domingo, 27 de maio de 2018

A Imaginação dos Quadrinhos vs. A Física da Realidade – O combate psicológico que atormenta crianças no mundo inteiro

Trabalho produzido em 27 de maio de 1997, para a disciplina Física Experimental, do Prof. Arruda, enquanto eu estudava no segundo ano da ESDI.
Aqui vale uma explicação: em certa aula, o professor resolveu reclamar sobre os desenhos animados que desafiam às leis da física, dizendo que isso era ruim para a sociedade. Eu retruquei imediatamente e um pequeno debate se instaurou. Por fim, perguntei se poderia não fazer a prova do semestre, caso eu provasse que ele estava enganado. O trabalho (meio arrogante e totalmente desafiador) a seguir foi a prova. A nota foi 10.

INTRODUÇÃO
No mundo real, ninguém pode voar como o Super-Homem, ou subir pelas paredes feito o Homem-Aranha. Mas qual seria a graça desses personagens se vivessem conforme conceitos estritamente científicos? E com o Super-Homem desafiando as leis da gravidade com sua força incrível, crianças poderiam saltar dos prédios acreditando que poderiam voar ou, então, tentar parar um ônibus escolar com as mãos... Será que as novelas surreais, os filmes violentos e os livros de romances não são tão culpados quanto os super-heróis dos quadrinhos? Mesmo sabendo da poderosa influência dos meios de comunicação, dar a eles toda a culpa não é um modo de desviar a atenção dos verdadeiros problemas que nossa sociedade enfrenta: violência, alienação e imoralidade?

IMAGINAÇÃO VS. REALIDADE
Existe um mundo no qual a ciência é milagrosa. Pesquisadores jamais erram, mesmo sem realizar testes ou perder tempo com estatísticas. E, embora não apareçam em congressos ou lecionem, podem dispensar bolsas e patrocínios. A falta de dinheiro nunca é problema. Não se sabe de onde vêm os recursos, mas inventos mirabolantes e fenômenos surpreendentes surgem dia após dia com material surgido do nada. Tudo é possível nas histórias em quadrinhos. A psicologia diz que "no mundo dos super-heróis, a ciência está mais próxima da mágica."

Por isso, ler histórias em quadrinhos é muito bom. Essa fantástica criação artística do homem nos transporta ao mundo da magia e do encantamento. Os enredos cheios de imaginação, narrados por meio de imagens e textos rápidos, são o nosso passaporte para o reino da fantasia, onde prevalece o faz-de-conta. E, mesmo quando as historinhas abordam temos menos inocentes, não temos dúvidas: os quadrinhos traduzem o espírito de aventura do homem no século XX.

É mais do que fato, porém, o enorme poder de comunicação das histórias em quadrinhos: é inegável. Hoje, elas frequentam diversas escolas, servindo de material didático auxiliar, configurando uma alternativa às atividades pedagógicas tradicionais. E, por ser um produto largamente difundido, os quadrinhos acabam influenciando a formação e educação de crianças, jovens e até adultos. Portanto, convém manter-se atento ao tipo de mensagem e valores transmitidos. Trata-se de uma precaução oportuna, mas em contrapartida, seria ingenuidade supor que os quadrinhos modifiquem a visão de mundo do leitor.

Pelo contrário, os quadrinhos considerados adultos ou infanto-juvenis muitas vezes tentam retratar a realidade para tornar suas histórias mais reais, podendo assim mostrar como se deve ou não agir em determinadas situações. Superpoderes ou inventos absurdos são apenas detalhes para aguçar a imaginação e estimular o raciocínio dos leitores.

Além disso os quadrinhos incentivam o leitor a buscar outros textos e a desenvolver o senso de observação das imagens. O livro, portanto, não fica excluído em termos de importância e interesse: ele veicula outro tipo de conhecimento, propõe situações novas e exige leitores mais atentos, com maior capacidade de concentração, para interpretar suas mensagens. É um exercício mais complexo para a imaginação dos leitores.

FICÇÃO CIENTÍFICA - A GRANDE VILÃ?
Ficção científica é a fantasia a respeito da ciência. Entre temas tão antigos, como terror ou amor, a ficção científica é mais recente. Entendê-la e usá-la seria impossível caso a ciência não fizesse parte do dia-a-dia de todos, o que só foi possível a partir do século XIX.

Frontispício de uma edição inglesa de
Frankenstein, de Mary Shelley,
publicada pela Colburn and Bentley
em 1831. Gravura feita por
Theodor von Holst (1810-1844).
Há quem registre o surgimento da ficção científica no ano de 1818, quando Mary Shelley publicou seu livro Frankenstein, pois foi utilizando de tecnologia e conhecimento científico que o Doutor Frankenstein criou o monstro.

O moderno, associado à ciência e ao desenvolvimento tecnológico, é, portanto, obrigatório ao gênero. Claro que a fantasia a respeito da ciência já existia antes, mas de formas menos científicas. às vezes, muitos autores conseguiram antever o futuro com bastante acerto. Em outras, fizeram predições disparatadas. Exemplificando Jules Verne, que mostrou sua insanidade ao criar um canhão propulsor para levar humanos à Lua em seu livro Da Terra à Lua, mas mostrou previsões científicas ao criar o Nautilus, famoso submarino de seu romance Vinte Mil Léguas Submarinas.

Em pouco tempo, a ficção científica revelou-se extremamente fértil. Grandes escritores, como Isaac Asimov, Ray Bradbury, H. G. Wells, H. P. Lovecraft e tantos outros escreveram textos dessa "ficção semelhante à ciência", partindo de informações científicas bem detalhadas e concretas ou recorrendo mais à fantasia do que ao conhecimento tecnológico. Hoje há uma classificação que distingue a ficção científica entre hard e soft. A hard explora as informações científicas com muitos detalhes, concentra-se mais nas Ciências Exatas. A soft parte de reflexões filosóficas e sociológicas sobre o homem, de como a vida poderia se transformar após uma nova descoberta ou invento. Alguns subtemas da ficção científica são apavorantes como histórias de terror. E há outros mais otimistas quanto ao futuro da humanidade.

Para os fãs de gibis, nem pensar em tirar a ficção científica da história. Sem os cientistas, quebrando todas as regras, os quadrinhos não teriam o mesmo enfoque. Em grande número dos enredos dos quadrinhos. É a ciência que determina o ponto alto de uma aventura.

Tintim, o herói desenhado pelo belga Hergé, foi o pioneiro no uso da ficção científica nos quadrinhos. Quarenta anos antes de o homem alcançar a Lua, Tintim pisou o satélite a bordo de um foguete caseiro, construído pelo Professor Girassol. Em 1933, Flash Gordon foi o primeiro personagem americano a rumar para o espaço, mais precisamente, para o planeta Mongo, que, de acordo com a imaginação fértil do quadrinista ameaçava invadir a Terra. O Doutor Zarkof, um eminente pesquisador, envia, então, o herói para Mongo, em um foguete de fundo de quintal como o de Tintim.

Esse tipo de máquina é inviável no mundo real, começando pela velocidade necessária para escapar da Terra (aproximadamente 40.000 km/h). Ainda teria a questão das coordenadas de alvo, pois, estando a Terra e a Lua em movimento, complicados cálculos e um programa de correção de percurso seriam imprescindíveis. Para tudo isso, seria necessário tecnologia de ponta, o que não é fácil de se encontrar em um fundo de quintal de pequenos laboratórios caseiros.

O Super-Homem, o herói mais popular de todos os tempos, é talvez um dos maiores erros físicos que já existiram. Os superpoderes do personagem estão diretamente relacionados à pseudociância dos quadrinhos. A visão de raios X do herói é absurda; ele jamais poderia enxergar através das coisas. Comparando com os aparelhos hospitalares usados para registrar imagens do interior do corpo humano, fica claro como é impossível os olhos do Super-Homem emitirem um feixe de raios X para captar a imagem registrada no mesmo olho que emitiu o feixe. Além disso, o Super-Homem não poderia voar sem ter propulsão, sustentação e sem consumir uma monstruosa quantidade de energia. No final da década de 30, as aventuras desse "erro físico" estouraram as estatísticas de vendas, por causa do ânimo de seu público, alarmado com a possibilidade de explodir a Segunda Guerra. Somente o Super-Homem seria capaz de vencer o nazismo. Na sua cola, vem a legião dos super-heróis, baseados na ficção científica. Era a Era de Ouro dos heróis.


A ciência também era tratada como algo temível. Os grandes inimigos dos super-heróis eram cientistas ricos e inescrupulosos, como Lex Luthor e Dr. Silvana. Todo o tipo de projetos absurdos era válido para esses cientistas dominarem o mundo. Mas a figura do Capitão América trouxe a ciência para o lado dos mocinhos. Com a maré da euforia antinazista, o herói deu coragem e patriotismo aos jovens e amedrontados soldados americanos. Ele surgiu a partir de uma experiência química que lhe desenvolveu a musculatura, como os anabolizantes atuais. A diferença é a velocidade de ação. Os anabolizantes não tem ação rápida, como o Soro do Supersoldado do Capitão América, e sim um crescimento muscular gradual.

As histórias do Quarteto Fantástico chegam a ser cômicas de tantos inventos absurdos. São "nulificadores de antimatéria", "absorventes de energia cósmica para recarregar ciborgues blindados de proteção civil", "disparadores de energia negativa reversa", "deslizadores espaço-temporais com âncoras dimensionais", etc. Eles sempre têm o invento certo para a situação certa.

O Homem de Ferro, outro famoso personagem, era um empresário milionário que construiu uma superarmadura de metal maleável com computadores internos e diversos equipamentos embutidos. Sua armadura lhe conferia a capacidade de sair a salvo de rajadas balas. Impossível. Se o metal é maleável, ele se rasgaria todo ao ser atingido pelas balas. Além disso, o Homem de Ferro conseguia tirar expressões de felicidade, espanto e raiva de seu elmo. Ou seja, ele possuía os músculos faciais mais fortes do mundo, pois conseguia dobrar metal com eles.

Um jovem estudante foi picado por uma aranha radioativa, transferindo os poderes de um aracnídeo a ele, e se tornou o Homem-Aranha, o herói mais popular entre os leitores infanto-juvenis. Desde tempos remotos o homem tenta se associar aos animais, mas o Homem-Aranha extrapolou essa ideia. Seus poderes de adesão, ou seja de escalar paredes, são impossíveis. As pontas dos dedos do herói jamais seriam capaz de suportar o peso dele. Quanto mais alto ele subisse, maior seria sua energia potencial e, portanto, maior seria a força que seus poderes de adesão teriam que realizar. Até que seus ossos não aguentariam o peso e arrebentariam.

Mas não foram só os quadrinhos de super-heróis que abordaram a ficção científica. Nos anos 50, surgia o maior símbolo da ciência nos quadrinhos: o Professor Pardal da Disney, com a placa na porta de seu laboratório "Inventa-se qualquer coisa". Na ciência real, também há muitos inventores malucos, alguns que até plagiam o Professor Pardal, como, por exemplo, um engenheiro inglês desempregado que construiu uma bicicleta voadora, que – justiça seja feita – já havia sido projetada pelo cientista da Disney.


Mas nem sempre a ciência dos quadrinhos está errada: nas histórias de Flash Gordon já apareciam aparelhos de TV. A própria NASA admitiu ter se inspirado nos quadrinhos para buscar novos equipamentos espaciais.

JÁ TENTARAM CENSURAR!
As histórias em quadrinhos tiveram seus obstáculos desde o início. A maior editora do ramo na década de 30, a DC Comics, montou um conselho editorial formado por psiquiatras, especialistas em bem-estar infantil e outros cidadãos famosos e bem respeitados a fim de garantir que a DC Comics não fosse danosa, mas sim benéfica para as crianças.

Fredric Wertham é o nome do homem que iniciou a "Caça aos Quadrinhos". Após sete anos de estudo sobre a influência dos gibis nas criançaas, Wertham formou a base de seu livro Seduction of the Innocent. Ele argumentou que "o número de 'bons' quadrinhos não vale a pena ser discutido, mas o grande número do que faz se passar por 'bom' certamente merece uma atenção mais cuidadosa".

Os efeitos da campanha de Wertham foram imediatos. As revistas em quadrinhos começaram a ser examinadas e diversas delas foram declaradas carregadas de ensinamentos comunistas, racistas e sexuais. Foi relatada até uma queima pública de quadrinhos após uma coleta feita de casa em casa.

Em resposta a esse ato, várias editoras de quadrinhos formaram a Association of Comics Magazine Publishers (Associação de Editoras de Revistas em Quadrinhos). A principal função da ACMP era administrar um conjunto de diretrizes sob as quais os quadrinhos de seus membros teriam de ser aprovados.

Porém, havia aqueles que discordavam de Wertham, tais como Frederic Thrasher, que escreveu no Journal of Educational Sociology: "Fredric Wertham afirma taxativamente que os quadrinhos são um fator importante na causa da delinquência juvenil. Esta posição extrema, que não é substanciada por nenhuma pesquisa válida, não só é contrária a parte considerável do atual pensamento psiquiátrico como também desconsidera procedimentos de pesquisa aprovados e testados...". Apesar disso, a indústria das HQs finalmente acabou sendo investigada pelo governo federal para investigar o crime organizado.

A afirmação de que os crimes cometidos em quadrinhos eram copiados por crianças foi um reforço para o livro de Wertham. Ele conseguiu, através de artigos complementares em jornais da época, apresentar casos de delinquência infantil nos quais cada acusado admitia que tinha se inspirado nos quadrinhos.

Embora tenha escrito no prefácio do livro que nem todos os quadrinhos são ruins, Wertham concedeu licença a si mesmo para atacar todos os outros. No entanto, cometeu diversos erros. Considerando que as HQs eram exclusivamente infantil, esqueceu os quadrinhos de adultos que os soldados liam durante a Segunda Guerra Mundial.

Outro erro foi sua frequente alegação de culpa por associação. Muitas crianças que cometiam crimes liam quadrinhos e, portanto, os quadrinhos eram a causa da delinquência infantil. Ao chegar a esta conclusão limitada, Wertham ignorou claramente quaisquer outros fatores envolvidos.

