segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A marca Rio

Demorei um pouquinho para falar da marca das Olimpíadas do Rio em 2016, porque queria acompanhar as repercussões e descansar do reveillon. Mas vamos lá...



Nascida em uma concorrência entre 139 agências e escritórios, a marca escolhida foi criada pela Tátil Design e lançada em Copacabana, pouco antes da virada do ano, com direito a um sigilo digno de tramas conspiratórias e espionagens. O designer Fabio Lopez - que tanto falo por aqui - fez parte da equipe de criação junto com Raphael Abreu (que também estudou na nossa turma da ESDI).

Acho que vale a pena ver o vídeo da Tátil antes de qualquer coisa:


Tenho que confessar que não foi amor à primeira vista pra mim, não. Achei a história de ler RIO na marca uma forçada braba, a tipografia meio desconexa (perdão...) e a "cabeça" do personagem azul ainda não finalizada. Também li as palavras do enebriado Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), e fiquei ainda mais cabreiro:
A marca tem um desenho leve, que parece flutuar na água. Lembra-me estar velejando. É muito estética, inovadora e criativa. É possível ver várias coisas nela: Rio, montanha, sol, Copacabana.

O fato de ser uma "marca-escultura" mostra uma urgência em ser tridimensional que precisa de cuidados, já que uma marca precisa ser bidimensional antes de ser 3D por causa de suas inúmeras aplicações. E, na minha opinião, ela também precisar funcionar em monocromia, mesmo que as cores tenham um peso grande. Por isso, estou louco para ver cartazes, uniformes, medalhas, mascote...


Mas - como digo hoje para os meus alunos - uma argumentação bem estruturada é TUDO em um projeto. Por mais que você force uma barra aqui ou ali, se você souber vender seu peixe, nada te segura. E é isso que a Tátil fez: um projeto de marca excelente que realmente concentra os ideais do evento, tem um potencial identitário incrível e uma tipografia exclusiva (melhorou?). Já estou até lendo o RIO na marca! E digo mais: coloquei o título do post sem o 2016 porque acho que esse símbolo tem grande chance de se tornar a marca não-oficial do estado do Rio de Janeiro! Serão 6 anos (ou mais!) vivendo essa marca que foi amplamente abraçada pela população em seu lançamento e está tendo um repercussão mundial excelente.



O melhor mesmo é ver a auto-suficiência do design nessa marca. Isso engrandece a minha profissão. Não podemos esquecer que, em comparação ao fiasco da marca para a Copa do Mundo de 2014, essa marca é absolutamente incrível! Aliás... se compararmos com as outras marcas de Olimpíadas, só adicionamos vantagens. E agora os ingleses resolveram soltar os cachorros por causa da marca "estranha" das Olimpíadas de 2012 criada pela grande Wolff Olins. Obrigado por isso, Tátil! Ponto pra gente!

Agora... anda aparecendo um questionamento de plágio na internet por causa da marca da Telluride Foundation e do quadro "A dança" de Henri Matisse. Eu não vou usar a frase batida (e errônea) de que "no design nada se cria, tudo se copia". Isso é um exagero. Mas é preciso entender que estamos inseridos em uma cultura visual global e que, portanto, é possível encontrarmos traços semelhantes em inúmeras criações. Inclusive, podemos ver no vídeo da Tátil um enorme mural de referências durante o processo de criação. Como Fred Gelli, sócio fundador da agência disse:
Pessoas se abraçando e dançando é algo universal, vem desde as pinturas rupestres. De alguma forma, o movimento das pessoas dançando está no inconsciente coletivo.
Dizer que plágio é demais... beira o ridículo. Criancice por não ter feito (ou por ter perdido as Olimpíadas pra gente, né, americanos invejosos?).


É válido dizer inclusive que todo o processo de concorrência, promovido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com assessoria da Associação de Designers Gráficos (ADG Brasil), foi elaborado com base nas recomendações do Icograda (conselho internacional de associações de design gráfico) e supervisionado com regras claras e justas. Ou seja, chamar de plágio é boçalidade. Além disso, percebe-se que era possível fazer algo bem melhor para a Copa, não?

É a hora do design brasileiro!

PS.: Espero que a marca das Paraolimpíadas tenha essa mesma força!

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