Hoje falo da adaptação da obra de Victor Hugo,
Os Miseráveis (
Les miserábles, 2012). O escritor contou a seguinte história:
Próximo a Revolução Francesa do século XIX, Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele recebe uma segunda chance de se redimir e se reinventar para fugir da perseguição do inspetor Javert (Russell Crowe). Seu caminho se cruza com o da desesperada Fantine (Anne Hathaway) e toda sua vida muda quando ele promete cuidar de sua filha, Cosette.
Tive a sorte (e o enorme prazer) de conhecer esta obra-prima através da montagem na Broadway. Dessa forma, tudo era familiar... mesmo assim... a emoção fluiu em cada música, cada momento, cada lembrança. Fico muito feliz de saber que ainda me arrepio com música e que ainda sou tocado pela arte. Isso me sublima.
Dito isto vamos às considerações. As reclamações ao filme são inúmeras, porque ele é totalmente musical, ou seja, sem quaisquer diálogos. Talvez os incautos não tenham entendido que o filme é uma adaptação do que foi feito na Broadway, e não ao livro, e por isso tenham saído injuriados.
Alguns que viram a magnânima peça também reclamaram da linguagem. Ora... são duas mídias diferentes! Claro que tinha que ser diferente! No teatro, temos acesso visual a tudo com destaque para a iluminação, ou seja, quando alguém canta você vê o ator inteiro e a parte do cenário que está iluminada. Quando temos dois ou mais cantores em cena, podemos ver tudo ou escolher o que ver e ouvir. No cinema, não: nós vemos o que o diretor quer. A saída de Tom Hooper foi dar um close nos atores em seus momentos musicais, como se fosse a iluminação do teatro que faz todo o foco ficar em cima deles. Em caso de cenas de ação, duetos ou mais cantores ficamos a mercê das decisões da direção (e às vezes ficamos sem saber quem está cantando. Mas não é assim no teatro?).
Isso é ruim, então? Acho que não. Isso dá aos atores um potencial dramático único. Hugh Jackman (que já ganhou prêmios como cantor da Broadway) consegue ficar irreconhecível e se distancia de seus papéis de galã de ação. Anne Hathaway só precisou de uma música (e que música! Que cena!) pra ser indicada a todos os prêmios do cinema americano e (se não me engano) levá-los pra casa. Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen (isso mesmo... o Borat!) dão o alívio cômico sem se perder na força dramática da história.
Não sei se o filme irá levar muito mais do que o prêmio de Anne Hathaway - e alguns prêmios técnicos -, porque esse filme é, na verdade,
a música. Impossível não querer entrar para a resistência francesa com todos aqueles incríveis hinos (e com o esperto Gavroche) ou se apiedar da
on-my-own Eponine. Até o fraco Russell Crowe (aliás... era ele mesmo cantando?) e a acima-do-tom Amanda Seyfried são salvos pela música.
Repetirei quantas vezes for necessário:
a música é sublime e a arte é capaz de nos salvar de nós mesmo.