O Comics Code Authority foi decorrência das conclusões das audiências da Subcomissão do Senado Americano de 1954 que investigou o efeito dos quadrinhos sobre a delinquência juvenil.

A indústria das histórias em quadrinhos formou, então, a Comics Magazine Association of America. A CMAA adotou o código e estipulou os meios para administrá-lo. Apenas as revistas com o selo do código na capa poderiam ser distribuídas. Algumas editoras modificaram seus títulos de maneira drástica ou saíram do ramo.

O último livro de Wertham, The World of Fanzines, serve como uma espécie de conclusão de sua carreira. Nele, Wertham examina um certo grupo que já havia se tornado uma subcultura significativa de nossa sociedade: o fanzine. Segundo Wertham, os "fanzines mostram uma combinação de independência que não se encontra facilmente em outras partes da nossa cultura" e acabou concluindo que "eles são válidos e construtivos. A comunicação é o oposto da violência. E toda faceta de comunicação tem um lugar legítimo".

É difícil acreditar que isso foi escrito pelo mesmo autor de Seduction of the Innocent. De acordo com ele, esses fãs haviam se beneficiado através de suas experiências com quadrinhos e ficção científica e não haviam se tornado criminosos.

O que ficou claro foi que o texto do código se baseava em censuras para os padrões estipulados de violência, linguagem, situações sexuais, uso de drogas e outras situações controversas. Não havia nada que especificasse a proibição de temas científicos que desafiassem as leis naturais e contradissessem a física. E mesmo assim, a diretora executiva do Comic Book Legal Defense Fund, já disse que até mesmo esse código perdeu qualquer poder que tenha tido um dia.

A CULPA DE VERNE
Jules Verne (1825-1905) foi um novelista francês que fez curso de Humanidades, antes de estudar Direito. Foi um dos primeiros escritores a praticar uma literatura de antecipação, na linha da moderna ficção científica. Descobriu seu verdadeiro gênero literário ao escrever algumas narrativas de viagens. Seu primeiro grande êxito, Cinco Semanas num Balão, apareceu em 1862, na revista Magazin d'Éducation, cujo diretor ofereceu a Verne um vantajoso contrato para que ele escrevesse duas novelas por ano. Entre suas obras mais conhecidas, figuram: Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte Mil Léguas Submarinas (1869) e Viagem ao Redor do Mundo em Oitenta Dias (1872).

Em todos os seus livros de viagens e aventuras, Verne predisse grande parte dos inventos que se tornaram realidade no século XX, desde o submarino às naves espaciais, em verdadeira antecipação do futuro. Além do sentido didático, suas novelas estão escritas em estilo claro, fluente e vigoroso. O autor desenvolve a ação episódica metodicamente, deixando o leitor preso à história, sempre de elevado nível imaginativo. Descendo ao seio da terra ou subindo aos espaços siderais, Verne nunca se deixa trair por situações ridículas, transpirando de seus relatos uma estranha verossimilhança.

Recebido com o maior interesse pelos leitores cultos, Verne caiu logo para a leitura juvenil e infantil: as crianças do mundo inteiro leram seus romances, que foram justamente nessa época superados pela evolução técnica. Hoje, Verne é novamente lido, resistindo à ação corrosiva do tempo com permanente fascínio, reconhece-se nele a oposição do espírito de aventura contra o racionalismo do século XIX. Ele continua sendo o responsável, da maneira mais agradável possível, pelo despertar do interesse pelas viagens espaciais, pela pesquisa das profundezas da terra, pelas maravilhosas viagens oceânicas.

Não seria, então, Verne o culpado de tudo? Afinal, desde o século passado, que Verne vem enchendo a cabeça de crianças, jovens e adultos com situações bizarras de contradições físicas. Nem mesmo Wertham o acusou!

OS SONHOS DE DA VINCI
Leonardo Da Vinci foi um desenhista sem igual, e seu traço - às vezes rápido e forte, outras vezes hesitante e fluido - não lhe servia apenas para anotar as primeiras ideias de suas pinturas, mas o ajudava a ilustrar e comentar suas observações científicas : desenhos de flores e animais se aproximavam, com habilidade, de detalhes da anatomia, e os de estratificação da crosta terrestre, com os "dilúvios" e os "turbilhões" dos ventos e das águas.

Nas asas de seus anjos, encontram-se evidências dos seus estudos sobre o voo dos pássaros que o intrigava sobremaneira. Da Vinci escondia em suas obras e filosofias o desejo ardente de extrair do mecanismo perfeito das asas o segredo que, em sua imaginação, permitiria a realização do sonho de Ícaro (personagem da mitologia grega), para dar ao homem a possibilidade de voar.


Mais do que um artista, Da Vinci era um gênio. Seus inventos tinham total estudo físico e geométrico, mas em relação aos conceitos científicos daquela época. Wertham com certeza o internaria.

CONCLUSÃO
Culpar os quadrinhos por estarem distorcendo o pensamento das crianças é uma bobagem. Toda criança precisa estimular sua imaginação e criatividade de várias formas, até mesmo para saber diferenciar realidade de ficção.

Mesmo sabendo que a percepção visual de uma criança é muito limitada, não demora muito até elas perceberem a diferença entre, por exemplo, o Tom e o Jerry e um gato e um rato de verdade. Afinal, os animais de verdade não falam, não se vestem, não telefonam e nem usam artefatos do homem para seu benefício. Outro exemplo é o Pica-Pau. Quando as crianças vêem um pica-pau de verdade, elas até se decepcionam, pois não é aquele pássaro pestinha que atazana a vida de todo mundo com sua risada chata.

Os super-heróis não fogem dessa teoria. As crianças não vêem homens voando, escalando paredes ou soltando raios pelas mãos. Fica fácil separar os dois universos. O grande problema está na mensagem transmitida. Se as crianças vêem um super-herói matando sem consequências ou usando drogas, elas acharão que isso é legal e bom. Mas isso não acontece. Os super-heróis são carregados de moralidades e códigos de honra, passando boas impressões aos leitores. Desenhos animados como The Simpsons e Beavis and Butt-Head são verdadeiras drogas da sociedade.

The Simpsons é o desenho animado de uma família completamente fraca e cheia de problemas. Os princípios da família são destruídos, sendo retratados de uma forma genérica. Sem personagens com superpoderes ou animais falantes, as crianças se inspiram muitas vezes nos hábitos da família americana e acabam criando problemas em casa e na escola.

Beavis and Butt-Head
Beavis and Butt-Head é um desenho animado da MTV que conta as aventuras de dois garotos que gostam de música pesada e vivem sozinhos fazendo besteiras. Eles são completamente alienados por viverem assistindo a emissora que os criou e gostam de sexo e violência. Nos EUA, já foram constados diversos acidentes de crianças e adolescentes que resolveram imitar os dois personagens.

