sábado, 6 de agosto de 2011

DO PERU: Cusco


Ou Qosqo, o umbigo da mundo, a capital do Império Inca em forma de puma... onde a aventura estava realmente pra começar.

Se você for a Cusco deve saber desde já duas coisas: o soroche VAI acontecer e a cidade é muito mais seca do que Brasília... ou seja, você vai ficar sem ar, com dor de cabeça, com o nariz sangrando e a boca rachada. Tragédia? Seria se você não fosse bem tratado pelo povo de lá. Assim que você chega no hotel já recebe um chá de coca gratuito pra você iniciar sua adaptação. No quarto, a água é de graça também. A sugestão é tomar o chá de 2 a 3 vezes nos dois primeiros dias e água em profusão. Funciona? Sim... mas o soroche vai te pegar mesmo assim, nem que seja uma dorzinha de cabeça.

O que é o soroche, afinal? Simplificando: falta de oxigênio no seu corpo. Você chega de Lima - cidade ao nível do mar - e sobe 3400 metros. Ar rarefeito é um fato. Frio com sol destruidor é outro fato (protetor e boné são fundamentais). Seu sangue chega oxigenado, mas 3 ou 4 horas depois, ele vai pedir arrego. Por isso, a sugestão é ficar pelo menos esse tempo em repouso assim que se chega. Você vê aí na foto ao lado que existem caminhões vendendo oxigênio a granel!

E o chá de coca? Dá barato? Claro que não. Não é cocaína. É chá... E RUIM PRA CACETA!!! Os peruanos fazem uma mega propaganda dos atributos da folha de coca: excelente digestivo, limpa o organismo e deve até trazer o seu amor em 3 dias... mas é RUIM DEMAIS!!! Eu troquei o chá pela balinha que é mais palatável.

Bom... quem vai ao Peru querendo conhecer Machu Picchu, tem por objetivo ver sítios arqueológicos e coisas interessantes sobre a incrível civilização inca. Informações urbanas e católicas são iguais a todos os lugares e pouquíssimo interessantes. Só é válido citar que todas as igrejas estão construídas sobre terrenos sagrados incas (muitos vezes EM CIMA de templos) e que a polícia rodoviária obriga os motoristas a pararem o carro caso vejam um grupo de turistas querendo atravessar (afinal, turismo é a roda financeira da cidade). Ir a mercados só serviu para conhecermos algumas batatas, milhos e ervas.

Então o que me interessou (e me surpreendeu como o sítio de Pachacamac, em Lima) foi ver:
  • Saqsaywaman (leia-se sexy woman, piada deles), uma provável estrutura militar com pedras de mais de 150 toneladas dispostas em muralhas. Em quecha, seu nome significa "falcão satisfeito", e seria a cabeça do puma no desenho da cidade de Cusco.


  • Tambomachay, conhecido como "Os Banhos do Inca", seria um templo para reverenciar a água. É dito que suas fontes mantém o mesmo fluxo durante todo o ano.

  • Puka Pukara, a "fortaleza vermelha", uma outra estrutura militar que tem uma vista incrível do Vale de Cusco e pode ter sido também um posto de registro de visitantes.

  • Qenqo, o templo do Deus Puma talhado em uma grande formação calcárea com direito a monolito de reverência à chuva e altar para sacrifícios humanos.

  • Qoricancha, o templo do Deus Sol e - provavelmente - o local mais importante de todo o Império Inca. Hoje é o Convento de Santo Domingo, que foi construído sobre o templo inca. São contadas histórias dos terremotos no Peru que destruíram o convento mais de uma vez, mas o templo se manteve de pé com sua arquitetura antisísmica.


  • A famosa pedra de doze ângulos, que fica num muro inca - hoje a lateral do Palacio Arzobispal. A capacidade de trabalhar a pedra é citada constantemente e - constantemente - te assombra. Essa pedra é famosa, mas é só um pequeno exemplo. Em Machu Picchu, você até começa a achá-la insignificante.


Aqui vale uma reflexão. Em Lima, fiquei questionando a fraqueza dos museus. Aí me dei conta que esse sítios também não possuem a devida estrutura turística que eles merecem. Há alguns anos estive no sítio arqueológico de Delos, na Grécia, onde paguei minha entrada, recebi um folder bem completo com mapa e fui explorar o local cheio de legendas e textos explicativos ao longo do caminho. No Peru, nada disso acontece: nada de folder, nada de legendas... NADA. Se você for sozinho, sem guia, você vai ver um monte de pedra e supor que serviu pra alguma coisa e só. Inicialmente fiquei desapontado com isso... até que despertei para o lado social disso. Museus e sítios sem legendas ou folders tornam essencial a presença de um guia! Um emprego é gerado! É mais válido empregar uma pessoa do que gastar milhões com folders que serão usados (ou não) e jogados fora (ou não). Bom... nem tanto ao mar, nem tanto ao vento... mas - repito - vale uma reflexão.

Os museus de Cusco seguem - portanto - a linha de Lima, sendo ainda mais fracos e nos mostrando outra deficiência: são todos iguais. Explicando: todos - eu disse TODOS - os museus que visitamos possuíam a mesma curadoria de apresentação das culturas pré-incaicas até a queda do império, mostrando peças semelhantes. Até mesmo em museus com algum tema (como o Garcilaso de la Vega), essa estrutura se mantém. Espero que alguém abra o olho pra isso e potencialize essa parte turística do país.

No geral, Cusco é bem interessante e movimentada. Cheia mesmo. E como fomos no mês da pátria, vimos algumas manifestações folclóricas na cidade. O comércio é todo igual (praticamente um Saara carioca) e a bandeira de Cusco é das cores do arco-íris, como a do movimento GLBT. Alguns dizem que é invertida (do roxo para o vermelho) ao invés do convencional (do vermelho para o roxo), mas a explicação é meio divina. Veja AQUI. Vale uma visita ao Templo de la Merced por sua arquitetura e pelo inesperado de seu interior, e à Catedral (somente por causa do famoso quadro com a Santa Ceia inca, onde o prato principal é porquinho da índia e dizem que Judas é a cara de Pizarro, o conquistador).

Nenhum comentário: