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Tem algo de poder na indústria do design. Algo que alguns sabem mas nunca realmente dizem. Em nossa sociedade competitiva, sempre celebramos os vencedores e desprezamos os perdedores. Costumamos falar sobre aqueles que alcançaram o topo sem deixar espaço para segundos lugares. Assim como nosso mundo do Design é sobre designs campeões, os projetos de grande orçamento que os clientes e consumidores amam. No entanto, nunca falamos dos nossos refugos, dos projetos que odiamos, dos que falharam nos testes, dos que desapareceram. Nós não gostamos de falar do que chamo de "lado negro do Design".
Gostaria de dividir com vocês alguns cenários da vida real que mostram como o mundo do design pode ser um simples buraco do inferno. Quero falar sobre como o dinheiro suplanta a moral e a sensibilidade. Encarar o "lado negro do Design" de frente não é fácil nem divertido.
- Você irá projetar algo que odeia. Projetar algo que você odeia é algo que você nunca considera quando sai da faculdade. Não é concebível. Você ama design e ama seu trabalho, então, não é possível que você possa ter que projetar algo que você odeia. Mas vai acontecer. Então, prepare-se e regojize-se na frustração.
- Você irá trabalhar para alguém que você odeia. Você vai ser chamado para trabalhar com aquele designer metido que projeta para loucos, mas que sabe puxar um saco como ningúem. Quando acontecer, você vai se dar conta do porquê seu chefe não está pagando o salário dele pra você. Pior... ele pode ser seu gerente. Não só isso, mas você pode ter que trabalhar com um cliente ou associado que te trata como o cocô do cavalo do bandido. Essa pessoa será insensata, vai te menosprezar e odiar tudo que você fizer. Infelizmente, a única coisa a fazer é engolir seu orgulho e dar a cara a tapa.
- Você irá escolher entre o que os consumidores querem e o que eles precisam. A maioria dos projetos de design, infelizmente, é para alimentar o consumismo. A realidade é que seus projetos não costumam ser necessários para ninguém. Na faculdade, é ensinado que você repcisa se preocupar com seus consumidor, identificar suas necessidades e projetar para eles. No entanto, você acha que as pessoas realmente precisam de outra cadeira, laptop ou celular? Tenho certeza de que você fará um excelente trabalho, mas será o correto? E a sustentabilidade? Quando deve acontecer ou realmente acontece? Você vai se dar conta de repente que há forças em jogo além do seu controle e você terá que decidir se esse é o caminho correto para sua carreira.
- Você não conseguirá distinguir dias de noites. Você irá trabalhar muito. Claro, você pensou que trabalhou duro na faculdade para se graduar entre os melhores da turma, mas você nunca vai trabalhar tanto na sua vida quando você se tornar um designer de trincheira. Tanto, mas tanto que você não saberá dizer a diferença entre a noite e o dia. Você fará isso porque tem que fazer. Você fará isso porque você se importa. Nada mais o que falar: você vai odiar.
- Você nunca terá um brief claro. No mundo real, todos sabem o que um brief é, mas ninguém REALMENTE sabe o que é. Você tem que encarar o fato de que não existe um brief claro. Muito menos o franco e direto processo de design aprendido na faculdade. Você vai zigue-zaguear pelas modificações tantas vezes que você vai se achar uma barata tonta. E o pior: os prazos não vão mudar por causa de um erro no briefing de alguém.
- Você será responsável pelas falhas no projeto. É simples. O produto não vende? Culpa do designer. O produto não pode ser industrializado? Culpa do designer. De repente, você estará na mira de todos e será culpado por tudo. Mas lembre-se que designers dão sugestões. As pessoas que pagam pelos projetos são as donos deles e, portanto, responsáveis pelo resultado. O que nos leva ao próximo ponto...
- Você nunca mais será o dono de seus projetos. Os grandes esforços individuais na faculdade, tornam-se nossos filhos. Você irá derramar seu coração e doar sua alma para um projeto que será tirado de você e passado para outros. Sua idéia será perdida, modificada, "estuprada" e até mesmo morta. Não só isso, mas existirão projetos feitos por tantas pessoas que ninguém será dono deles ou irão querer ser.
- Você irá odiar design. Numa bela manhã, você irá arrastar seu corpo cansado de virar noites para apresentar um trabalho a um cliente odioso e vai proferir algumas palavras para você mesmo: "eu odeio design".
Estranhamente essa virada acontece entre 5 e 7 anos de trabalho, dependendo da quantidade de projetos. De alguma forma, depois disso, as coisas entram nos eixos. Pode ser como aconteceu comigo: você acorda e percebe o clique como se você tivesse alcançado o ponto certo. Você já sabe como lidar com aquele cliente abusivo, seus modelos 3D funcionam com os engenheiros e – o melhor – seus projetos começam a ficar fodões e ganham prêmios. Confie em mim. Já vi isso acontecer várias vezes. Não só comigo, mas com outros designers também. O ano 5 parece ser um número mágico, aquele que mostra que seu tempo nas trincheiras acabou.
Termino este post com outra nota edificante: não consigo entender porque as pessoas não falam sobre seus fracassos. Eles geram histórias incríveis e interessantes, especialmente quando você consegue articular o que você aprendeu e como você cresceu com isso. Na minha humilde opinião, isso é bem mais importante do que vender suas vitórias. Pense nisso quando atualizar seu portfolio.
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Então... bom, né? Realmente edificante. Só sei que eu já estou no ano 9 e nada dessa luz no fim do túnel. Acho que me tornei um Darth Phil... Me preparando para ter aprendizes do lado negro do Design! Tan... tan... tan... tan taran... tan taran...
2 comentários:
O mundo está globalizado e os entendidos afirmam que se você for bem qualificado terá condições de rapidamente se engajar no mercado. Ah! Ah! Ah!
Estou sempre em contato com jovens alunos recém formados, das mais diversas áreas, qualificadíssimos, reclamando da falta de oportunidade.
Entretanto, olhando para trás vejo que tenho uma experiência familiar semelhante. Nosso guru doméstico, sabidamente uma pessoa bem preparada, formou-se em 1970 e só conseguiu um emprego decente em julho de 1974. Guardando as proproções e a época isso se compara aos seus quase nove anos.
Quando reclamava e me desesperava o velho Zé Moraes dizia: "Calma... O que é do homem o bicho não come".
Será que o ditado do velho Moraes ainda vale alguma coisa?
A minha avô dizia que "tudo tem sua hora e seu tempo certo de acontecer", em tudo no amor, na profissão... "Não adianta colocar os carros na frente dos bois"...rsrsrs
Bjs
SMS
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