quinta-feira, 20 de junho de 2013

A primeira vez (x10)

Minha primeira vez na arquibancada do Maracanã foi em 1995. Romário estreava no Flamengo contra o Fluminense em um jogo chato que deu num empate sem gols. Fiquei numa das diagonais do campo, próximo à Torcida Jovem do Flamengo. Continuei indo ao Maraca durante muitos anos, mas mudei de lugar: meu primo tinha cadeiras cativas e me chamava para dividir o amor rubro-negro. O tempo passou... o futebol foi me decepcionando... peguei uma fase ruim do Fla e acabei desistindo de dar meu tempo nos estádios (só nos estádios, porque assisto futebol todo dia na TV!).

Dezoito anos depois, atingi minha maioridade futebolística e voltei ao renovado Maracanã. Uma diferença grande: ao invés de um Fla-Flu 0 a 0, Espanha fazendo 10 gols no Taiti pela Copa das Confederações no Brasil. BEM MELHOR!

O MARACANÃ


Sei que os saudosistas reclamam que o Maracanã diminuiu e perdeu o seu charme. Tá... mas vamos falar sério? O Maracanã estava velho. Feio. Desconfortável. Ganhamos um novo estádio com tecnologia* e conforto. OK... perdemos 50 mil lugares e ninguém acredita na segurança dos jogadores em qualquer clássico carioca. Precisamos agora renovar nossas atitudes.



FALANDO NISSO...
Não podia deixar de falar da onda de manifestações no país. Elas estão ligadas à Copa por conta dos gastos abusivos nas obras e da corrupção esportiva. Estou ao lado dessa enorme mudança popular e totalmente contrário às forças violentas. Confesso que entrei em crise moral/ética e, por essa razão, parei de falar e divulgar que iria aos jogos. Com isso, tanto na ida quanto na volta, estive tenso, aguardando alguma revolta. Mas (ainda bem) foi tudo tranquilo.


Sempre tem um gaiato...
E o melhor foi estar presente no momento em que um segurança tentou tirar uma faixa de protesto de uma menina na torcida. Imediatamente as pessoas começaram a gritar "O povo unido, jamais será vencido" e os seguranças recuaram. Em seguida, entoamos "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" como uma prévia para um hino (pra mim) mais significativo do que a continuação no jogo do Brasil.

Antes do jogo, alguns torcedores ainda tentaram entoar um "Mengô" pra chamar a torcida. Assim como as manifestações estão recusando partidos políticos, o Maracanã estava recusando times**. Uma vaia sonora se sobressaiu, calando os torcedores. Sou Flamengo, mas vaiei e me senti bem. Estava me divertindo e mantendo minha posição.

O MELHOR LUGAR
Preciso de uma parte específica pra falar de onde sentei. Em 95, sentei num canto do campo, nas velhas arquibancadas de cimento sem banco. Em 2013, sentei em um banquinho razoavelmente confortável exatamente no outro canto. Fora isso, fiquei com a impressão que mudaram a angulação do Maracanã, porque eu estava na fila W (ou seja na 23ª fila da arquibancada) e parecia estar mais perto do campo.

Fora isso, a Fifa me colocou sei lá porquê no setor Verde. Muita gente reclamou dessas escolhas aleatórias de lugar, mas eu só posso agradecer. As manifestações patrióticas que citei acima aconteceram no setor Verde. Várias olas começaram no setor Verde. Espanhóis sentados no setor Verde ensaiaram um coro de campeões e a torcida disparou gritos de "Ô Espanha pode esperar que tua hora vai chegar", seguidos de um "Pentacampeão" pra mostrar aonde eles estavam. E tudo na maior paz. Claro que também teve uma discussão no setor Verde, mas rapidamente abafado.

O humor estava solto no setor Verde. Ao meu lado, um torcedor brandia uma bandeira do Taiti. Outro tinha certeza que os taitianos iam virar o jogo quando já estava 4 a 0 no primeiro tempo, quando um espertinho falou que, no segundo tempo, eles iriam virar de lado. No 8 a 0, o mesmo torcedor otimista continuava acreditando na virada, quando o mesmo espertinho disparou: "Não dá. Eles estão em outro fuso". E a gargalhada foi geral quando um aparecido resolveu gritar a favor do Taiti, mas saiu "Vamos Haiti!".

O JOGO ENTÃO


O quê falar? A goleada já era esperada e muita gente também acreditava no bombardeio histórico. O respeito espanhol estava na atuação correta, acreditando que estava jogando com um adversário e não participando de um jogo treino. A Espanha reserva é bem pior do que a titular, mas é infinitamente superior ao time amador da Polinésia. Aliás... acho que tenho um time que bate esse do Taiti... Falta tudo pra eles: não sabem passar, lançar, driblar, se posicionar em campo, apoiar... o básico não existe. É só vontade.

Vai começar!
O segundo tempo vai começar e já estava 4 a 0...

E torcida.

Cada drible foi comemorado. Cada possibilidade. Era sempre olé! A Espanha entrou no campo vaiada, sem torcida. Éramos todos Taiti. A Fifa elegeu Fernando Torres como o melhor jogador em campo, mas eu daria para Roche, o já goleiro mais vazado da história da competição. Fez defesas, falhou feio, chamou a torcida e vibrou quando Torres perdeu um pênalti. A torcida foi ao delírio, é claro. No início, os jogadores do Taiti deram um colar de amizade aos espanhóis e, no fim, fizeram um corredor de agradecimento. Ainda foram ao centro do Maracanã e aplaudiram a maior torcida que eles já tiveram na vida! Roche ainda agradeceu de joelhos aos quatro cantos àqueles que ele emocionadamente chamou de "formidáveis".

O corredor taitiano do agradecimento.
Palmas à torcida e à eles.

CONCLUINDO...
Eu gosto demais de futebol! Estarei na final da Copa das Confederações e a Copa do Mundo que me aguarde!

* Os telões são muito bons, pois agora temos o direito de ver um replay do lance, além de termos um intervalo de jogo mais animado. No entanto, o sistema de som estava altíssimo! Cada gol (e foram 10!) o sistema de som assustava a torcida com a informação de quem fez o lance. Imagino que seja desagradável também para os jogadores.
** A única recomendação que recebi quando peguei meus ingressos foi não utilizar camisa ou bandeira de times: só poderiam uniformes de seleções. E vocês acham que isso ia funcionar no Brasil? Você deve ter visto pelas fotos que o que mais tinha era camisa de Flamengo e Fluminense!

Nenhum comentário: