segunda-feira, 21 de maio de 2018

Arte?

Texto produzido em 21 de maio de 1996 para a disciplina História da Arte Contemporânea, do Prof. Geraldo Andrade, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

É muito difícil dar um significado para a palavra arte. É um conceito muito abstrato e flexível, porque varia dentro de uma conjuntura internacional própria e em relações interculturais.

A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes, ela assumia um caráter próprio, bem elitizado, por receber as influências de uma minoria intelectual que a moldava. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impor seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existem mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada.

Percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte num êxtase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

O mais interessante é o fato de que os objetos que já foram tachados como arte continuam sendo cultuados como obras-primas. A sociedade volta a entrar em inércia e não revê os valores artísticos. As mudanças de pensamento e de critérios de julgamento poderiam transformar claramente uma obra em "uma simples brincadeira de criança que qualquer um faria". O exemplo "Stan Lee" é perfeito para explicar isso. Talvez suas primeiras histórias em quadrinhos não o façam um artista. No entanto, quando ele realmente entrou para o universo das HQs, toda e qualquer criança que lesse as maravilhosas sagas de super-heróis o considerava mais do que um artista. Será que seus desenhos modernos e seus textos fictícios não podem ser considerados arte? Depende de quando e a quem se pergunta.

A evolução do homem, em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "estetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo.

Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. É assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois elevou-se a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

A arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Expectativa infinita

A última vez que fui ver um filme duas vezes no cinema foi em 2004 no primeiro Jogos Mortais (Saw), mas eu precisava fazer isso novamente em Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018). Não somente por ser fã, mas para ter certeza do que ia escrever aqui sem ser herege...

O filme não é isso tudo.

Pronto. Falei.

A junção de todos os personagens é sim o grande fator de vitória desse filme que já estourou bilhões de recordes e dólares. Mas eu saí da primeira sessão que fui com o sentimento de que tinha muito furo de roteiro. Poucos minutos depois eu já tinha uma lista. Preferi, então, ver de novo e a lista meio que se ratificou (e aumentou).

Sou fã, mas não sou cego. A Marvel tem a capacidade incrível de amarrar filmes diversos com essa quantidade absurda de heróis/celebridades. Sabe fazer filmes grandiosos com cenas emocionantes e impressionantes... mas dessa vez ela se complicou. Até conversei com uma amiga (né, Déa!) sobre a a necessidade de um filme entreter e emocionar, mas esse ficou só no entretenimento.

A partir daqui... SPOILERS. Continue por sua própria conta e risco.

Aliás... essa história de spoiler vale um adendo antes de começar. A Marvel fez uma campanha enorme para que as pessoas evitassem comentar o filme após ter visto. Claro que isso funcionou para aumentar as vendas de ingresso, mas ela deveria lançar menos trailers com cenas fundamentais – e olha que dessa vez ela até foi malandra porque colocou em trailer uma monte de cena que não apareceu NESSE filme. Isso criou um aumento exponencial da expectativa ao redor desse filme... o que já era altíssimo ficou estratosférico, assim como a frustração.

Sempre que te peguntarem "primeiro a notícia boa ou a ruim?" responda que quer a ruim primeiro porque depois a boa pode suavizar a situação. Então, vamos aos INÚMEROS problemas... começando com o maior furo:
  • Dr. Estranho. Se você ainda não viu o filme do Dr. Estranho, veja e entenda como ele não só entrega o próximo filme como ele é o maior problema. Nesse filme, vemos um exponencial crescimentos dos poderes do mago. Porém, em seu filme – onde ele ainda está APRENDENDO a controlar as artes místicas –, ele consegue entrar na Dimensão do Espelho, onde mantém a integridade da realidade... consegue viajar para a Dimensão do demônio Dormammu... consegue usar o Olho de Agamotto (a Joia do Tempo) para reformar tudo. E nesse filme ele faz o quê além de escudinhos, chicotinhos e portais espaciais? Por que ele não levou os primeiros alienígenas para a Dimensão do Espelho? Por que ele não abriu um portal de Titã para a Terra? E não me venha dizer que foi por causa do plano do Stark. E pior... por que ele nunca usou a Joia??? Aí você vai dizer "ah, mas ele usou para prever os futuros" e então eu digo "pronto, ele entregou o filme". Essa cena é a que já diz que tudo está acontecendo porque é assim que tem que acontecer.
  • Hulk fracote. O que estão fazendo com o Hulk desde o Ragnarok é inadmissível. Nem é um dos meus personagens preferidos, mas ele se tornou um idiota. Bruce também não era um idiota... é só ver o primeiro filme dos Vingadores e ver o que está certo. Aliás, nesse filme também vemos uma forma de tirar o medroso* Hulk de dentro de Bruce: é só jogar na meio da batalha. (*o asterisco é porque os roteiristas disseram que não é medo da surra que ele levou de Thanos: Hulk está só fazendo birra. Ou seja.... ridículo).
  • Visão fracote. Um corpo feito de adamantium capaz de mudar a densidade. Uma joia do infinito na testa. E tudo que ele sabe fazer é cabelo e pele pra ficar de namorico? Sério? Por que isso? Com uma lança alienígena já tiraram a capacidade dele mudar a densidade? E o adamantium? Não é nada? Usar a joia pra quê, né?
  • Ultra-mega-blaster-Thor. Tudo que fizeram com ele no Ragnarok foi desnecessário. Pra quê destruir o Mjolnir se iam dar um novo pra ele? Pra quê perder um olho se iam dar um novo tecnológico sem sentido pra ele? Pra quê emanar poderes elétricos se ele só sabe fazer isso direito com o martelo/machado? Aí ele fica vingativozinho e põe tudo a perder porque não enfia o machado na cabeça de Thanos em nome da tortura? Ah tá... a Marvel não mata, mas tortura. Entendi... Pelo menos esse filme confirmou que a Marvel queria acabar em definitivo com a franquia asgardiana: matou TODO mundo que restou (existe uma dúvida se Loki realmente morreu, mas acho que sim... porém... ainda tem uma forma de mudar isso).
  • Capangas poderosos (ou não). Thanos tem quatro capangas extremamente poderosos. Só um tem nome de tão ruins que são. Fauce de Ébano (no filme não aparece o "de Ébano") ganhou superpoderes telecinéticos, quando ele é mais um telepata. Independente disso... eles são tão sem sal, sem propósito, tão iguais e com mortes tão simplórias... pra quê, então? Colocasse generais/agentes sem rosto, nome.
  • Inconstância de poder. Isso tem a ver com os itens anteriores. Hulk foi estabelecido como o mais poderoso do MCU com direito a frase "Nós temos um Hulk". Thor é um deus e rei de Asgard. Visão é de adamantium e usa uma joia infinita. A Feiticeira Escarlate tem o poder de destruir uma joia do infinito e segurar Thanos. Ou seja, quatro personagens que poderiam solucionar o filme, mas que precisaram ser diminuídos e descaracterizados para ficar difícil... (isso sem falar no Groot que poderia resolver algumas situações de forma bem mais rápida, mas se tornou um adolescente bobo #redundância) Mas difícil para um Thanos que usa as Joias do Infinito e tem uma guarda superpoderosa? Aí vem o item abaixo...
  • Onipotências inconstantes das joias. Você viu o primeiro filme dos Guardiões, certo? Com a Joia do Poder que destruía um planeta só de encostar no chão? Aqui ela se resumiu a raios laser... A Joia da Realidade (o Éter, do segundo filme do Thor) é um gerador de ilusões momentâneas (veja cena da desconstrução do Drax e da Mantis, além do flashback de Titã) ou é realmente capaz de mudar a realidade (veja a cena de transformar laser em bolhas de sabão)? Se você pensar bem, só essa joia seria necessária... ou a Joia do Espaço (o Tesseract, ou Cubo Cósmico, do primeiro filme dos Vingadores), pois era só transportar os alvos ou aparecer, pegar e sair. A Joia do Tempo (Olho de Agamotto do Dr. Estranho) e a da Mente (do Visão) são inutilizadas no filme... e a tão procurada Joia da Alma permanece um mistério (que falarei em segredo mais abaixo).
  • Mortes sem apelo. É isso mesmo. Tenho certeza que as cenas finais chocaram todo mundo. Ah... mas vem cá... vocês realmente acham que Homem-Aranha e Pantera Negra, dois mega sucessos atuais da Marvel, vão continuar mortos? Vocês acham que os queridinhos Guardiões vão ficar mortos? Acreditam? Sério? Prestem atenção que TODOS OS VINGADORES INCIAIS ficaram vivos! Isso se chama FECHAMENTO. E é ÓBVIO que os outros vão voltar. Não sei se todos, mas vão. Como? Não sei, mas chuto já.

