Estive hoje no Instituto Cervantes com a turma do segundo ano do Ensino Médio do Instituto de Tecnologia ORT para ver a exposição Los caprichos de Goya. Lá estavam expostas as 80 gravuras em água-forte da primeira série editada por Goya em 1799.
Francisco José Goya y Lucientes (1746-1828) foi um pintor e gravurista espanhol importantíssimo em sua época. Acredita-se que tenha sido responsável por uma evolução na pintura, talvez até um pré-impressionista. Essa série de gravuras foi chamada por Goya de "assuntos caprichosos que se prestavam a apresentar aos coisas ao ridículo, fustigar preconceitos, imposturas e hipocrisias consagradas pelo tempo". Questionava a Inquisição, a educação, a prostituição e o misticismo. Los caprichos coincide com a grave enfermidade que teve, deixando-o surdo e amargurado por toda a vida.
A maioria dos alunos achou sua obra triste, sombria. E não é pra menos se pensarmos que estava doente. Fora isso, toda a Espanha sofria convulsões sociais. Mas seus quadros são de um talento artístico incrível se pensarmos na técnica que ele utilizava para realizar suas obras e fazer uma crítica ácida à sua época. Depois, a turma viu um vídeo sobre Goya e pode ver que ele também foi um pintor academicista sem igual, utilizando cores e luzes de uma forma bela. Inclusive, seus conhecimentos sobre luz e sombra foram transferidos magistralmente para suas gravuras.
A obra central é sua gravura 43: El sueño de la razón produce monstros ("O sonho da razão produz monstro", 1797).
São inúmeras as interpretações que ela nos dá. Considerando que a gravura foi feita em um período iluminsta onde a Razão é a essência do homem, dis-ze que a obra quer mostrar que quando o homem dorme e, assim, a Razão, monstros podem aparecer. Na gravura vemos que os monstros próximos ao homem (que está iluminado) são reconhecíveis como animais, enquanto os que estão na escurtidão são disformes. Isso pode nos indicar um medo do desconhecido, do que pode vir dos cantos mais obscuros de uma mente adormecida. Mas alguns estudiosos acreditam que o sono da Razão pode não ser tão negativo assim, se for olhado como um sonho inspirador ou a loucura criativa, se um "monstro" pode se tornar um "gênio".
Acho essa obra incrível. Linda em vários sentidos. E algumas outras gravuras seguem esse teor de beleza. A exposição é bem pequena, com 40 quadros (cada um com 2 gravuras) e legendas com comentários do Museu do Prado. Vale a pena ver esses originais.
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