Tenho pensado muito na efemeridade. Papo existencialista, não? Pois é... A semente já estava plantada, mas depois de participar da exposição do centenário de Roberto Burle Marx, – obviamente – essa semente germinou. Não vou me estender muito por aqui porque pretendo escrever um pouco mais sobre isso.
Depois de ler o livro conseqüente da exposição percebi que Burle Marx sempre trabalhou com a efemeridade dos fenômenos naturais que incidem sobre sues jardins. Ele planejava em função disso. E me dei conta de quão designer ele era. E dos bons. Burle Marx sabia dos ciclos, contava com as mudanças climáticas, se preparava para o sol e para a chuva. Seu trabalho ia do belo ao sublime.
Um dos questionamentos dessa exposição é exatamente a capacidade de Burle Marx eternizar em seu trabalho o que é efêmero. Foi nesse ponto que me dei conta que esse é o grande objetivo do design contemporâneo: ser eterno em sua efemeridade. Cartazes, folders, filipetas, sites, produtos, carros, celulares... o mundo de hoje incentiva e intensifica o consumo do novo sem se preocupar com o registro do velho. E olha que isso vem desde a década de 50 com o baby boom e a obsolescência planejada do pós-Segunda Guerra (leiam mais sobre isso na minha dissertação! hehehe).
Conseguimos traçar estilos por décadas, mas será que conseguiríamos pensar em um estilo deste novo milênio? É difícil. Voltando os olhos para o design, percebi que não se formam mais grandes nomes da área como Wollner, Burton, Aloísio, João Leite, como um dia estiveram juntos Orcar Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx, entre muitos outros gênios como Portinari e Afonso Reidy. Dessa forma, pergunto: como se faz um grande designer hoje que será a referência do amanhã?
Quanto maior a urgência de um projeto de design, menor será o tempo para criação e muito menor ainda será o tempo de vida do projeto. Pensem, por exemplo, em design de publicações periódicas, como jornais e revistas mensais. Imaginem todo o mês (ou todo dia) ter que criar algo com resultado satisfatório em um tempo inexistente para trabalhar junto com revisores, fotógrafos, editores e muitos outros profissionais que sugam os últimos minutos de tempo para entregar o trabalho na hora, deixando uma nesga de medíocres segundos para o design. Mas e daí? Eles já fizeram a parte deles, não foi? Agora é o deisgner que se vire, certo? Sorte a nossa que ainda podemos culpar a gráfica... que claramente culpa o designer... E todo esse stress se perpetuará por todo o mês (ou todo dia) exatamente da mesma forma por algo que será descartado em poucos instantes. Esse vício da profissão é ainda pior quando os próprios designers se permitem ficar nessa situação por questões financeiras compreensíveis, porém descarregam em seus colegas de profissão. Parece que vou voltar ao meu discurso de "coloque-se no lugar do outro"... vale a pena pagar esse preço?
Estudar, pensar, registrar, escrever pode ser uma luz no fim do túnel. O design enquanto área de conhecimento precisa disso. Mesmo que o mercado não seja favorável. Para o mercado, restam as premiações como lembranças do que é bom e que pode dar mais dinheiro ou tentar entrar no mundo acadêmico com sua cultura da "quantidade sobre a qualidade" – que, ao invés de enriquecer, empobrece e emburrece.
Aos designers que passam por aqui: reflitam. Burle Marx lida com essa efemeridade com uma naturalidade ímpar, sendo capaz até de usá-la em benefício próprio. Essa virtude, pode ser a verdadeira resposta para o futuro.
Um comentário:
Excelente postagem.
Desde que evoluímos para esse tal de "homo sapiens" tudo se tornou efêmero, apenas a velocidade da efemeridade foi se modificando, se acelerando até chegar à cultura do "agora", do imediatismo.
A expressão corriqueira é:"Isso é para ontem".
Você citou nomes que fizeram e fazem a História, talvez porque não se importem com a questão do efêmero, ou talvez porque acreditam no que disse Baudelaire: "Feliz daquele que paira sobre a vida e sem esforço entende a linguagem da flor e das coisas sem voz!"
Tudo é tão veloz , tudo é tão passageiro: nós vivemos repetindo isso a exaustão. Entretanto, a coisa mais efêmera, a mais passageira, a que é inexoravelmente rápida, é a Vida.
Vamos aproveitá-la?
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