Podia continuar e falar também no destino absurdo que deram para o Caveira Vermelha, mas vamos suavizar agora com as partes boas:


  • A batalha de Wakanda. A grandiosidade, a força da nação africana (Okoye, líder das Dora Milaje saindo na frente do Pantera), os heróis trabalhando em conjunto (destaque rápido e divertido para Soldado Invernal e Rocky)... é o clímax do filme e dá vontade de ficar só ali.
  • Os Guardiões se tornaram peça fundamental do MCU. Claro que sendo um filme galáctico, eles teriam papel importante, mas percebe-se no cinema que TODO mundo espera por eles. Quill, Gamora, Drax, Groot, Rocky, Mantis e - é claro - o humor e a música que vem com eles. Colocar o Thor com eles é bem significativo... desde que ele foi pro espaço, literalmente, era preciso salvar esse herói e...
  • Ultra-mega-blaster-Thor. Ué... ele está aqui também? Sim. Acho que a Marvel resolveu mostrar que o Thor é mais do que os filmes solo e transformou ele num SUPER-super-herói. Encaixou o humor com o dos Guardiões, deram um novo ultra-mega-blaster-martelo/machado e fizeram suas cenas na batalha de Wakanda serem redentoras! A gente passa o filme esperando ele entrar na luta. Mas vocês já sabem que isso não é de todo bom.
  • Dinâmica heroica. Quill e Gamora. Thor e Quill. Thor e Rocky. Soldado Invernal e Rocky. Okoye e Viúva Negra. Falcão e Máquina de Combate. Homem de Ferro e Homem-Aranha. Dr. Estranho e Homem-Aranha. A presença do Capitão América. A sagacidade de Shuri. Já faz tempos que sabemos que os irmãos Russo (diretores) sabem fazer isso.
  • Mulherada. É inegável a força das mulheres nesse filme. Gamora é praticamente uma protagonista desse filme. Feiticeira Escarlate e Okoye talvez sejam a grande presença, mas parece que nossa eterna querida Viúva Negra vai finalmente ganhar um filme solo. Até Mantis ganhou um papel fundamental na batalha. Já falei da Shuri? Ela é ótima, até mesmo em uma única cena.
  • Armaduras. Tony Stark é realmente um mestre das armaduras. Além da nanotecnologia que transformou a sua armadura em algo incrível e mutante, temos a ótima do Homem-Aranha (conhecido nos quadrinhos como Aranha de Ferro) e a Hulkbuster sendo usada pelo Banner.
  • Thanos. Finalmente a Marvel acertou um "vilão". Já falei bastante aqui nas postagens de filmes o quanto os vilões da Marvel não são exatamente vilões e por isso as aspas. Josh Brolin ajuda a gente a entender o personagem. Não estou dizendo concordar, mas faz refletir e perceber... o filme É DELE, como se os herois só estivessem ali para impedir a sua jornada. E é isso mesmo. Tudo gira em torno de Thanos.

Bom... agora vou colocar palpites e soluções. Só que vou escrever em BRANCO. Se quiser ler – por sua própria conta e risco – marque o texto dentro da área avisada.

[MARQUE O TEXTO] Como eu disse, o Dr. Estranho entregou o filme. Ele fala que só viu uma única vitória dentro de mais de 14 milhões de possibilidades. Depois de inúmeros discursos chatos de ser o grande protetor da Joia do Tempo e deixar bem claro que deixaria o Homem de Ferro e o Homem-Aranha morrerem se fosse necessário, ele entrega a joia pra Thanos em troca da vida de Stark? Ah tá... ÓBVIO QUE ESSE CENÁRIO TODO É A VITÓRIA QUE ELE VIU. ÓBVIO! E vou além: ele usa a palavra ENDGAME antes de desaparecer... tô quase apostando que é o nome do próximo filme (mas pode ser também Avengers Forever, que é uma saga conhecida nos quadrinhos e faz essa referência de não importa quem esteja no grupo ou quem morra, o conceito dos Vingadores não morre nunca).

