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sexta-feira, 25 de março de 2016

Arte ao Lado 2 - A missão

De agosto a outubro do ano passado, postei semanalmente um texto que criei a partir de três perguntas (o quê? como? por quê?) feitas para amigos, familiares e conhecidos envolvidos de alguma forma com a Arte. Fiquei louco e maravilhado com as respostas que recebi, mas percebi que não era fácil de conseguir. Eu estava, na verdade, pedindo que os artistas penetrassem em si mesmos e encontrassem a essência de suas artes. E essa dificuldade acabou por encerrar o projeto antes do tempo que eu tinha planejado.

Só que de repente... um texto que pedi em julho de 2015 aparece para mim em fevereiro deste ano. Imediatamente toda a energia e empolgação voltaram! Comecei a disparar as perguntas, buscando os novos artistas da segunda fase do projeto Arte ao Lado, e... novamente os obstáculos apareceram.

Então, vou fazer uma mudança: ao invés de semanal, farei mensal. Acho que vou ter que encher alguns sacos, mas tentarei colocar um artista novo todo dia 1º; Essa é a missão: apresentar um processo criativo e uma visão artística de alguém próximo a mim pra estimulá-los a procurar ao lado de vocês.

sábado, 31 de outubro de 2015

Arte ao Lado: Sempre!

Quando você passa a se interessar e até mesmo estudar a Arte, você passa a ver não só a questão estética, mas também busca o contexto e as intenções por trás das obras. Conhecer os processos criativos e perceber que você está gerando reflexões é deveras instigante e empolgante. Só não imaginava o quão rico seria ao iniciar o projeto Arte ao Lado em julho deste ano.

De início, achei que seria somente uma exposição e apresentação dos trabalhos de pessoas do meu cotidiano que são verdadeiros artistas, mas me vi pedindo a eles que questionassem quem eles são! Quão complexo é isso!? Talvez por essa razão (e algumas outras), somente 1/3 da minha lista de participantes encarou o desafio...

Foram 10 incríveis passeios pelas mentes criativas de Fernando, Letícia, Felipe, Mariana, Beatriz, Fabio, Alcemar, Reinaldo, Katia e Sidney, que nos levaram da fotografia à dança, do bolo ao vidro, da colagem à cirurgia, do design à ilustração. Eu não tenho palavras para agradecê-los por isso.

Porém, agora decreto o fim do projeto. Não sei se em definitivo porque foi bom demais fazê-lo. Só acho que preciso de mais tempo, uma vez que o olhar para o lado pede um olhar para dentro. Até já!

sábado, 24 de outubro de 2015

Arte ao Lado: Sidney Chagas

Todas as crianças no mundo desenham e rabiscam desde muito pequenas. Mas pra onde será que vai essa habilidade? O que é feito no meio da criação/educação que as crianças perdem a vontade de se expressar graficamente? Essa é apenas uma das reflexões que passaram pela minha cabeça quando li as respostas do designer Sidney Chagas.

Pra ele, quando crianças, ninguém julga seus próprios desenhos como ruins. As pessoas crescem e começam a se comparar umas às outras, e tudo que não se adequa ao conceito de correto ou bonito é classificado como ruim. Às vezes as próprias pessoas decidem que seus desenhos não são bons o suficiente e desistem de continuar à desenhar.


Quando ingressou na faculdade de design, Sidney aprendeu que o conceito de ilustração sugere que a mesma acompanhe um texto, um conceito ou um produto com o propósito de complementar, o que acontece frequentemente em seu trabalho como designer. A profissão “ilustrador“ lhe pareceu agregar propósito demais ao desenho e isso tirava um pouco da magia que essa atividade representava pra ele:
Tive a impressão de que o desenho desenhado era um pedaço de mim que se mostrava bem pequeno em relação ao mundo de tipos, regras e planejamento que me eram apresentados.
Isso o incomoda muito, ao ponto de ter tido grande dificuldade de responder as perguntas deste projeto (“Foi um parto de mim mesmo!”). Sidney questionou-se sobre como iria escrever sobre algo tão livre como arte se sua criatividade tem ficado cada vez mais condicionada ao trabalho:
Tem aquela criatividade já forjada pro trabalho, sabe? Te pedem uma coisa e você produz. Produto puro, TEM que vender, TEM que ser bom, o cliente TEM que gostar. Isso afeta demais quando se quer simplesmente desenhar. Chego em casa e não tenho mais aquele desejo...
Agora ele busca se sentir criança novamente, retomando o desenho sem expectativas no final, sem razões concretas, sem responsabilidades de parecer correto. Não quer mais desenhar somente para complementar algo ou ter uma explicação necessária. Sabe que tem nas mãos uma ferramenta de moldar o mundo ao seu redor (“Desenho quando não quero estar preso à regras, ou quando quero quebrá-las”) e, seja de forma analógica ou digital, entende que as técnicas se tornam inúteis sem uma inspiração. E ao falar disso, Sidney relembra a magia do desenho:
É comum eu querer criar algo e passar horas com uma folha de papel em branco na minha frente pois nem sempre a criatura obedece ao seu criador. Geralmente extraio inspiração de pessoas peculiares que vejo na rua, de personagens e personalidades que admiro. Se algo que vejo gera uma reação forte o bastante pra que eu fique pensando naquilo por um certo período, isso geralmente me motiva a desenhar e, ao fazê-lo, tento recaptar aquela sensação. O desenho pode vir também pela simples vontade de desenhar, como um chamado, se eu quiser colocar “poeticamente”. Eu desenho porque é uma das poucas coisas em que se tem total liberdade pra se fazer.

Esse chamado poético é o Chamado da Arte. Fez Sidney sofrer ao se dar conta que sua forma de expressão, sua liberdade, está sendo tomada pelo cotidiano voraz capaz de eliminar o ato de desenhar da vida das pessoas. Mas foi essa angústia (que emergiu ao ter se deparado ironicamente com uma folha branca na sua frente) que o motivou a retomar o caminho de sua vocação.


Apesar do sobrenome em comum, não somos da mesma família, mas carinhosamente nos chamamos de “primos”. Ele foi estagiário de design no Museu da República quando eu trabalhava lá. Ambos estudamos na ESDI (em momentos distintos) e me lembro de termos rapidamente conseguido uma conexão profissional (suas ilustrações já me impressionavam e salvaram vários momentos de falta de criatividade!). Aos poucos a ligação se tornou pessoal e vivíamos ouvindo músicas no rádio (odiando a “Hora do Blush”). Mesmo com nossa separação profissional e o intercâmbio para a Alemanha que o fez morar lá, mantivemos contato pelas redes sociais e hoje estabelecemos novos vínculos. Espero que esse projeto reanime sua Arte.

sábado, 17 de outubro de 2015

Arte ao Lado: Katia Politzer

Ao longo do projeto, comecei a perceber que as três perguntas feitas para os artistas gerariam reflexões profundas. Seria preciso que eles debruçassem sobre si mesmos e suas produções em busca de significado. Katia Politzer está passando exatamente por esse momento de análise de seus trabalhos para entender as relações deles consigo e com o mundo. Graduada pela Escola de Belas Artes da UFRJ, com cursos, exposições e prêmios nacionais e internacionais no currículo, hoje ela se considera uma artista visual que, depois de experimentar diversos materiais, se apaixonou pelo vidro como componente primário de uma linguagem que relaciona forma e textura e luz através de transparência, brilho e cor.

Tatuagem
Sendo um material inerte e 100% reciclável que é tão longevo quanto frágil, o vidro se torna um desafio técnico. Katia usa a técnica de fusão para a criação de peças tanto figurativas quanto abstratas baseadas nos padrões geométricos do grafismo indígena brasileiro, em elementos típicos de sua cultura, em nossa flora tropical e nas paisagens do Rio de Janeiro. Ela corta, fura, esmalta e até “costura” com fio de aço suas obras em vidro, que utilizam padrões da estética primitiva que são parte intrínseca de objetos e pinturas corporais sem o caráter de arte ocidental. A matéria-prima que não pertence ao repertório indígena deseja desvincular o elemento gráfico e seu significado do objeto de origem, transformando-o em linguagem de arte.