Se os desenhos da Warner Bros. e Hanna Barbera fossem analisados profundamente, teriam que ser censurados. A violência empregada nos desenhos do Tom e Jerry e nas caçadas do Coiote Coió ao Papa-Léguas é muito grande (sem contar os absurdos físicos, como demorar diversos segundos para cair de um abismo). Comichão e Coçadinha, o desenho animado dentro do desenho animado The Simpsons, é a violência sem limites. A loucura do Pica-Pau também é algo preocupante. O pássaro realiza feitos completamente insanos e sádicos sem qualquer motivo ou sentido.
Comichão e Coçadinha


Mas, saindo dos quadrinhos e desenhos animados, temos que lembrar que é muito mais difícil para uma criança separar os filmes da realidade. Crianças temem os monstros do filme, porque não sabem que são apenas efeitos especiais e maquiagem. O filme Superman poderia fazer uma criança se jogar de um prédio para tentar voar. No entanto, o filme Anjo Malvado poderia fazer uma criança matar seu irmão por ciúmes. Os personagens reais dos filmes geram uma identificação mais clara com a realidade.

Talvez seja nesse ponto que entra um fator essencial para tudo isso: a educação familiar. Os pais devem agir, mostrando às crianças o que é real e o que é invenção. A conversa entre pais e filhos pode impedir desgraças inspiradas em desenhos, filmes ou quadrinhos. Mostrar que um homem não pode voar ou matar sem sentido é importante para a formação de um caráter incólume de uma criança. Os pais ainda enfrentam o grande obstáculo de prepará-los para o mundo exterior, tendo que fugir de diversos paradoxos, como dizer que matar é ruim e leva à prisão, sendo que diversos bandidos estão soltos na rua, com a violência aumentando a cada minuto.

Vamos, então, deixar de lado às censuras aos quadrinhos e suas loucuras físicas e nos preocupar mais com o nosso mundo real. Devemos estimular a imaginação e a criatividade das crianças para que elas sintam necessidade de buscar soluções para nosso mundo doente.

BIBLIOGRAFIA

  • Da Vinci. Coleção de Arte. Editora Globo.
  • Enciclopédias Barsa e Mirador.
  • Revista Superinteressante, Setembro 1993.
  • Revista Wizard, Fevereiro e Março 1997.
  • IANNONE, Leila Rentroia e IANNONE, Roberto Antonio. O Mundo das Histórias em Quadrinhos. Coleção Desafio. Editora Moderna.
  • KUPSTAS, Marcia. Sete Faces da Ficção Científica. Coleção Veredas. Editora Moderna.
  • VERNE, Jules. Viagem ao Centro da Terra. Coleção Elefante. Ediouro.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Arte?

Texto produzido em 21 de maio de 1996 para a disciplina História da Arte Contemporânea, do Prof. Geraldo Andrade, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

É muito difícil dar um significado para a palavra arte. É um conceito muito abstrato e flexível, porque varia dentro de uma conjuntura internacional própria e em relações interculturais.

A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes, ela assumia um caráter próprio, bem elitizado, por receber as influências de uma minoria intelectual que a moldava. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impor seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existem mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada.

Percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte num êxtase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

O mais interessante é o fato de que os objetos que já foram tachados como arte continuam sendo cultuados como obras-primas. A sociedade volta a entrar em inércia e não revê os valores artísticos. As mudanças de pensamento e de critérios de julgamento poderiam transformar claramente uma obra em "uma simples brincadeira de criança que qualquer um faria". O exemplo "Stan Lee" é perfeito para explicar isso. Talvez suas primeiras histórias em quadrinhos não o façam um artista. No entanto, quando ele realmente entrou para o universo das HQs, toda e qualquer criança que lesse as maravilhosas sagas de super-heróis o considerava mais do que um artista. Será que seus desenhos modernos e seus textos fictícios não podem ser considerados arte? Depende de quando e a quem se pergunta.

A evolução do homem, em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "estetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo.

Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. É assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois elevou-se a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

A arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Expectativa infinita

A última vez que fui ver um filme duas vezes no cinema foi em 2004 no primeiro Jogos Mortais (Saw), mas eu precisava fazer isso novamente em Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018). Não somente por ser fã, mas para ter certeza do que ia escrever aqui sem ser herege...

O filme não é isso tudo.

Pronto. Falei.

A junção de todos os personagens é sim o grande fator de vitória desse filme que já estourou bilhões de recordes e dólares. Mas eu saí da primeira sessão que fui com o sentimento de que tinha muito furo de roteiro. Poucos minutos depois eu já tinha uma lista. Preferi, então, ver de novo e a lista meio que se ratificou (e aumentou).

Sou fã, mas não sou cego. A Marvel tem a capacidade incrível de amarrar filmes diversos com essa quantidade absurda de heróis/celebridades. Sabe fazer filmes grandiosos com cenas emocionantes e impressionantes... mas dessa vez ela se complicou. Até conversei com uma amiga (né, Déa!) sobre a a necessidade de um filme entreter e emocionar, mas esse ficou só no entretenimento.

A partir daqui... SPOILERS. Continue por sua própria conta e risco.

Aliás... essa história de spoiler vale um adendo antes de começar. A Marvel fez uma campanha enorme para que as pessoas evitassem comentar o filme após ter visto. Claro que isso funcionou para aumentar as vendas de ingresso, mas ela deveria lançar menos trailers com cenas fundamentais – e olha que dessa vez ela até foi malandra porque colocou em trailer uma monte de cena que não apareceu NESSE filme. Isso criou um aumento exponencial da expectativa ao redor desse filme... o que já era altíssimo ficou estratosférico, assim como a frustração.