Evitei falar de quadrinhos, mas eles entregam parte do filme (quem quiser ler mais sobre isso clique AQUI). Esse filme é baseado no Desafio Infinito, saga que Thanos realmente consegue a manopla, as joias e estala o dedo para detonar metade da população do universo. Várias cenas estão desenhadas ali, porém, toda a relação que o "vilão" tem com a Morte (sim, a personificação da Morte) foi retirada do filme por ser sombria demais. Isso abre uma brecha. Não há como saber o que realmente a Marvel vai fazer para trazer a galera de volta (inclusive Asgard/Loki?), mas tenho a impressão que Gamora terá um papel fundamental. Até porque... GAMORA NÃO MORREU! ELA ESTÁ DENTRO DA JOIA DA ALMA. Aquela cena após o estalar de dedos, onde Thanos encontra a pequena Gamora acontece DENTRO da misteriosa joia.

E o Visão também não se acabou. Se você prestou atenção, Shuri conseguiu copiar os neurônios do Visão antes de ser atacada em Wakanda e ela pega um drive. Ali está o cerne do Visão. Provavelmente incompleto, o que deve deixá-lo durante um tempo mais "robótico" até que o amor o salvará... ai ai... quer apostar aqui também?

Mas existe a aposta de uma grande morte no MCU (com direito a funeral filmado) e eu aposto no Capitão América. Chris Evans já disse que seu contrato acabou e ele é a bússola moral da galera. Sua morte deve acabar com as dúvidas entre herois e fazer a união ser definitiva e VINGAtiva. Cogitaram a possibilidade de matar o Stark... mas eu duvido. Ele é o norte do MCU e ainda tem uma ligação muito forte com o Homem-Aranha. Talvez eu quebre a cara aqui e os dois morram... mas antes... tem que ter o reencontro, a reconciliação de ambos. Stark deve voltar de Titã com ajuda de Nebula e eles vão se unir 

Wakanda vai ter uma mudança significativa. Você percebeu que Thanos sentou numa cabana wakandana para ver o pôr-do-sol? Não? Pois é... ele está em Wakanda! Perceba também que M'Baku sobreviveu e, provavelmente, poderia querer o trono novamente. Sem T'Challa caberia a Shuri enfrentá-lo... e isso já aconteceu nos quadrinhos: ela se tornou a Pantera Negra. Dava para encaixar isso com a reconstrução do Visão, porém, a sequência só deve sair depois do próximo filme da equipe. Então, temos que pensar numa Wakanda que aumentou o contato com o mundo e ainda por cima deu de cara com invasores do espaço.

Não podemos esquecer da cena pós-crédito sem qualquer surpresa (porque todo mundo sabe das gravações), onde Fury e Hill desaparecem, mas não sem antes chamar a Capitã Marvel. Independente do nome (que pode confundir os desavisados), a heroína é uma das grandes forças da Marvel e carregará o peso de ser o primeiro filme protagonizado por uma mulher dentro do MCU. É bem possível também que marque o retorno de Coulson ao MCU já que ele só está na série Agents of Shield, mas aparecerá no filme dela. [FIM DO TEXTO]

É isso. Daqui a pouco teremos a sequência do Homem-Formiga com a Vespa e saberemos mais sobre a ausência deles nesse filme. Vamos ver em 2019 se a Marvel conserta isso e nos entrega um futuro relevante para o MCU. Espero estar MUITO errado e ser REALMENTE surpreendido.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Começou a Copa?


Na última Copa, comecei empolgadamente a escrever desde o sorteio dos grupos... provavelmente porque a Copa foi no Brasil. Só que a ressaca do 7 a 1 não acabou. Estou sem a menor vontade de escrever, até porque o maior evento mundial de futebol não tem sido mais a mesma coisa. A Fifa também não. Cheia de escândalos... e ainda querendo aumentar para 40 times. Vocês perceberão o quanto isso será ruim numa copa que já tem Irã e Marrocos na mesma chave, ou Panamá e Tunísia.

Não sei se terei a mesma vontade de escrever como antes, mas, com certeza, verei o máximo que conseguir. Afinal, é a suposta nata do futebol mundial. Vamos lá:


A dona da casa se deu muito bem, porque tem um time bem fraco e pegou uma chave com grandes possibilidades de passar. O Uruguai é talvez a única garantia SE jogar o futebol de 2010... porque não anda muito bem. Todos os olhos estão voltados para o Egito por causa do excelente Sallah, jogador do Liverpool, no entanto, não vejo como ele possa carregar o time sozinho. A Arábia pra mim é uma incógnita. Impossível de prever esse grupo... qualquer um pode sair vencedor. E será um vencedor fraco.


