segunda-feira, 3 de junho de 2013

Em cartaz

O Festival de Cannes de 2013 acabou recentemente. São muitos anos de cinema, contados por seus cartazes com artes incríveis. Vejam (e cliquem para aumentar):

O primeiro festival teve este cartaz com ilustração de Jean Gabriel Daumerge, mas o evento foi cancelado logo na primeira noite por conta da Segunda Guerra Mundial. A arte também revela que o festival acontecia entre setembro e outubro, no outono francês.

Esses são os dois cartazes de 1946. O primeiro com ilustração de Leblanc, enquadra um pequeno casal ilhado para refletir o espírito do então pequeno evento cinematográfico no sul da França. Do segundo, não consegui referências. E ainda existe um terceiro de A. M. Rodicq.

Internacional desde o princípio, a primeira edição exibiu filmes de mais de 16 países e teve um eclético júri. Depois de ser cancelado em 1948 e em 1950 por problemas de orçamento, o festival transferiu suas comemorações para a primavera para evitar o conflito de datas com o Festival de Veneza.

Cartazes de 1947 (Jean-Luc), 1949 (G. C. Chavane) e
1951 (de A. M. Rodicq com ilustração do Palais Croisette).
Cartazes de 1952 (Jean Don), 1953 (Jean-Luc) e 1954 (Piva).

O grande prêmio era então distribuído entre diversos filmes, não definindo apenas um vencedor. A Palma de Ouro - o mais cobiçado e prestigiado troféu do festival - foi criada apenas em 1955, nas comemorações dos 60 anos do cinema (da primeira exibição pública de filmes realizada pelos irmãos Lumiére). O primeiro vencedor foi Marty, que no ano seguinte levaria quatro Oscars.

Cartaz de 1955 por Marcel Huet.

A segunda metade dos anos 1950 é feita de contornos mais sóbrios, focando a tipografia. Negativos de filme e bandeiras começam a aparecer com mais frequência.

Cartazes de 1956 (Marcel Huet), 1957, 1958 (Pon't) e 1959 (Jouineau Bourduge)

A primeira metade dos anos 1960 são marcados por ricas ilustrações assinadas por diversos artistas frances. Gaivotas, flores e estrelas passam a fazer parte do conjunto de imagens características do evento. A figura feminina das grandes damas e divas também passou a ser referência.

Cartazes de 1960 (Jean-Denis Maillart), 1961 e 1962 (ambos de A. M. Rodicq)
Cartazes de 1963 (Jean-Denis Maillart), 1964 (Jean-Claude Moreau) e 1965.

Depois há um retorno aos trabalhos tipográficos e geométricos, até que a fotografia aparece como experimento no início dos anos 1970.

Cartazes de 1966, 1967 (ambos por René Ferracci), 1968 (Beaugendre) e 1969.
Cartazes de 1970, 1971 (ambos de René Ferracci), 1972 e 1973.

A partir de 1974, o surrealismo torna-se destaque corrente nos cartazes com Georges Lacroix, Wojciech Siudmak e Jean-Michel Folon.

O olho alado de Lacroix.
O tríptico de Siudmak.
O minimalismo surreal do belga Folon.

Entre 1980 e 1990, marca-se o início da tradição do festival de celebrar em suas artes promocionais a história do cinema, aqueles que trabalham na sétima arte o próprio evento em si.

As Marilyns iluminadas de Michel Landi (1980 e 1981).
Ilustrações dos diretores Federico Fellini (1982) e Akira Kurosawa (1983)
e do cenógrafo Alexandre Trauner (1984).
Cartazes feitos pela agência Information & Strategie como tributos a Eadweard Muybridge,
fotógrafo inglês famoso por seus experimentos em captura de movimento (1985 e 1986).
Cartazes de 1987 (Cueco), 1988 (Tibor Timar) e 1989 (Ludovic).
Cartazes de 1990 (Castella Traquandi) e 1991 (Philippe e Pascal Lemoine).

Em 1992, outra tradição no design de cartazes: o uso de fotografia para homenagear personalidades do cinema. Neste ano, Michel Landi utilizou um retrato de Marlene Dietrich - que havia falecido semanas antes do evento - feito por Don English. No ano seguinte, Landi utilizou uma foto de Cary Grant e Ingrid Bergman do filme Interlúdio (Notorius, 1496)

Cartazes de 1992 e 1993.

Depois de dois anos com cartazes de cineastas, a agência DDB Les Arts assumiu por quatro anos, passando pela 50ª edição com um cartaz minimalista para o prêmio principal.

Cartazes de 1994 (Federico Fellini) e 1995 (Ryszard Horowitz).
Cartazes de 1996, 1997, 1998 e 1999 pela DDB.

Pela passagem do milênio, os cartazes foram seguindo as mesmas referências visuais do início: ilustrações incríveis e estudos tipográficos.

Cartazes de 2000 (Lorenzo Mattoti), 2001 (Granger) e 2002 (Guillaume Lebigre).
Cartazes de 2003 (Jenny Holzer), 2004 (agência Alerte Orange)
e 2005 (Frédéric Menant e Tim Garcia, da agência It'suptoyou).

A partir de 2006, um retorno à fotografia, com peças belíssimas nos últimos três anos.

Cartazes de 2006 (Gabriel Guedj, da Agence Magazine, a partir de foto de Wing Shya para o filme Amor à flor da pele, de Wong Kar Wai), 2007 (Christophe Renard, em homenagem a Philippe Halsman, a partir de fotos de Alex Majoli), 2008 (Pierre Collier, a partir de foto da modelo Anouk Marguerite feita por David Lynch) e 2009 (Annik Durban, a partir de imagem do filme L’Avventura, de Michelangelo Antonioni).
Cartazes de 2010 (Annick Durban, a partir de foto de Juliette Binoche feita por Brigitte Lacombe), 2011 (Agência H5, a partir de foto de Faye Dunaway feita por Jerry Schatzberg) e 2012 (Agência Bronx, a partir de famosa foto de Marilyn Monroe tirada por Otto L. Bettmann).
Cartaz deste ano feito novamente pela agência Bronx, utilizando o beijo de Joanne Woodward e Paul Newman em Amor daquele jeito (1963).

Ainda falta muita informação sobre algumas peças, principalmente o significado delas, mas é um acervo absolutamente incrível. Espero que isso desculpe minha ausência na última semana...

Um comentário:

Graça disse...

Maravilhosos!
Entretanto, "O olho alado" de Lacroix, de 1974, me remeteu às diversas analogias que se fez por aqui, quando de sua divulgação. Num Brasil que ainda vivia sob o jugo do AI 5 convenhamos que era para fazer associações livres mesmo.