Ron Woodroof tenta montar em um touro em
Clube de Compras Dallas (
Dallas Buyers Club, 2013), mas não é o touro que você está pensando. O filme foi vendido da seguinte forma: um cowboy heterossexual e homofóbico descobre que contraiu o vírus HIV e resolve contrabandear os medicamentos para sua sobrevivência. E isso com direito aos bonitões Matthew McConaughey e Jared Leto desfigurados pela magreza que a doença proporciona.
Preste atenção: o filme não é sobre a AIDS e muito menos sobre homossexuais. Entenda:
o filme é sobre a crueldade da indústria farmacêutica. Quem não quer ver o filme porque é sobre gays ou doenças, está sendo pré-conceituoso (aceite o termo aqui como "um conceito que precede outro"). Vá ver o filme pra você entender o que acontece no mundo que a gente vive. Vá ver o filme para entender que
nunca haverá uma cura para as doenças mais brabas que vier na sua cabeça agora. Vá ver o filme para entender que
tudo na vida é um negócio (frase, aliás, falada no filme), até mesmo sua saúde.
Se você quer ver um filme sobre a doença, veja o sensacional/excelente/foda
Filadélfia (
Philadelphia, 1993), que mostra as terríveis consequências sociais na época. Tente ver logo depois de ir ao cinema, porque Tom Hanks foi ao glorioso (porque levou o Oscar) inferno da AIDS utilizando AZT, a maldita droga tóxica, que Matthew (que também levou o Oscar) tenta impedir. E isso vai te fazer pensar que, em 1993, alguém proibiu comentários sobre os Clubes de Compras que rolavam em vários estados americanos.
Sobre o assunto da indústria farmacêutica, veja
Missão Impossível 2 (
Mission: Impossible II, 2000) e
Splice - Uma nova espécie (
Splice, 2009). Parecem filmes desconectados com o assunto, mas, no primeiro, Tom Cruise tenta impedir a disseminação de uma doença que fará o antídoto virar uma preciosidade; e, no segundo, a engenharia genética cria uma forma de vida somente para fins científicos e tem um final pesado. Também posso indicar
Epidemia (
Outbreak, 1995) sobre o vírus Ebola e, até mesmo, a franquia de zumbis
Resident evil: O hóspede maldito (
Resident evil, 2002).
Dito isso, volto ao filme em questão pra dizer que ele é bom. Não é maravilhoso porque se alonga no meio e o deixa cansativo. Matthew está bem e merecia o Oscar? Tirando
Christian Bale no Trapaça não vi os outros para julgar, mas a Academia adora essas transformações físicas. Por isso, já seria fácil dizer que o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante iria para Jared Leto, que, além de emagrecer, fez o papel de um travesti e levou todos os prêmios possíveis. Mas deixa eu te falar: ele rouba o filme. Na sua primeira cena, você já sabe que vai ser um show.
Impossível sair do filme sem se perguntar um monte de coisa, principalmente, em relação aos remédios que você anda tomando. Então, vá ver o filme e, no mínimo, se pergunte: qual touro você monta?