Esse grupo é óbvio. O primeiro jogo já é o clássico ibérico que, provavelmente, vai definir o primeiro do grupo. Não dá nem pra cogitar que Irã (a melhor seleção asiática no momento) e Marrocos façam algo, porém, a disputa entre eles - também na primeira rodada - deve ser um jogo pegado, afinal, quem vencer, ganhará fôlego para enfrentar as potências europeias, enquanto, quem perder, dará adeus. Seria muito bom se a primeira rodada desse só empates... Ai o grupo ia ficar interessante.

Quem passar desse grupo deve se dar bem, porque vai cruzar com o fraco Grupo A e já deve pensar nas quartas. O Uruguai é o único que - supostamente - poderia animar as oitavas.


O interessante desse grupo é sua irregularidade. França é possivelmente a vitoriosa aqui, mas é o time que ou joga bem demais e chega numa final (o que é bem possível porque tem jogadores excelentes) ou faz cagada logo de cara. Dinamarca, Austrália e Peru - sinceramente - estão equilibrados. Acho que o grupo será definido na última rodada, com chances pra todo mundo.


Argentina e Nigéria devem ter algum carma porque sempre se cruzam de alguma forma em Copas. Pode não parecer... mas esse grupo é muito equilibrado. Será que a Argentina tem só o Messi que classificou a seleção sozinho ou virá com força máxima? Aliás... que força? Eles só andam produzindo jogadores de frente, atacantes... nada de bons jogadores de defesa. Já a Nigéria é o clássico futebol africano de força sem qualquer adendo, sendo que anda apresentando problemas extracampo e um futebol bem medíocre. A Croácia é um bom time, eficiente e com bons jogadores. Pode ser até a primeira seleção do grupo, porém, se classificou pra Copa na repescagem... atrás da Islândia! Bom... essa seria a certeza de derrotas... mas depois do que fizeram na Eurocopa 2016, me arrisco a dizer que até a Argentina corre risco.

C e D se cruzam nas oitavas e é muito difícil de prever algo. Seria fácil apostar nas seleções europeias do C mais Argentina e Croácia no D, mas não sei mesmo. Fico achando que Austrália, Peru e Islândia podem dar o que falar.

Considerando que A, B, C e D irão se cruzar nas quartas, provavelmente Portugal e Espanha terão um caminho mais fácil do que quem sair de C e D. Se não tivermos surpresas, teremos clássicos europeus e a Argentina.


E aí estamos nós. Num grupo relativamente fácil, onde só perderíamos para nós mesmos. O primeiro jogo do Brasil vai determinar o caminho: ganhando da Suíça, provavelmente estaremos classificados; empatando, a gente embola o grupo; perdendo, a gente só passa em segundo se ganhar as outras duas. Faço essas previsões porque a Costa Rica - mesmo já tendo surpreendido em Copa e ter um futebol razoável - não deve dar problemas a ninguém. Suíça e Sérvia jogam a vida na segunda rodada, mas tem uma cara forte de empate... o que vai deixar o jogo Sérvia e Brasil com jeito de decisão caso o Brasil perca para a Suíça. Acho difícil o Brasil ficar fora da próxima fase, mas não podemos dar mole...


Que moleza, hein, Alemanha? Primeiro lugar garantido! Pelo menos a disputa do segundo lugar deve ser boa. Todos os jogos entre as três seleções serão tensos, porém, creio eu, que nivelados por baixo. México já está devendo há tempos, mas é o México. Suécia não tem mais Ibrahimovic, mas é a Suécia. E a Coréia do Sul tem o Song jogando um bolão no Tottenham

O segundo lugar do grupo do Brasil vai pegar a Alemanha... ou seja, Brasil, faça-me o favor de passarem primeiro! Azar de Suíça ou Sérvia. Passando em primeiro, o Brasil pega um dos três do F e será pedreira. O melhor seria pegar a Coréia, ma se ela passar, significa que tem algum potencial. México é famoso por detonar a gente em competições americanas e a Suécia é freguês em Copa, mas dá trabalho.


Bélgica e Inglaterra certamente, igual ao grupo C. E elas deram sorte, porque são duas seleções irregulares, mas Panamá e Tunísia não devem ter chance alguma. Nem ser surpresa. As europeias tem que fazer muita merda pra não passarem.