Sempre que te peguntarem "primeiro a notícia boa ou a ruim?" responda que quer a ruim primeiro porque depois a boa pode suavizar a situação. Então, vamos aos INÚMEROS problemas... começando com o maior furo:
  • Dr. Estranho. Se você ainda não viu o filme do Dr. Estranho, veja e entenda como ele não só entrega o próximo filme como ele é o maior problema. Nesse filme, vemos um exponencial crescimentos dos poderes do mago. Porém, em seu filme – onde ele ainda está APRENDENDO a controlar as artes místicas –, ele consegue entrar na Dimensão do Espelho, onde mantém a integridade da realidade... consegue viajar para a Dimensão do demônio Dormammu... consegue usar o Olho de Agamotto (a Joia do Tempo) para reformar tudo. E nesse filme ele faz o quê além de escudinhos, chicotinhos e portais espaciais? Por que ele não levou os primeiros alienígenas para a Dimensão do Espelho? Por que ele não abriu um portal de Titã para a Terra? E não me venha dizer que foi por causa do plano do Stark. E pior... por que ele nunca usou a Joia??? Aí você vai dizer "ah, mas ele usou para prever os futuros" e então eu digo "pronto, ele entregou o filme". Essa cena é a que já diz que tudo está acontecendo porque é assim que tem que acontecer.
  • Hulk fracote. O que estão fazendo com o Hulk desde o Ragnarok é inadmissível. Nem é um dos meus personagens preferidos, mas ele se tornou um idiota. Bruce também não era um idiota... é só ver o primeiro filme dos Vingadores e ver o que está certo. Aliás, nesse filme também vemos uma forma de tirar o medroso* Hulk de dentro de Bruce: é só jogar na meio da batalha. (*o asterisco é porque os roteiristas disseram que não é medo da surra que ele levou de Thanos: Hulk está só fazendo birra. Ou seja.... ridículo).
  • Visão fracote. Um corpo feito de adamantium capaz de mudar a densidade. Uma joia do infinito na testa. E tudo que ele sabe fazer é cabelo e pele pra ficar de namorico? Sério? Por que isso? Com uma lança alienígena já tiraram a capacidade dele mudar a densidade? E o adamantium? Não é nada? Usar a joia pra quê, né?
  • Ultra-mega-blaster-Thor. Tudo que fizeram com ele no Ragnarok foi desnecessário. Pra quê destruir o Mjolnir se iam dar um novo pra ele? Pra quê perder um olho se iam dar um novo tecnológico sem sentido pra ele? Pra quê emanar poderes elétricos se ele só sabe fazer isso direito com o martelo/machado? Aí ele fica vingativozinho e põe tudo a perder porque não enfia o machado na cabeça de Thanos em nome da tortura? Ah tá... a Marvel não mata, mas tortura. Entendi... Pelo menos esse filme confirmou que a Marvel queria acabar em definitivo com a franquia asgardiana: matou TODO mundo que restou (existe uma dúvida se Loki realmente morreu, mas acho que sim... porém... ainda tem uma forma de mudar isso).
  • Capangas poderosos (ou não). Thanos tem quatro capangas extremamente poderosos. Só um tem nome de tão ruins que são. Fauce de Ébano (no filme não aparece o "de Ébano") ganhou superpoderes telecinéticos, quando ele é mais um telepata. Independente disso... eles são tão sem sal, sem propósito, tão iguais e com mortes tão simplórias... pra quê, então? Colocasse generais/agentes sem rosto, nome.
  • Inconstância de poder. Isso tem a ver com os itens anteriores. Hulk foi estabelecido como o mais poderoso do MCU com direito a frase "Nós temos um Hulk". Thor é um deus e rei de Asgard. Visão é de adamantium e usa uma joia infinita. A Feiticeira Escarlate tem o poder de destruir uma joia do infinito e segurar Thanos. Ou seja, quatro personagens que poderiam solucionar o filme, mas que precisaram ser diminuídos e descaracterizados para ficar difícil... (isso sem falar no Groot que poderia resolver algumas situações de forma bem mais rápida, mas se tornou um adolescente bobo #redundância) Mas difícil para um Thanos que usa as Joias do Infinito e tem uma guarda superpoderosa? Aí vem o item abaixo...
  • Onipotências inconstantes das joias. Você viu o primeiro filme dos Guardiões, certo? Com a Joia do Poder que destruía um planeta só de encostar no chão? Aqui ela se resumiu a raios laser... A Joia da Realidade (o Éter, do segundo filme do Thor) é um gerador de ilusões momentâneas (veja cena da desconstrução do Drax e da Mantis, além do flashback de Titã) ou é realmente capaz de mudar a realidade (veja a cena de transformar laser em bolhas de sabão)? Se você pensar bem, só essa joia seria necessária... ou a Joia do Espaço (o Tesseract, ou Cubo Cósmico, do primeiro filme dos Vingadores), pois era só transportar os alvos ou aparecer, pegar e sair. A Joia do Tempo (Olho de Agamotto do Dr. Estranho) e a da Mente (do Visão) são inutilizadas no filme... e a tão procurada Joia da Alma permanece um mistério (que falarei em segredo mais abaixo).
  • Mortes sem apelo. É isso mesmo. Tenho certeza que as cenas finais chocaram todo mundo. Ah... mas vem cá... vocês realmente acham que Homem-Aranha e Pantera Negra, dois mega sucessos atuais da Marvel, vão continuar mortos? Vocês acham que os queridinhos Guardiões vão ficar mortos? Acreditam? Sério? Prestem atenção que TODOS OS VINGADORES INCIAIS ficaram vivos! Isso se chama FECHAMENTO. E é ÓBVIO que os outros vão voltar. Não sei se todos, mas vão. Como? Não sei, mas chuto já.

Podia continuar e falar também no destino absurdo que deram para o Caveira Vermelha, mas vamos suavizar agora com as partes boas:


  • A batalha de Wakanda. A grandiosidade, a força da nação africana (Okoye, líder das Dora Milaje saindo na frente do Pantera), os heróis trabalhando em conjunto (destaque rápido e divertido para Soldado Invernal e Rocky)... é o clímax do filme e dá vontade de ficar só ali.
  • Os Guardiões se tornaram peça fundamental do MCU. Claro que sendo um filme galáctico, eles teriam papel importante, mas percebe-se no cinema que TODO mundo espera por eles. Quill, Gamora, Drax, Groot, Rocky, Mantis e - é claro - o humor e a música que vem com eles. Colocar o Thor com eles é bem significativo... desde que ele foi pro espaço, literalmente, era preciso salvar esse herói e...
  • Ultra-mega-blaster-Thor. Ué... ele está aqui também? Sim. Acho que a Marvel resolveu mostrar que o Thor é mais do que os filmes solo e transformou ele num SUPER-super-herói. Encaixou o humor com o dos Guardiões, deram um novo ultra-mega-blaster-martelo/machado e fizeram suas cenas na batalha de Wakanda serem redentoras! A gente passa o filme esperando ele entrar na luta. Mas vocês já sabem que isso não é de todo bom.
  • Dinâmica heroica. Quill e Gamora. Thor e Quill. Thor e Rocky. Soldado Invernal e Rocky. Okoye e Viúva Negra. Falcão e Máquina de Combate. Homem de Ferro e Homem-Aranha. Dr. Estranho e Homem-Aranha. A presença do Capitão América. A sagacidade de Shuri. Já faz tempos que sabemos que os irmãos Russo (diretores) sabem fazer isso.
  • Mulherada. É inegável a força das mulheres nesse filme. Gamora é praticamente uma protagonista desse filme. Feiticeira Escarlate e Okoye talvez sejam a grande presença, mas parece que nossa eterna querida Viúva Negra vai finalmente ganhar um filme solo. Até Mantis ganhou um papel fundamental na batalha. Já falei da Shuri? Ela é ótima, até mesmo em uma única cena.
  • Armaduras. Tony Stark é realmente um mestre das armaduras. Além da nanotecnologia que transformou a sua armadura em algo incrível e mutante, temos a ótima do Homem-Aranha (conhecido nos quadrinhos como Aranha de Ferro) e a Hulkbuster sendo usada pelo Banner.
  • Thanos. Finalmente a Marvel acertou um "vilão". Já falei bastante aqui nas postagens de filmes o quanto os vilões da Marvel não são exatamente vilões e por isso as aspas. Josh Brolin ajuda a gente a entender o personagem. Não estou dizendo concordar, mas faz refletir e perceber... o filme É DELE, como se os herois só estivessem ali para impedir a sua jornada. E é isso mesmo. Tudo gira em torno de Thanos.

Bom... agora vou colocar palpites e soluções. Só que vou escrever em BRANCO. Se quiser ler – por sua própria conta e risco – marque o texto dentro da área avisada.