Kayabi
Cocar
Luminária

Cestaria
Durante anos lecionou arte para crianças e adolescentes. Foi onde (felizmente) cruzamos nossos caminhos. Sua delicadeza e generosidade se estendem à sua obra: o material considerado frágil é capaz de demonstrar força, durabilidade, beleza e transparência - características que fazem parte de sua personalidade. É como se ela e o vidro fossem alma gêmeas: o que, aliás, todo o artista deve ser com sua arte.

sábado, 10 de outubro de 2015

Arte ao Lado: Reinaldo Smoleanschi

Reinaldo Smoleanschi trabalha na área comercial, buscando clientes que queiram imagens de seus produtos para comercializá-los. Descrito dessa forma, você pode imaginar uma série de profissões administrativas, mas Reinaldo é fotógrafo, um daqueles que encara seu trabalho como um desafio:
“Fotografar uma peça do Philippe Starck é relativamente fácil. Difícil é tornar um parafuso interessante em uma página de uma revista especializada em parafusos”.
Cliente: Celma Turbinas

O olhar de um fotógrafo costuma ser a linha que separa amadores de profissionais e, no caso de Reinaldo, ele se junta a uma mente ágil que imediatamente enxerga a relação entre objeto e espaço e as possibilidades que a luz oferece em diversos ângulos. Buscando mesclar tecnologia e arte para ressaltar as qualidades de qualquer elemento, não descansa até conseguir transpor o que imaginou para a câmera e, posteriormente, na tela do computador (“a sensação de realização é grande e forte”).

Cliente: Joyá.
Cliente: Livraria Rio Antigo.

Reinaldo se considera oficialmente fotógrafo desde 1988, quando entrou para a Neri Bloomfield School of Design em Haifa, Israel. Seja visitando exposições ou simplesmente analisando o mercado de trabalho, é capaz de ficar um bom tempo conversando sobre fotografia. Hoje se sente um privilegiado por ainda conseguir viver da sua arte:
“Através dela viajei, conheci pessoas interessantes, estive nos bastidores de grandes produções e até nas situações que poderiam ser consideradas as mais chatas, encontrei elementos novos e desconhecidos que tornaram os trabalhos mais excitantes”.
Jogos Panamericanos Rio 2007.
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Conheci Reinaldo em 2001 numa pelada: eu, lateral esquerdo; ele, direito. Entre os amigos do futebol de fim de semana, nunca faltaram as piadas sobre seu nariz judeu ou sua semelhança com o ator Robin Williams. Sabia que era fotógrafo, mas nunca tive a oportunidade de ver seu trabalho até a chegada do Facebook. Nem sabia que ele tinha tanto prazer em viver a fotografia.

sábado, 3 de outubro de 2015

Arte ao Lado: Alcemar Maia

Qual a matéria que se esculpe? Barro, mármore, pedra, madeira… e por que não o corpo humano?

A cirurgia plástica é um procedimento médico que muda a forma corporal, seja por razões reparadoras (lesões deformantes, reconstruções por doença ou acidentes, defeitos congênitos etc.) ou estéticas (“orelha de abano”, ginecomastia, mamoplastia, lipoaspiração etc.). É na plasticidade que a cirurgia encontra a arte.

Imagens meramente ilustrativas retiradas do site da
SociedadeBrasileira de Cirurgia Plástica.
Alcemar achou por bem não mostrar fotos de
pacientes, garantindo a privacidade individual.

Alcemar Maia é um cirurgião plástico dedicado, que utiliza todos os conhecimentos técnicos que adquiriu em mais de 25 anos de experiência em sua atividade profissional, buscando, acima de tudo, a segurança de seus pacientes. Assim como artistas mais do que conhecidos, ele trabalha sob demanda, ou seja, a partir do desejo do cliente/paciente. E isso o provoca artisticamente. Conseguir realizar a utopia de uma pessoa é um desafio e tanto: mais do que restabelecer a beleza física, este tipo de intervenção molda um novo ser psicológico. Os padrões estéticos existem e são extremamente rigorosos, mas Alcemar prefere olhar para as possibilidades que existem na sua frente. A harmonia nos contornos corporais de cada indivíduo e suas particularidades dentro da beleza do conjunto são sua inspiração artística.