Esse grupo é bem parecido com o D da Argentina... É estranho ver a Polônia como cabeça de chave, mas, num grupo tão equilibrado de forma mediana, é possível que se dê bem. Só que a Colômbia mostrou um timaço na última Copa e manteve um futebol muito bom nas eliminatórias. Por isso, creio que será a primeira do grupo. Com isso, o segundo lugar fica aberto. Japão e Senegal podem acontecer nesse grupo, e, por isso, o jogo entre eles na segunda rodada pode ser decisivo para um deles, fazendo a última rodada ser interessante.

Acreditando em Bélgica e Inglaterra no grupo G, a Colômbia vai pegar uma pedreira nas oitavas, o que faz as duas europeias desejarem ficar em primeiro pra pegar algo mais fácil na sequência.

As quartas aqui se fazem de E, F, G e H, ou seja, Alemanha estará, Bélgica e/ou Inglaterra também. Falta uma ou duas vagas... Brasil? Colômbia? Bom... não acredito em surpresas nas quartas. Pode ser que tenhamos algo nas oitavas, mas nada que vá muito longe.

O futebol internacional está globalizado, porém, desequilibrado. São poucas as seleções que possuem jogadores de alto nível em todas as posições que podem criar uma boa seleção. Brasil acaba, de certa forma, se destacando nisso, assim como Alemanha, Espanha e França. Já Argentina, Colômbia, Portugal, Inglaterra e Bélgica vem logo a seguir com um grande número de bons jogadores (sendo que alguns desequilibram). Ou seja... nove seleções de 32 podem realmente fazer algo e ainda querem botar mais oito? Bom... talvez assim entrassem Itália, Holanda, Chile, Paraguai... mas em que nível?

Algo me diz que essa Copa será um divisor de águas no futuro do futebol internacional e da competição em si.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Reflexões sobre o livro "Transparência do Mal – Ensaios sobre os fenômenos extremos", de Jean Baudrillard

Texto produzido em 1º de maio de 1996 para a disciplina Análise à Informação, do Prof. Jorge Lúcio de Campos, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

ENSAIO 1: "APÓS A ORGIA"
Toda boa redação deve ser dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, devem estar o tema central e as ideias a serem abordadas. O ensaio "Após a orgia" é como uma introdução.

Baudrillard apresenta uma série de argumentos demasiadamente radicais, caóticos e negativos. Chegou a me lembrar o poeta pré-moderno Augusto dos Anjos, que escandalizou sua época por usar um linguajar rebuscado e negativo. Sua radicalidade se expressa pelo excesso de palavras como "tudo", "todos", "nada", "jamais", que, em Geografia, aprendemos a não usar por serem tão generalizantes.

O autor define "orgia" como "o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios". E é nesse pensamento que se seguem seus outros ensaios, explicando-se uma série de liberações de nossa sociedade, relacionadas sempre com a pergunta crucial do livro: O QUE FAZER APÓS A ORGIA?

Não acho que nossa sociedade tenha percorrido "todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, signos, mensagens, ideologias, prazeres". Nossa sociedade tradicional é calcada no ideal de progresso, onde o espaço de experiência é diferente do horizonte de expectativa. Isso nos leva a analisar uma sociedade que sempre procura melhorar através de mudanças sejam elas boas, ou não. Assim, fico impossibilitado de dizer que estamos progredindo no vácuo. Nós não vivemos uma reprodução indefinida em um tempo cíclico de saber no passado. O homem surpreende a toda hora e pode alterar seus ideais e sonhos, vivendo um tempo linear de saber no futuro.

Baudrillard argumenta que as coisas não desaparecem por morte ou fim. A proliferação, saturação, exaustão e epidemia das mesmas podem realmente levá-las a um fim dispersivo. O cineasta Wim Wenders diz que numa cidade grande, onde o acúmulo excessivo de propaganda é alienante, o tudo acaba se tornando o nada. É exatamente isso que o autor quer dizer: perde-se o sentido e a força quando se chega à contaminação exacerbada.

A trilogia do valor é facilmente entendida graças ao feedback que possuímos, uma vez que não há uma explicação clara e bem desenvolvida do tema. As atenções se voltam apenas para o quarto valor: o valor fractal. Esse valor é dado como o valor de avaliaço impossível que irradia para todos os lados sem referências, de forma aleatória. Isso porque é difícil avaliar o valor do que está em constante mudança, saindo de um eixo ordenado óbvio. Mesmo os opostos não andam mais lado a lado, numa luta eterna pela hegemonia. Esse é o valor fractal. E o autor determina esse valor como o "esquema atual de nossa sociedade". Assim, ele entra num paradoxo que ele diz melhorar o funcionamento de uma sociedade. Ao mesmo tempo que finaliza o ideal de progresso, ele dá um movimento às coisas de maneira fractal.

