segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Impressões

Ontem terminou a grande exposição Impressionismo: Paris e a modernidade no Centro Cultural do Banco do Brasil. Com filas intermináveis diariamente - inclusive nas madrugadas de viradão cultural - acredita-se que mais de 500 mil foram ver as 85 obras no Rio de Janeiro (especula-se 320 mil em São Paulo). Já tem algum tempo que eu visitei, mas só agora estou escrevendo porque queria amadurecer algumas coisas.

Le joueur de fifre (1866)
A exposição trouxe pela primeira vez ao Brasil uma seleção do acervo do Museu d’Orsay. Para se ter uma ideia do tamanho da empreitada, o projeto começou há dois anos, custou R$ 11 milhões, foi anunciado como o maior da história do CCBB e envolveu requintes — além de cuidados cirúrgicos com temperatura, iluminação e manuseio (foi necessária a construção de uma reserva técnica refrigerada para conter o acervo) — como o transporte das telas em dias (e voos) diferentes, para minimizar o risco de perda, caso algo desse errado na operação de logística, cujos detalhes foram mantidos em sigilo.

A mostra foi dividida em seis módulos temáticos que apresentaram as obras de Camille Pissaro, Claude Monet, Edgar Degas, Édouard Manet, Henri Toulosse-Lautrec, Paul Cézanne, Paul Gauguin, Pierre-Auguste Renoir e Vincent Van Gogh, entre outros mestres.

Na segunda sala, estava O tocador de pífaro, de Manet, que se tornou a imagem da exposição. O quadro foi rejeitado pelo Salão de Artes de Paris em sua época — quando foi defendido pelo escritor francês Émile Zola — e hoje é destacado pelo presidente do Museu d’Orsay como um dos maiores patrimônios da França. Na rotunda do CCBB, foram instalados quatro grandes painéis com cenários parisienses para que os visitantes se fotografassem nas locações francesas.

Femme au boa noir (1892)
Para aqueles que gostam de arte, foi um prato mais do que cheio: é pensão completa! E pra quem conhece um pouco de Impressionismo, ver a técnica de cada um foi de um valor inestimável. Pinceladas únicas se tornaram obras de arte. Já não é de hoje que gosto desse "ismo" e essa exposição só me fez ter certeza disso. E também reafirmei meu gosto pelas obras de Lautrec: Mulher de boá preto, em papelão é lápis de cor, é de cair o queixo.

Sobre a exposição em si valem alguns comentários:
  • Era uma exposição bem grande. Não digo isso pelo número de obras, pois já houve exposições com um número bem maior; digo pela informação. Cada obra tinha uma legenda explicativa trilíngue! Pra mim isso é excelente de ser feito no Brasil. Somos país de (quase) aculturados e só "ver o quadro pra dizer que viu" não significa que você sabe alguma coisa. Oferecer algo mais ao público mesmo que nem todos se interessem é louvável.
  • A ambientação em si era simples, pois a importância está nas obras. Alguns bancos foram colocados em ótimas posições para apreciação. Concordo com tudo isso, mas ainda acho que merecia um pouquinho mais. Mas isso é coisa minha de designer que já trabalhou com isso. Estava ótimo.
  • Pra mim, as filas foram exageradas, por mais organizada que fosse. Brasileiro tem que aprender que fila não significa sucesso. Até entendo a necessidade de só entrarem grupos de 50 pessoas em cada vez, mas deveria ter sido um esquema "sai um, entra outro". Cada grupo que entrava acabava caminhando junto e as salas ficavam saturadas. Era só entrar e 50 pessoas ficavam paradas no painel com projeções. O "tocador" parecia a Monalisa! Soube de gente que fazia o inverso: entrava, ia pro final da sala e terminava no começo.
  • A exposição estava linda, as obras eram MARAVILHOSAS, coisa e tal... mas vamos ser sinceros? Não foram obras do primeiro escalão. Claro que você tinha uma ninféia de Monet e umas baliarinas de Degas, mas não eram os principais desses artistas. Repito o que disse sobre o país de aculturados, então, isso não importaria... mas acho que está na hora de sermos vistos como um público que quer sim consumir boa cultura.

No todo, a exposição mereceu um nota 9,5. Mas o público carioca mereceu nota 10. Compareceu, não chiou, lotou as madrugadas de "viradão impressionista", divulgou... Excelente! Só falta alguém enxergar que a gente não quer só comida / a gente quer comida, diversão e arte!

Um comentário:

Graça disse...

Na minha vida profissional essa exposição teve um ineditismo. Do universo de 173 alunos com os quais trabalhei esse ano só uma turma de 18 alunos foi levada pela professora. Os demais, e a maioria foi conferir, o fizeram espontaneamente. Você está certo: "a gente quer comida, diversão e arte!"