Parceiro de trabalho e da vida, sei que Alcemar não tem essa visão somente para o corpo humano. Extremamente habilidoso, é também costureiro, designer de móveis, arquiteto, marceneiro, decorador e sei lá mais o quê ele é capaz de fazer. É como se sua expressão artística transbordasse em tudo que toca. (EAV)

sábado, 26 de setembro de 2015

Arte ao Lado: Fabio Lopez

Hoje a proposta é um pouco diferente. Quem acompanha este projeto, sabe que tenho feito três perguntas para pessoas próximas a mim que estão ligadas a alguma forma de arte. Só que com o Fabio Lopez tive que mudar por duas razões: (1) já escrevi tanto sobre ele aqui que já tem até um marcador só pra ele; (2) ele estava imerso há mais de um ano num puta projeto que saiu essa semana, o miniRio.

O Rio em pictogramas. (clique para aumentar)
Tudo organizado! Nada aleatório! (clique para aumentar)
Amante de tipografias, Fabio criou duas famílias para o projeto. (clique para aumentar)

O projeto começou como uma catalogação de linguagem, ícones, locais, coisas e experiências tipicamente cariocas e se tornou uma extensa coleção de pictogramas que homenageiam e representam visualmente os patrimônios culturais materiais, imateriais e afetivos percebidos pelos próprios cariocas em sua cidade do Rio de Janeiro. Não preciso explicar muito porque o site do projeto está minucioso.



Perceba que o vídeo acima já dá algumas respostas do que eu teria pedido a ele. Sua inquietação e olhar crítico aguçado se unem a uma incrível qualidade técnica para mais um resultado maravilhoso. Mais um porque ele é "pai" do Bando Imobiliário, do War in Rio, do Batalha na Vala, do Homem de Neandertype e da marca do Centro Carioca de Design. Também participou da criação da marca dos Jogos Olímpicos no Rio, fez selo natalino e brincou de melhorar o brasão da República brasileira, além de muito mais que vocês podem encontrar no marcador dele aqui no blog ou no site do projeto.

Percebeu o poço de criatividade? No vídeo ele fala: "não gostaria de passar o resto da vida fazendo isso". Claro que não! Um inquieto como ele não pode parar mesmo! Nós não queremos também! Inspirador! Quero que meus alunos tenham essa inquietude.

PS.: Normalmente eu faço um último parágrafo explicando meu vínculo com o artista em questão, mas - como esse caso é diferente - eu já tinha uma postagem de 2009 sobre ele aqui. ;) Repetindo da época: obrigado por existir, Fabio.

sábado, 19 de setembro de 2015

Arte ao Lado: Beatriz Dreux


“Por que eu faço? Olha… eu vou ser bem sincera e admitir que, às vezes, eu não sei porque eu faço. Eu sei mais porque eu NÃO deixaria de fazer, que é simplesmente porque eu não consigo não fazer. Meu corpo sente falta, minha cabeça sente falta. Nem agora, que teoricamente eu estaria de férias, consigo ficar parada. Acho que tudo isso significa que eu amo muito o que eu faço. Às vezes, cansa, dói, é difícil… mas a realização de subir no palco e mostrar pras pessoas o quanto eu amo o que faço é incrível. E mais incrível ainda é chegar no final de um show e ver todo mundo te aplaudindo. É aí que você percebe que todo aquele cansaço e aquela dor não foram à toa e tudo valeu a pena”.
Beatriz Dreux já não dança mais somente com o corpo, pois sua alma se expressa em cada movimento que faz. Sua resposta acima é a epítome do que move um artista: saber que a arte está intrínseca a ela mesma, que é sua raison d’etre. Ela também nos revela que seu dia-a-dia não é fácil, pois, em muitos momentos, a arte a leva além dos seus próprios limites físicos e mentais. Mas a perseverança de Beatriz já podia ser vista em seus rompantes de teimosia na sala de aula. Durante o ano e meio em que fui seu professor, tivemos vários embates. Eu, com pouca experiência, queria dobrar a “rebeldia adolescente”, mas, na verdade, não estava totalmente ciente do foco e da direção que ela estava tomando.

