Visualmente, a China conquistou o mundo. Luzes, cores, tecnologia, história. E também ganhou os jogos com 51 medalhas de ouro, 21 pódios em 38 modalidades e seus atletas de internato. Mas os heróis, pra mim, representam os quatro elementos: são o relâmpago Usain Bolt com três medalhas de ouro e três recordes em corridas (TERRA), o peixe Michael Phelps com 8 medalhas de ouro em todas as provas que disputou (ÁGUA), a musa Isinbayeva que voa a altura necessária com graça e elegância (AR) e a chama olímpica que foi respeitada e gerou momentos de solidariedade entre países inimigos, como no caso de Rússia e Geórgia que tiveram atletas juntas e abraçadas em um pódio (FOGO). Bom... o respeito à chama ficou no quase... tivemos o abandono da medalha de bronze de um lutador sueco e um chute na cara do juiz de um cubano do taekwondo que estava certo, mas perdeu o controle e o direito de disputar competições internacionais.
O Brasil continua um coadjuvante olímpica que fica achando que pode ser alguma coisa. As expectativas que a mídia joga sobre os nossos atletas são absurdas. Na maratona aquática, uma de nossas nadadoras chegou a 3ª posição faltando ainda 1km pra acabar a prova e os narradores já gritavam "é ouro!". Um absurdo.
Concordo com uma psicóloga que foi à TV dizer que atletas de alto nível não podem se abalar com pressão. Isso é verdade. Aquela famosa frase: "não sabe brincar, não desce pro play". Isso vale para atletas da ginástica, do atletismo e – principalmente – dos medíocres jogadores de futebol masculino. É só seguirem o exemplo de Maurren Maggi e César Cielo.
Mas nós ainda ganhamos 15 medalhas, repetindo nosso melhor resultado de Atlanta, em 1996, ficando em 23° lugar. Foram 3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze (menos medalhas de ouro que Atenas, em 2004, quando conseguimos 5). Interessante notar que 3 das 4 de prata são as mais doloridas: o sensacional futebol feminino de Marta e Cia., a discutível família Bernardinho do volley masculino e a dupla de praia Márcio e Fábio Luiz. Somente a incrível prata de Scheidt e Prada é bem comentada por não ter sido esperada. Eu particularmente acho isso idiota. Prata é muito bom. Vem da derrota do ouro, mas é o segundo lugar em uma competição mundial para um país que ignora esportes que não sejam futebol masculino. As meninas do futebol são heroínas que nem emprego tem e ainda chegam a uma final.
Vamos às medalhas:
OUROS INÉDITOS: César Cielo (natação 50m livre masculino com o tempo de 21"30),
Maureen Maggi (salto em distância feminino com o salto de 7,04m, dando a primeira medalha de ouro para uma mulher em esportes individuais) e
Volley feminino (de quadra com uma campanha primorosa e apenas 1 set perdido na final contra os EUA)
PRATAS SOFRIDAS: Futebol feminino (perdemos de 1 a 0 na prorrogação dos EUA... força meninas!),
Vela (classe star masculino com o sempre vitorioso Scheidt e Prada, numa regata inesperada),
Volley de praia masculino (Márcio e Fabio Luiz venceram a dupla brasileira principal na semi-final, mas não suportaram os americanos) e
Volley masculino (uma conturbada família do técnico Bernardinho saiu do Brasil em crise, chegou à final, mas perdeu de novo para os algozes americanos)
BRONZES DISPUTADOS: Ketleyn Quadros (judô categoria leve feminino, na primeira medalha brasileira para uma mulher em esporte individual),
Leandro Guilheiro (judô categoria leve masculino, no bicampeonato olímpico de bronze),
Tiago Camilo (judô cateogria meio-médio),
César Cielo (natação 100m livre masculino, foi sua primeira medalha lutando contra Phelps),
Vela (classe 470 feminino, onde Isabel Swan e Fernanda Oliveira ganharam medalha inédita e indesperada),
Volley de praia masculino (Ricardo e Emanuel foram para o bronze após a derrota para os brasileiros de prata),
Futebol masculino (sem comentários) e
Natália Falavigna (taekwondo feminino inédito!)
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, fez um balanço positivo. E concordo com ele. Brasil teve mais atletas em mais modalidades, chegou a mais finais (38), chegou a finais que nunca havia estado antes (salto em distância e revezamento 4x100), ganhou medalhas inéditas (ouro na natação, volley feminino e salto em distância, e bronze no taekwondo, no judô feminino e na vela 470 feminino) e tivemos a participação feminina como destaque máximo. Ponto pra ele. Isso é importantíssimo mesmo. E, tirando EUA, Canadá (com três medalhas a mais) e as três medalhas do jamaicano Usain Bolt, somos a potência na América. Cuba (28°) tem mais medalhas, mas tem um ouro a menos. A Argentina ficou em 35º com dois ouros e quatro bronzes.
Mas fica a pergunta: nosso país merece sediar os jogos de 2016? Vocês já imaginaram o que a mídia irá fazer com nossos atletas? Invadindo casas, vasculhando, fazendo horrorosas frases de efeito e vídeos editados... E o Rio? Tem estrutura? Tem políticos que não irão roubar o dinheiro investido? Eu temo pelos resultados... Parece que o Panamericano de 2007 na cidade foi uma tentativa de provar ao mundo e a nós mesmos de que somos capazes. A Copa do Mundo em 2014 vem aí. Mas ficaram muitas dúvidas. O Brasil ainda não investe da maneira correta. Vejam os EUA e seu sistema universitário de investimento em esporte. É quase perfeito. Nossos atletas ainda dependem de migalhas federais em forma de bolsas com incentivo fiscal para agradar a patrocinadores. Alguns treinam com dinheiro próprio e condição não-esportivas.
Bom... que venha Londres. O encerramento londrino foi fraco, mas temos quatro anos até lá.