[MARQUE O TEXTO] Como eu disse, o Dr. Estranho entregou o filme. Ele fala que só viu uma única vitória dentro de mais de 14 milhões de possibilidades. Depois de inúmeros discursos chatos de ser o grande protetor da Joia do Tempo e deixar bem claro que deixaria o Homem de Ferro e o Homem-Aranha morrerem se fosse necessário, ele entrega a joia pra Thanos em troca da vida de Stark? Ah tá... ÓBVIO QUE ESSE CENÁRIO TODO É A VITÓRIA QUE ELE VIU. ÓBVIO! E vou além: ele usa a palavra ENDGAME antes de desaparecer... tô quase apostando que é o nome do próximo filme (mas pode ser também Avengers Forever, que é uma saga conhecida nos quadrinhos e faz essa referência de não importa quem esteja no grupo ou quem morra, o conceito dos Vingadores não morre nunca).

Evitei falar de quadrinhos, mas eles entregam parte do filme (quem quiser ler mais sobre isso clique AQUI). Esse filme é baseado no Desafio Infinito, saga que Thanos realmente consegue a manopla, as joias e estala o dedo para detonar metade da população do universo. Várias cenas estão desenhadas ali, porém, toda a relação que o "vilão" tem com a Morte (sim, a personificação da Morte) foi retirada do filme por ser sombria demais. Isso abre uma brecha. Não há como saber o que realmente a Marvel vai fazer para trazer a galera de volta (inclusive Asgard/Loki?), mas tenho a impressão que Gamora terá um papel fundamental. Até porque... GAMORA NÃO MORREU! ELA ESTÁ DENTRO DA JOIA DA ALMA. Aquela cena após o estalar de dedos, onde Thanos encontra a pequena Gamora acontece DENTRO da misteriosa joia.

E o Visão também não se acabou. Se você prestou atenção, Shuri conseguiu copiar os neurônios do Visão antes de ser atacada em Wakanda e ela pega um drive. Ali está o cerne do Visão. Provavelmente incompleto, o que deve deixá-lo durante um tempo mais "robótico" até que o amor o salvará... ai ai... quer apostar aqui também?

Mas existe a aposta de uma grande morte no MCU (com direito a funeral filmado) e eu aposto no Capitão América. Chris Evans já disse que seu contrato acabou e ele é a bússola moral da galera. Sua morte deve acabar com as dúvidas entre herois e fazer a união ser definitiva e VINGAtiva. Cogitaram a possibilidade de matar o Stark... mas eu duvido. Ele é o norte do MCU e ainda tem uma ligação muito forte com o Homem-Aranha. Talvez eu quebre a cara aqui e os dois morram... mas antes... tem que ter o reencontro, a reconciliação de ambos. Stark deve voltar de Titã com ajuda de Nebula e eles vão se unir 

Wakanda vai ter uma mudança significativa. Você percebeu que Thanos sentou numa cabana wakandana para ver o pôr-do-sol? Não? Pois é... ele está em Wakanda! Perceba também que M'Baku sobreviveu e, provavelmente, poderia querer o trono novamente. Sem T'Challa caberia a Shuri enfrentá-lo... e isso já aconteceu nos quadrinhos: ela se tornou a Pantera Negra. Dava para encaixar isso com a reconstrução do Visão, porém, a sequência só deve sair depois do próximo filme da equipe. Então, temos que pensar numa Wakanda que aumentou o contato com o mundo e ainda por cima deu de cara com invasores do espaço.

Não podemos esquecer da cena pós-crédito sem qualquer surpresa (porque todo mundo sabe das gravações), onde Fury e Hill desaparecem, mas não sem antes chamar a Capitã Marvel. Independente do nome (que pode confundir os desavisados), a heroína é uma das grandes forças da Marvel e carregará o peso de ser o primeiro filme protagonizado por uma mulher dentro do MCU. É bem possível também que marque o retorno de Coulson ao MCU já que ele só está na série Agents of Shield, mas aparecerá no filme dela. [FIM DO TEXTO]

É isso. Daqui a pouco teremos a sequência do Homem-Formiga com a Vespa e saberemos mais sobre a ausência deles nesse filme. Vamos ver em 2019 se a Marvel conserta isso e nos entrega um futuro relevante para o MCU. Espero estar MUITO errado e ser REALMENTE surpreendido.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Começou a Copa?


Na última Copa, comecei empolgadamente a escrever desde o sorteio dos grupos... provavelmente porque a Copa foi no Brasil. Só que a ressaca do 7 a 1 não acabou. Estou sem a menor vontade de escrever, até porque o maior evento mundial de futebol não tem sido mais a mesma coisa. A Fifa também não. Cheia de escândalos... e ainda querendo aumentar para 40 times. Vocês perceberão o quanto isso será ruim numa copa que já tem Irã e Marrocos na mesma chave, ou Panamá e Tunísia.

Não sei se terei a mesma vontade de escrever como antes, mas, com certeza, verei o máximo que conseguir. Afinal, é a suposta nata do futebol mundial. Vamos lá:


A dona da casa se deu muito bem, porque tem um time bem fraco e pegou uma chave com grandes possibilidades de passar. O Uruguai é talvez a única garantia SE jogar o futebol de 2010... porque não anda muito bem. Todos os olhos estão voltados para o Egito por causa do excelente Sallah, jogador do Liverpool, no entanto, não vejo como ele possa carregar o time sozinho. A Arábia pra mim é uma incógnita. Impossível de prever esse grupo... qualquer um pode sair vencedor. E será um vencedor fraco.


Esse grupo é óbvio. O primeiro jogo já é o clássico ibérico que, provavelmente, vai definir o primeiro do grupo. Não dá nem pra cogitar que Irã (a melhor seleção asiática no momento) e Marrocos façam algo, porém, a disputa entre eles - também na primeira rodada - deve ser um jogo pegado, afinal, quem vencer, ganhará fôlego para enfrentar as potências europeias, enquanto, quem perder, dará adeus. Seria muito bom se a primeira rodada desse só empates... Ai o grupo ia ficar interessante.

Quem passar desse grupo deve se dar bem, porque vai cruzar com o fraco Grupo A e já deve pensar nas quartas. O Uruguai é o único que - supostamente - poderia animar as oitavas.


O interessante desse grupo é sua irregularidade. França é possivelmente a vitoriosa aqui, mas é o time que ou joga bem demais e chega numa final (o que é bem possível porque tem jogadores excelentes) ou faz cagada logo de cara. Dinamarca, Austrália e Peru - sinceramente - estão equilibrados. Acho que o grupo será definido na última rodada, com chances pra todo mundo.


Argentina e Nigéria devem ter algum carma porque sempre se cruzam de alguma forma em Copas. Pode não parecer... mas esse grupo é muito equilibrado. Será que a Argentina tem só o Messi que classificou a seleção sozinho ou virá com força máxima? Aliás... que força? Eles só andam produzindo jogadores de frente, atacantes... nada de bons jogadores de defesa. Já a Nigéria é o clássico futebol africano de força sem qualquer adendo, sendo que anda apresentando problemas extracampo e um futebol bem medíocre. A Croácia é um bom time, eficiente e com bons jogadores. Pode ser até a primeira seleção do grupo, porém, se classificou pra Copa na repescagem... atrás da Islândia! Bom... essa seria a certeza de derrotas... mas depois do que fizeram na Eurocopa 2016, me arrisco a dizer que até a Argentina corre risco.