(Fotos: Lucas Campêlo)

(Foto: Lucas Campêlo)
Nas aulas de Projeto Final - quando Beatriz pode me mostrar uma pequena parte do seu amor pela dança ao fazer um livro sobre o Centro de Artes Nós da Dança (CAND) -, comecei a vislumbrar sua relação com a arte. Acompanhei até hematomas e uma internação! Agora ela me conta que, em 2013, teve aulas e competiu no Seminário Internacional de Dança de Brasília, onde também fez audição para Lamondance, um programa de treinamento pré-profissional para bailarinos em Vancouver, no Canadá.

Passou, é claro.

Coreografia de Davi Rodrigues (Fotos: Yvonne Chew)

Professores da companhia e também alguns convidados dão 16 horas de aulas/ensaios por semana entre dança moderna/contemporânea, ballet, improviso e condicionamento físico. De setembro a junho, são realizadas pequenas apresentações pela cidade e, no fim da temporada, acontecem dois dias de show da companhia. Alguém duvida do quanto ela está gostando de tudo isso?

Coreografia de Monica Proença, medalha de ouro no Surrey Festival of Dance and Dancepower.
Trailer de River of january, coreografia de Monica Proença para a Lamondance.

Fica bem óbvio que fazer o que ama é uma das receitas para a felicidade plena.

sábado, 12 de setembro de 2015

Arte ao Lado: Mari Leal

“O que é arte?” é uma pergunta que nem passa na minha cabeça querer responder. Suas tênues linhas com o artesanato tornam ainda mais complexa a questão. No entanto, não é nada de difícil olhar o trabalho de Mariana Leal e chamar de arte.

Não me pergunte como ela fez esse bolo de cabeça pra baixo. S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!

Como você percebeu, Mariana faz bolos modelados em pasta americana, personalizando-os de acordo com o tema encomendado (quase impossível escolher as fotos!). Ela me contou que leva em torno de dois dias: no primeiro, realiza a parte de confeitaria (assar, preparar recheios, rechear, prensar, preparar o bolo para receber a pasta americana… e você sabia que tinha isso tudo? Pois é… nem eu!) e, em seguida, começa a parte artística (cobrir o bolo com pasta americana, desenvolver as modelagens e finalizar). Mas essa é a - literal - mão na massa! O trabalho começa no minuto que chega um pedido.


Ela diz que muitos clientes chegam com ideias fechadas e imagens para cópia, acompanhadas da frase “quero igual”. Porém, Mariana não imita trabalhos dos outros (nem mesmo o próprio!) e deixa claro que vai se inspirar no que foi apresentado para criar um bolo original. Até agora: satisfação garantida. E, quando ela ouve “faz do jeito que você quiser”, aí a criatividade se esbalda em diversão. Ah… esqueci de falar o primordial: os sabores e as texturas são ótimos! Nada de bolo seco sem graça! Gente… o cupcake de churros é de fazer vergonha e enfiar tudo na boca!


Mariana era (e ainda é!) a menina bonita da escola. Eu estudava de manhã e ela à tarde e, mesmo assim, sua beleza era lendária! E não pensem que era só isso, porque a bela virou advogada. Os bolos eram hobby, mas a excelente qualidade do resultado transformou a brincadeira em trabalho (“vivo deles e para eles”) e a carreira no Direito ficou pra escanteio. Ela diz que, apesar de ter sido uma difícil decisão, hoje ela tem a qualidade de vida que queria para cuidar da família que construiu com meu melhor amigo de infância!

sábado, 5 de setembro de 2015

Arte ao Lado: Felipe Zúñiga

Felipe Zúniga é filho de Luiz Alberto Zúniga (pra sempre aquele abraço sinestésico) e Cíntia Kury. Eu poderia escrever parágrafos de elogios aos meus dois mestres eficientes, geniais, simples, doces, acolhedores… ih comecei… mas não. Agora é hora de falar da maior criação dos dois, desse artista visual que meio que vi crescer à distância (papo de tia velha).