Esse paradoxo é mal analisado quando se sustenta o ideal de que o progresso, a riqueza e a produção desapareceram, mas continuam existindo. Como falar no desaparecimento das bases político-econômicas de nossa sociedade? É fato que estamos enfrentando momentos difíceis e confusos, mas anular a essência da sociedade? Isso fica exagerado. Concordo com a ascensão do jogo político em contraposição ao fim das ideias, porque (infelizmente) leio jornais para saber o que ocorre no ninho de víboras do governo.

O que, com certeza, possibilitou o homem mudar, ou seja, evoluir para o que é hoje, foi sua curiosidade. Nascida no âmago de todos os seres, essa sede de conhecimento nos levou a lugares incríveis e a descobertas fascinantes. Por isso, fica injusto considerar a curiosidade como uma pulsão secreta em todo ser humano de desfazer-se das ideias e das essências para chegar à orgia, excedendo em todos os sentidos. Nosso objetivo é estudar, experimentar para que alcancemos novas possibilidades e facilitemos a vida de todos.

Talvez seja um grande erro não obedecer ao código genético. Se eu fosse um fanático religioso, diria que a genética é um pecado mortal, uma afronta a Deus. Clonagens e próteses são uma tentativa de driblar os valores naturais. "O máximo da sexualidade com o mínimo de reprodução" é a ordem da liberação sexual. "O máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo" é o sonho de uma sociedade clônica. Mas será que chegamos, alguma vez, a um desses dois extremos? Nossa sociedade jamais foi influenciada apenas em sexo ou apenas em clonagens. Ocorre sim, como o autor comenta em seus outros ensaios, uma transexualidade que se estende bem alem do sexo. Não se tem um processo de confusão e contágio; tudo é experimental, são tentativas de formar personalidades próprias e extrapolar seus desejos mais íntimos. Realmente perde-se o caráter específico do sexo e cria-se um processo viral de indiscriminação. Isso, exatamente, porque é algo novo que vai contra os valores sociais e morais de nossa sociedade.

São esses valores que dão margens a essas discussões. O conservadorismo e as tradições que nossa sociedade guarda, de fundo moral e ético, acabam criando paradoxos com a evolução do saber que acompanha o crescimento da humanidade. Há uma dificuldade muito grande em quebrar tabus para acolher os novos conhecimentos.

A comparação entre a metáfora e a metonímia, direcionada ao processo transversal é interessante. A utilização da denotação das duas palavras para dar um sentido conotativo à transversalidade cai perfeitamente nesse discurso. Nesse processo da transversalidade, é fácil perceber essa metonímia ao avaliarmos o campo de ação de uma disciplina qualquer. As disciplinas criaram uma interligação, fazendo desaparecer os vestígios dos conjuntos individuais para formar um enorme termo de coletividade. E é por causa dessa contaminação, dessa infecção de todos os domínios que podemos falar "tudo é sexo", "tudo é política", "tudo é dinheiro". Essa radicalização é bem contestada quando Baudrillard fala que "cada categoria é levada a seu mais alto grau de generalização, e por isso, perde toda sua especificidade e se desfaz em todas as outras".

Há uma análise nesse ensaio, sobre as teorias revolucionárias, que nos faz pensar sobre o tão esperado progresso da humanidade. O capital não leva em consideração os valores econômicos, fugindo de seu próprio significado centralizador, sem quaisquer referências (aliás, raramente o capital seguiu as leis a ele impostas); o político foi questionado e, quando teve suas bases enfraquecidas, levou consigo o social; a arte tentou renegar as regras que a limitavam mais continuou seguindo padrões que levaram à banalidade das imagens; a utopia sexual de tornar a totalidade do desejo como uma realização na vida de cada indivíduo acabou numa confusa transição sexual de circulação promíscua que levam a uma indiferença e discriminação do ato. Ou seja, as tentativas que nossa sociedade fez para melhorar suas condições e seu campo de ação, determinaram o começo da orgia.

O princípio do Mal de Baudrillard acaba por aparecer. A curiosidade que a sociedade carrega instiga uma parte maldita: a vontade de violência e morte. O movimento incessante da sociedade, sempre eficiente e sempre fracassada, na tentativa de disfarçar o Mal, beneficiando o Bem, descreve essa parte maldita do princípio. O autor considera o Bem uma sentimentalidade ingênua que sempre será superada pela energia irônica do Mal.