C e D se cruzam nas oitavas e é muito difícil de prever algo. Seria fácil apostar nas seleções europeias do C mais Argentina e Croácia no D, mas não sei mesmo. Fico achando que Austrália, Peru e Islândia podem dar o que falar.

Considerando que A, B, C e D irão se cruzar nas quartas, provavelmente Portugal e Espanha terão um caminho mais fácil do que quem sair de C e D. Se não tivermos surpresas, teremos clássicos europeus e a Argentina.


E aí estamos nós. Num grupo relativamente fácil, onde só perderíamos para nós mesmos. O primeiro jogo do Brasil vai determinar o caminho: ganhando da Suíça, provavelmente estaremos classificados; empatando, a gente embola o grupo; perdendo, a gente só passa em segundo se ganhar as outras duas. Faço essas previsões porque a Costa Rica - mesmo já tendo surpreendido em Copa e ter um futebol razoável - não deve dar problemas a ninguém. Suíça e Sérvia jogam a vida na segunda rodada, mas tem uma cara forte de empate... o que vai deixar o jogo Sérvia e Brasil com jeito de decisão caso o Brasil perca para a Suíça. Acho difícil o Brasil ficar fora da próxima fase, mas não podemos dar mole...


Que moleza, hein, Alemanha? Primeiro lugar garantido! Pelo menos a disputa do segundo lugar deve ser boa. Todos os jogos entre as três seleções serão tensos, porém, creio eu, que nivelados por baixo. México já está devendo há tempos, mas é o México. Suécia não tem mais Ibrahimovic, mas é a Suécia. E a Coréia do Sul tem o Song jogando um bolão no Tottenham

O segundo lugar do grupo do Brasil vai pegar a Alemanha... ou seja, Brasil, faça-me o favor de passarem primeiro! Azar de Suíça ou Sérvia. Passando em primeiro, o Brasil pega um dos três do F e será pedreira. O melhor seria pegar a Coréia, ma se ela passar, significa que tem algum potencial. México é famoso por detonar a gente em competições americanas e a Suécia é freguês em Copa, mas dá trabalho.


Bélgica e Inglaterra certamente, igual ao grupo C. E elas deram sorte, porque são duas seleções irregulares, mas Panamá e Tunísia não devem ter chance alguma. Nem ser surpresa. As europeias tem que fazer muita merda pra não passarem.


Esse grupo é bem parecido com o D da Argentina... É estranho ver a Polônia como cabeça de chave, mas, num grupo tão equilibrado de forma mediana, é possível que se dê bem. Só que a Colômbia mostrou um timaço na última Copa e manteve um futebol muito bom nas eliminatórias. Por isso, creio que será a primeira do grupo. Com isso, o segundo lugar fica aberto. Japão e Senegal podem acontecer nesse grupo, e, por isso, o jogo entre eles na segunda rodada pode ser decisivo para um deles, fazendo a última rodada ser interessante.

Acreditando em Bélgica e Inglaterra no grupo G, a Colômbia vai pegar uma pedreira nas oitavas, o que faz as duas europeias desejarem ficar em primeiro pra pegar algo mais fácil na sequência.

As quartas aqui se fazem de E, F, G e H, ou seja, Alemanha estará, Bélgica e/ou Inglaterra também. Falta uma ou duas vagas... Brasil? Colômbia? Bom... não acredito em surpresas nas quartas. Pode ser que tenhamos algo nas oitavas, mas nada que vá muito longe.

O futebol internacional está globalizado, porém, desequilibrado. São poucas as seleções que possuem jogadores de alto nível em todas as posições que podem criar uma boa seleção. Brasil acaba, de certa forma, se destacando nisso, assim como Alemanha, Espanha e França. Já Argentina, Colômbia, Portugal, Inglaterra e Bélgica vem logo a seguir com um grande número de bons jogadores (sendo que alguns desequilibram). Ou seja... nove seleções de 32 podem realmente fazer algo e ainda querem botar mais oito? Bom... talvez assim entrassem Itália, Holanda, Chile, Paraguai... mas em que nível?

Algo me diz que essa Copa será um divisor de águas no futuro do futebol internacional e da competição em si.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Reflexões sobre o livro "Transparência do Mal – Ensaios sobre os fenômenos extremos", de Jean Baudrillard

Texto produzido em 1º de maio de 1996 para a disciplina Análise à Informação, do Prof. Jorge Lúcio de Campos, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

ENSAIO 1: "APÓS A ORGIA"
Toda boa redação deve ser dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, devem estar o tema central e as ideias a serem abordadas. O ensaio "Após a orgia" é como uma introdução.

Baudrillard apresenta uma série de argumentos demasiadamente radicais, caóticos e negativos. Chegou a me lembrar o poeta pré-moderno Augusto dos Anjos, que escandalizou sua época por usar um linguajar rebuscado e negativo. Sua radicalidade se expressa pelo excesso de palavras como "tudo", "todos", "nada", "jamais", que, em Geografia, aprendemos a não usar por serem tão generalizantes.

O autor define "orgia" como "o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios". E é nesse pensamento que se seguem seus outros ensaios, explicando-se uma série de liberações de nossa sociedade, relacionadas sempre com a pergunta crucial do livro: O QUE FAZER APÓS A ORGIA?

Não acho que nossa sociedade tenha percorrido "todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, signos, mensagens, ideologias, prazeres". Nossa sociedade tradicional é calcada no ideal de progresso, onde o espaço de experiência é diferente do horizonte de expectativa. Isso nos leva a analisar uma sociedade que sempre procura melhorar através de mudanças sejam elas boas, ou não. Assim, fico impossibilitado de dizer que estamos progredindo no vácuo. Nós não vivemos uma reprodução indefinida em um tempo cíclico de saber no passado. O homem surpreende a toda hora e pode alterar seus ideais e sonhos, vivendo um tempo linear de saber no futuro.

Baudrillard argumenta que as coisas não desaparecem por morte ou fim. A proliferação, saturação, exaustão e epidemia das mesmas podem realmente levá-las a um fim dispersivo. O cineasta Wim Wenders diz que numa cidade grande, onde o acúmulo excessivo de propaganda é alienante, o tudo acaba se tornando o nada. É exatamente isso que o autor quer dizer: perde-se o sentido e a força quando se chega à contaminação exacerbada.

A trilogia do valor é facilmente entendida graças ao feedback que possuímos, uma vez que não há uma explicação clara e bem desenvolvida do tema. As atenções se voltam apenas para o quarto valor: o valor fractal. Esse valor é dado como o valor de avaliaço impossível que irradia para todos os lados sem referências, de forma aleatória. Isso porque é difícil avaliar o valor do que está em constante mudança, saindo de um eixo ordenado óbvio. Mesmo os opostos não andam mais lado a lado, numa luta eterna pela hegemonia. Esse é o valor fractal. E o autor determina esse valor como o "esquema atual de nossa sociedade". Assim, ele entra num paradoxo que ele diz melhorar o funcionamento de uma sociedade. Ao mesmo tempo que finaliza o ideal de progresso, ele dá um movimento às coisas de maneira fractal.