Ao convidar amigos, conhecidos e familiares para este meu projeto, fiz três perguntas que seriam o norte para um texto escrito por mim. Já de cara recebi o seguinte do Felipe:
“O processo criativo é um assunto deveras cabeludo, mas não é imune a eventuais cortes na barba e vez ou outra sintetizar a coisa. Vou sentar com as tuas indagações e bancar o Louco do tarô. ‘O que você faz?’ imediatamente me lembrou de uma colocação do Faulkner: An artist is a creature driven by demons. He doesn't know why they choose him and he's usually too busy to wonder why. Abraço venusiano”
Percebi que coisa boa viria por aí. E, quando recebi as respostas, vi que não poderia editá-las. Algo genial se perderia no caminho. Portanto, colocarei-as aqui na íntegra e aconselho que sejam lidas em sua totalidade:
O que você faz?
Antes de homo faber, de artífice, eu sou aquele que testemunha, o observador. Todo artista é em essência um observador e um interprete do que captou. Cabe ai a ideia de canal também, de antena parabólica para tudo que acontece por ai, em todos os níveis. Alguns dramatizam aquilo que lhes afeta – ou a palavrinha odiosa ‘problematiza’. Eu estou a serviço da egrégora da arte através das minhas criações. O que eu faço é ousar enxergar o invisível, ir além, materializar o espirito ou espiritualizar a matéria.
Hits of sunshine. Nanquim, ecoline, papel de origami, colagem sobre papel.
Como você faz?
Miles Davis. Técnica mista sobre gatorfoam.
A apropriação de imagens e a possibilidade de (re)significá-las surgiu há dez anos atrás depois de uma longa jornada de experimentação com diversas linguagens. Sempre desenhei, mas, não encontrava uma verdade ali, havia uma discordância entre o que eu queria obter em termos gráficos e o que de fato obtinha, dentro das minhas limitações, com o material. Com a pintura foi a mesma coisa, só mais adiante é que eu percebi que eu pintava... Com tesouras. Meu background é totalmente musical – incluindo aí layout de capas de discos, posters, cenografia – design gráfico, manipulação analógica de fotografia e tudo relacionado à 7ª arte e mais recentemente à ópera. Sou uma esponja. Mergulho intensamente em um assunto e vou estabelecendo associações ou pontes dentro dessas linguagens. Todo o pensamento por trás das minhas colagens vem dessa amálgama de mundos, que são opostos/complementares. Não penso apenas na imagem estática, muda, deslocada. Eu vejo interação entre as formas, busco referencias fora-da-caixa, não obedeço a narrativas ou posso partir de uma e depois desconstrui-la.
Do the astral thing. Colagem sobre papel.
Todo processo de criação é uma libertação, tanto em um nível emocional quanto material. Quando concluo eu já sei que não me pertence mais, é do mundo. A descarga energética varia de projeto para projeto, mas, há sempre naturalidade e leveza, não faço parte desse clichê de artista torturado, tudo é um parto sem anestesia. Acho um exagero e até forçado, não se deve perder a ternura jamais. Você é o médium prestes a transformar algo, a gestação pode ter suas turbulências e a criatura nasce como um trovão, mas se for desgastante e não houver prazer há algo de errado aí. Tudo o que produzo é uma aventura, me sinto como O louco do tarô, prestes a se jogar no abismo. Desvendar ou desvelar pouco a pouco uma ideia é algo absolutamente mágico. Descobrir quem é, qual a intenção disso, o que estou querendo comunicar aqui. Esse processo de analise é intermediário a finalização, se é que podemos chamar disso. Eu acredito que um trabalho nunca está pronto, ele apenas para em lugares interessantes. Isso me fascina e ao mesmo tempo enlouquece, pois há um infinito de outras soluções que poderiam ser dadas ou narrativas que poderiam ser esculpidas... Talvez por isso alguns artistas optem por criar variações sobre uma mesma forma, ideia ou cor. Eu gosto de retornar a uma ideia que não gostei e desenvolver um novo olhar sobre aquilo. Não tenho medo do erro. Esses ‘’acidentes’’ podem muito bem transformar uma imagem banal em um ser magnifico. Tudo esta na maneira como se olha, na intenção desse olhar.
