E isso é chato. Fica forçado quando acontece e histórias de superação são melhores quando são
olímpicas. Dito isso... tento me redimir dizendo que coleciono todas as revistas do Batman e vi todos os filmes dele no cinema... inclusive o psicodélico
Batman & Robin (1997) com George Clooney numa roupa com mamilos.
Então, não posso negar a importância desta nova trilogia do super-herói mais real e urbano possível criado pelo genial
Christopher Nolan. Realmente passou a existir um "antes e depois" de seus filmes, principalmente com a atuação pertubadora e inigualável (desculpe-me, Jack Nicholson) do falecido e oscarizado Heath Ledger como o Coringa. O diretor construiu uma saga relevante para o cinema mundial, carente de bons filmes em todos os gêneros. O primeiro filme é uma excelente reintrodução do herói, preparando o terreno para o que poderia vir. O segundo filme é o ápice com o já citado Coringa e os embates psicológicos travados ao longo da película.
No entanto... (que venham as pedradas)...
Batman: O Cavaleiro das Trevas ressurge (
The Dark Knight rises, 2012), o terceiro filme, é ARRASTADO! Sei que as críticas são todas maravilhosas e tal... mas são 2h30 de subtramas e amarração de pontas, criando outras novas subtramas e só 15 minutos de um final interessante. Olhei no relógio umas quatro vezes!
Na história, Batman é obrigado a voltar à ativa após 8 anos de paz em Gotham City, esta alcançada graças a uma grande mentira que amarra a obra: Harvey Dent, o Duas-Caras. Ele descobre uma enorme conspiração - orquestrada por Bane e a Liga das Sombras (do primeiro filme) - que já está acontecendo há tanto tempo que é quase impossível impedir. Eu disse: quase.
Não estou discutindo a grandiosidade do filme, com explosões, exércitos e armas em altos números que dispensam (amén!) o 3D. Estou falando:
- Do motivo fraco do filme acontecer (uma cidade precisa ser destruída para TODA a civilização ocidental prosperar? Tipo... hã?).
- Da identidade do Batman ser tão óbvia pra alguns e tão impossível para outros.
- Do vilão Bane tentar ter a voz do Darth Vader, sem um pingo do carisma.
- Dos novos personagens em sua maioria rasos (alguém entendeu o Matthew Modine?).
- De colunas que quebram e consertam num piscar de olhos.
- De um Espantalho imortal.
Tirando as presenças indiscutíveis de Morgan Freeman e Michael Caine (que dá um show e pode até fazer alguns incautos verterem lágrimas), temos somente uma Anne Hathaway que segura a peteca com sua Selina Kyle que não é uma Mulher-Gato, um Hans Zimmer sempre excelente em suas trilhas e uma
batmoto ainda melhor. O resto fica nas mãos do diretor. Ele sabe trabalhar bem as questões que permeiam o heroismo e vilanismo neste filme. As relações entre pais e filhos também são investigadas a fundo, assim como, a forma que você leva sua vida: por ações verdadeiras ou discursos infundados. E apesar do tempo demasiado que ele leva pra contar a história, ele SABE como contá-la.
Você precisa ver os filmes anteriores, mas sairá do cinema tendo certeza de que não precisava deste. Eu daria uma nota
6,5, que daria pra passar direto porque a média dos outros filmes foi muito boa.
Apesar das minhas críticas, o personagem ressurgiu cinematograficamente e melhorou o que vemos por aí. Aguardemos o reboot... porque se o
Homem-Aranha pode...