Acho bem errado dizer que o êxito da comunicação e da informação indica a incapacidade da sociedade se superar através de outros meios. É através da comunicação e da informação que a sociedade, como coletivo, e o indivíduo, como entidade só, conseguem satisfazer sua curiosidade e aprender métodos de superação mais fáceis ou lucrativos. Até mesmo o conhecimento entra num processo de superação, quando seu excesso acaba em dispersão. Ao adquirirmos conhecimento, livramo-nos daqueles que se tornam vagos e ilógicos. Temos, assim, um processo metonímico de comutação. Quando Baudrillard fala que a imagem do homem sentado contemplando o horizonte e seu silêncio se tornará uma bela imagem no futuro, começamos a pensar outra vez sobre a relação tudo-nada, a que se refere Wim Wenders, graças à anulação da presença do silêncio no meio dessa invasão comunicacional e informativa. Acho que esse interesse no silêncio já está, aos poucos, surgindo. Há um anúncio de TV que mantém o silêncio, deixando apenas as imagens e as palavras correrem. Isso quebra o cotidiano de informações ininterruptas e acaba prendendo o telespectador.

ENSAIO 2: "TRANSESTÉTICO"
A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes ela assumia um caráter próprio por receber as influências dos indivíduos que a moldavam. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impôr seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existe mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada. Continua também com suas características de proliferação de seus discursos sedutores e/ou destruidores.

No ensaio "Transestético", percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte numa estase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

A evolução do homem, já analisada em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "transestetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo. Isso não é uma descrição clara dos Mamonas Assassinas? Todo o besteirol, a lixo-cultura que eles empreenderam se tornaram uma ideologia que é cultuada até hoje, mesmo depois da morte do grupo.

Nesse ensaio, o ideal do transversal é esclarecido. Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. Baudrillard diz que é assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. Mas ele pisa num terreno contrário a arte. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

O homem é uma criatura iconoclasta. Os ícones nos fazem crer na possibilidade da existência. Toda imagem nos passa alguma coisa, mas a profusão delas nos leva a um apagamento dos vestígios e das consequências. Seria fácil colocar a existência de Deus em questão, mas as imagens transmitidas por ícones não nos permitem deixar de crer. Assim, devemos considerar a arte contemporânea como os ícones e suas imagens, levando em conta sua função antropológica sem critérios ou julgamentos estéticos.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois se elevou a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil, como já foi analisado. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

Para Baudrillard, a arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Arte ao Lado: Otávio Oliveira

Otávio Oliveira é o filho do meio, o “mais diferente dos três irmãos”, como ele diz. Era considerado o artista da família, pois, ainda criança, demonstrou facilidade em desenhar tudo que o cercava. Com o tempo, se interessou por música e aprendeu vários instrumentos musicais (quase se formou em violão clássico). Lia avidamente todos os livros que caíam na sua mão. Na hora de escolher uma carreira, sabia que necessitava fazer algo que o sustentasse, porém, era imprescindível que houvesse algum tipo de arte associada à profissão.

A odontologia apareceu como a “resposta perfeita”. Tornou-se um dentista pós-graduado em prótese, habilitando-o a lidar com a correção funcional e estética dos problemas causados pelas perdas dentária. A profissão permitiu uma vida digna a seus filhos e supriu sua necessidade de estar perto da arte.

Ele sabe que existe um grande lado de ciência no que faz. Após a parte técnica e a parte funcional do trabalho, entra a escultura dos elementos perdidos que deve estar em harmonia não só com os outros dentes, mas com todo o rosto. É preciso estudar a face de cada pessoa individualmente, pois “perceber suas peculiaridades é vital na criação não só de um sorriso bonito, mas de um sorriso que represente a verdadeira felicidade daquele que sorri”

Para Otávio, a arte é literalmente transformadora:
“Só a arte pode nos dar a sensibilidade necessária para perceber tais nuances. Tê-la dentro de si é um privilégio. Me sinto abençoado por isso.”
E é abençoado mesmo porque a arte transborda dele. Otávio foi meu dentista por um período curto, mas nos reconectamos através das redes sociais. Foi onde eu conheci o pai de família, o romântico, o músico, o cantor, o escultor, o pintor… o artista que ele é por completo.