Esse paradoxo é mal analisado quando se sustenta o ideal de que o progresso, a riqueza e a produção desapareceram, mas continuam existindo. Como falar no desaparecimento das bases político-econômicas de nossa sociedade? É fato que estamos enfrentando momentos difíceis e confusos, mas anular a essência da sociedade? Isso fica exagerado. Concordo com a ascensão do jogo político em contraposição ao fim das ideias, porque (infelizmente) leio jornais para saber o que ocorre no ninho de víboras do governo.

O que, com certeza, possibilitou o homem mudar, ou seja, evoluir para o que é hoje, foi sua curiosidade. Nascida no âmago de todos os seres, essa sede de conhecimento nos levou a lugares incríveis e a descobertas fascinantes. Por isso, fica injusto considerar a curiosidade como uma pulsão secreta em todo ser humano de desfazer-se das ideias e das essências para chegar à orgia, excedendo em todos os sentidos. Nosso objetivo é estudar, experimentar para que alcancemos novas possibilidades e facilitemos a vida de todos.

Talvez seja um grande erro não obedecer ao código genético. Se eu fosse um fanático religioso, diria que a genética é um pecado mortal, uma afronta a Deus. Clonagens e próteses são uma tentativa de driblar os valores naturais. "O máximo da sexualidade com o mínimo de reprodução" é a ordem da liberação sexual. "O máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo" é o sonho de uma sociedade clônica. Mas será que chegamos, alguma vez, a um desses dois extremos? Nossa sociedade jamais foi influenciada apenas em sexo ou apenas em clonagens. Ocorre sim, como o autor comenta em seus outros ensaios, uma transexualidade que se estende bem alem do sexo. Não se tem um processo de confusão e contágio; tudo é experimental, são tentativas de formar personalidades próprias e extrapolar seus desejos mais íntimos. Realmente perde-se o caráter específico do sexo e cria-se um processo viral de indiscriminação. Isso, exatamente, porque é algo novo que vai contra os valores sociais e morais de nossa sociedade.

São esses valores que dão margens a essas discussões. O conservadorismo e as tradições que nossa sociedade guarda, de fundo moral e ético, acabam criando paradoxos com a evolução do saber que acompanha o crescimento da humanidade. Há uma dificuldade muito grande em quebrar tabus para acolher os novos conhecimentos.

A comparação entre a metáfora e a metonímia, direcionada ao processo transversal é interessante. A utilização da denotação das duas palavras para dar um sentido conotativo à transversalidade cai perfeitamente nesse discurso. Nesse processo da transversalidade, é fácil perceber essa metonímia ao avaliarmos o campo de ação de uma disciplina qualquer. As disciplinas criaram uma interligação, fazendo desaparecer os vestígios dos conjuntos individuais para formar um enorme termo de coletividade. E é por causa dessa contaminação, dessa infecção de todos os domínios que podemos falar "tudo é sexo", "tudo é política", "tudo é dinheiro". Essa radicalização é bem contestada quando Baudrillard fala que "cada categoria é levada a seu mais alto grau de generalização, e por isso, perde toda sua especificidade e se desfaz em todas as outras".

Há uma análise nesse ensaio, sobre as teorias revolucionárias, que nos faz pensar sobre o tão esperado progresso da humanidade. O capital não leva em consideração os valores econômicos, fugindo de seu próprio significado centralizador, sem quaisquer referências (aliás, raramente o capital seguiu as leis a ele impostas); o político foi questionado e, quando teve suas bases enfraquecidas, levou consigo o social; a arte tentou renegar as regras que a limitavam mais continuou seguindo padrões que levaram à banalidade das imagens; a utopia sexual de tornar a totalidade do desejo como uma realização na vida de cada indivíduo acabou numa confusa transição sexual de circulação promíscua que levam a uma indiferença e discriminação do ato. Ou seja, as tentativas que nossa sociedade fez para melhorar suas condições e seu campo de ação, determinaram o começo da orgia.

O princípio do Mal de Baudrillard acaba por aparecer. A curiosidade que a sociedade carrega instiga uma parte maldita: a vontade de violência e morte. O movimento incessante da sociedade, sempre eficiente e sempre fracassada, na tentativa de disfarçar o Mal, beneficiando o Bem, descreve essa parte maldita do princípio. O autor considera o Bem uma sentimentalidade ingênua que sempre será superada pela energia irônica do Mal.

Acho bem errado dizer que o êxito da comunicação e da informação indica a incapacidade da sociedade se superar através de outros meios. É através da comunicação e da informação que a sociedade, como coletivo, e o indivíduo, como entidade só, conseguem satisfazer sua curiosidade e aprender métodos de superação mais fáceis ou lucrativos. Até mesmo o conhecimento entra num processo de superação, quando seu excesso acaba em dispersão. Ao adquirirmos conhecimento, livramo-nos daqueles que se tornam vagos e ilógicos. Temos, assim, um processo metonímico de comutação. Quando Baudrillard fala que a imagem do homem sentado contemplando o horizonte e seu silêncio se tornará uma bela imagem no futuro, começamos a pensar outra vez sobre a relação tudo-nada, a que se refere Wim Wenders, graças à anulação da presença do silêncio no meio dessa invasão comunicacional e informativa. Acho que esse interesse no silêncio já está, aos poucos, surgindo. Há um anúncio de TV que mantém o silêncio, deixando apenas as imagens e as palavras correrem. Isso quebra o cotidiano de informações ininterruptas e acaba prendendo o telespectador.

ENSAIO 2: "TRANSESTÉTICO"
A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes ela assumia um caráter próprio por receber as influências dos indivíduos que a moldavam. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impôr seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existe mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada. Continua também com suas características de proliferação de seus discursos sedutores e/ou destruidores.

No ensaio "Transestético", percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte numa estase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

A evolução do homem, já analisada em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "transestetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo. Isso não é uma descrição clara dos Mamonas Assassinas? Todo o besteirol, a lixo-cultura que eles empreenderam se tornaram uma ideologia que é cultuada até hoje, mesmo depois da morte do grupo.

Nesse ensaio, o ideal do transversal é esclarecido. Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. Baudrillard diz que é assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. Mas ele pisa num terreno contrário a arte. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

O homem é uma criatura iconoclasta. Os ícones nos fazem crer na possibilidade da existência. Toda imagem nos passa alguma coisa, mas a profusão delas nos leva a um apagamento dos vestígios e das consequências. Seria fácil colocar a existência de Deus em questão, mas as imagens transmitidas por ícones não nos permitem deixar de crer. Assim, devemos considerar a arte contemporânea como os ícones e suas imagens, levando em conta sua função antropológica sem critérios ou julgamentos estéticos.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois se elevou a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil, como já foi analisado. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

Para Baudrillard, a arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.