Para essa série que estou trabalhando agora – as 78 laminas do Tarô – resolvi abrir espaço para novos elementos e experimentar uma nova rotina de produção. Aliás, rotina de trabalho também é processo criativo, garimpar material idem. Toda vez que eu inicio uma nova jornada eu nunca sei exatamente aonde aquilo pode me levar, essa descoberta é a força motriz. A confecção de uma colagem pode ter inicio antes mesmo de pegar no estilete, tesoura e papel. Fica fermentando dias na minha cabeça, já tenho a imagem pronta, resta saber como materializá-la. E ai se dá essa loucura que é para o colagista ou quem vive de apropriação: a caçada ao material. Às vezes o próprio trabalho vai me informando como e o que devo procurar. Tenho, naturalmente, minhas predileções, e elementos que invariavelmente fico repetindo e aperfeiçoando a cada colagem. É um processo orgânico, desde a escolha da imagem até as camadas, sobreposições que vão surgindo. Não se pode obrigar um trabalho a ser isso ou aquilo, querer confiná-lo em uma ideia. O grande barato está em ir descobrindo seus segredos aos poucos, deixar-se guiar pelo sensorial, se sentir provocado.
O Imperador, a Imperatriz, o Hierofante e a Sacerdotisa. Colagens sobre gatorfoam.
Os Enamorados, o Enforcado, o Diabo e a Morte. Colagens sobre gatorfoam.
Não acredito em inspiração, nem em writers-block. Isso mixaria. Há naturalmente estímulos e ‘’dieta de criação’’ que consiste em se cercar daquilo que pode servir de referencia, expandir os horizontes, abrir o canal e estar aberto para o novo, o inimaginável. É ai que entra a música e o tarô, são os meus portais para abrir o canal com o invisível. Se não está saindo naquele dia, eu aceito e desapego, retorno no dia seguinte. É importantíssimo ouvir o que aquele trabalho está lhe comunicando, as respostas estão ali, mas é preciso mudar a atitude para conseguir perceber as sutilezas. Nesse sentido a pressa é a inimiga da perfeição, tudo que envolve criação tem um tempo próprio, tem uma maturação. Não dá para apressar senão desanda e ai vem essa baboseira de falta de inspiração. Tem que haver continuidade, constância senão não se evolui. E isso é um processo vitalício, ninguém nunca está 100% pronto.
Colagem em escrivaninha.
Por que você faz?
Tem uma frase de Viktor Frankl que sempre gostei que diz: What is to give light, must endure burning. Isso me dá vida e eu dou vida em troca. Captar, imaginar, abrir novos horizontes, materializar, servir e consolidar, me vitalizam. Sem desejo, sem maravilhar-se não se sai do lugar, você envelhece, empobrece a alma. Estou cumprindo o meu decreto nessa 3ª dimensão. Eu me fortaleço, cresço e aprendo muito criando e dividindo o brilho do que faço. Sou um canal a serviço do invisível, não é uma escolha, simplesmente É. Mana (Axé, iluminação) dos meus ancestrais... Fora os diversos aspectos deliciosos no meu mapa. Isso é um decreto.

Liebestod. Colagem sobre papel.
Quando ele escreve que pinta com tesouras, me lembro do seminal Henri Matisse (e do álbum Jazz). Quando vejo suas colagens, me lembro de Richard Hamilton, um dos pioneiros da Pop Art. Não estou fazendo comparações - longe de mim -, mas, em muitos pontos, me peguei impressionado com a maturidade criativa de Felipe, como se ele tivesse encontrado o nirvana espiritual que todo artista busca em sua trajetória. Isso se deve ao fato dele ter 29 anos e eu estar com a tal "Síndrome de Tia Velha".

Me senti inspirado a fazer uma aliteração: “Foda, Felipe. Fez fãs”.