Aproveitei o domingo para ver a exposição Virada Russa no CCBB. Imperdível! São mais de 100 obras inéditas no Brasil, entre telas, cartazes, esculturas e figurinos, vindas diretamente do Museu Estatal Russo, que ajudam a constituir os fundamentos da arte moderna e apresentam o Construtivismo, o Suprematismo, o Futurismo e o Cubismo que romperam com a arte tradicional.
A primeira das seis salas da exposição mostra o surgimento de um modernismo artístico e contextual antes da Revolução Russa de 1917. Apesar de ainda figurativa – e nem sempre de qualidade –, encontra-se casos de rara beleza e os primeiros sinais da geometria vanguardista, como o Barbeiro, de Mikhail Lariónov.As salas seguintes apresentam a explosão criativa Chagall, Kandinsky, Rodtchenko e Tátlin. Mas foi aí que me lembrei de uma passagem interessante... Ainda no primeiro ano da faculdade, estive no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e me deparei com algumas obras intrigantes, geométricas e monocromáticas que me fizeram pensar que qualquer um poderia fazer "aquilo". Apesar de uma certa razão, minha ignorância me afastou um pouco desse mundo por achar que qualquer lata de tinta jogada na tela ou amontoado de sucata seria chamado de arte.
E então me deparo com o Quadrado Negro (1923), de Kazimir Maliévitch. Tenho certeza que muitos que passaram pela exposição tiveram a mesma reação que tive no MNBA. Mas agora entendo melhor: pra mim arte era técnica e não significado. As pessoas ainda esperam as artes perfeitas de Da Vinci, Michelangelo, Rafael, Caravaggio. O importante no Quadrado Negro não era a chapada perfeita, a tela pefeita ou o enquadramento geométrico da forma e sim o seu significado. Na peça de teatro "Vitória sobre o sol", onde a humanidade no futuro enfrenta o sol como vilão, Maliévitch havia feito a cenografia e colocado um quadrado negro como símbolo do sol que era rasgado ao fim do ato. Essa representação foi continuada pelo artista em seu famoso quadro, que, posteriormente, foi colocado em um exposição de vanguarda como um símbolo de adoração e ganou o status de ícone revolucionário. Ou seja, muito mais que a técnica. Dessa experimentação ainda vieram Cruz Negra e Círculo Negro, no mesmo ano. E Maliévitch ainda nos deu expoentes geométricos como sua xícara em meio-círculo (1923), suas esculturas experimentais e outras pinturas bárbaras, como Cabeça de camponês (1928-1929).Assim, St. George (1911) de Kandinsky, Círculo Branco (1918) de Rodtchenko, e Movimento no espaço (1922) de Matiúchin ganharam uma nova dimensão e abriram um novo mundo pra mim.
A exposição ainda me apresentou a Pavel Filonov. Depois desse discurso "conceito sobre técnica" que fiz, volto a exercer meu fascínio pela técnica. Pouco conhecido e valorizado por causa do isolamento socialista stalinista, este pintor foi capaz de produzir obras de incríveis complexidades técnica e simbólica. Cada milímetro do quadro, cada pincelada de cor, cada vez que se vislumbra sua arte, somos apresentados a uma nova realidade. Fiquei impressionado com seu Fórmula de Primavera (1920).O fim da exposição apresenta a arte voltada para o povo e para a política. Aparecem os primeiros cartazes, tecidos e objetos com artes aplicadas: os primórdios da influência russa no design mundial. Quero conhecer muito mais sobre o assunto.
Parabéns a todos que trouxeram este evento pra cá. Repito: I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L! Até 23 de agosto no CCBB! E de graça! Ah... como está rolando o Anima Mundi, a exposição tem ficado LOTADA de crianças e isso tem seus prós e contras.
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