quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Metalinguagens cinematográficas

Seja de forma quase ingênua e documental ou de forma fantasiosa e infantil, os filmes O Artista (The Artist, 2011) e A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011) abordam nostalgicamente a história do cinema.

O Artista é ousado por natureza: um filme MUDO em preto e branco nos dias de hoje! Como fazer os espectadores do século XXI com seus filmes 3D e épicos intergalácticos pararem para ver um simples filme sem diálogos falados e sem cores?

O filme começa em 1927, exatamente quando o primeiro filme sonoro (O Cantor de Jazz) chegava aos cinemas (este tema já rendeu clássicos como Crepúsculo dos Deuses e Cantando na Chuva). Acompanhamos, então, a jornada de George Valentin (Jean Dujardin), um astro do cinema mudo aproveitando seu último sucesso antes de Hollywood se deslumbrar com o som. O orgulhoso ator confia em seu trabalho e se recusa a entrar na nova onda. Em paralelo à sua desgraça, vemos a garota anônima que ele ajudou a ingressar no showbiz voar alto na indústria e se tornar Peppy Miller (Bérénice Bejo), a queridinha do cinema falado.


O filme é simples... BEM simples. E com roteiro previsível. Lembre-se também que é um filme mudo feito com a tecnologia e os recursos de hoje. A edição sonora da cena que o protagonista tem pesadelos com a chegada do som merece um grande destaque. A força das atuações é o que realmente vale. Não considere as caretas exageradas nos momentos metalinguísticos do filme (ou o cachorrinho fofinho), mas a capacidade dos protagonistas em somente com os músculos do rosto expressar toda e qualquer emoção (percebam James Cromwell, o motorista).



Hugo é um filme família infanto-juvenil que nos conta a aventura de um órfão (Asa Butterfield) em busca de uma mensagem de seu falecido pai (Jude Law). Na verdade, ele precisa é encontrar seu lugar no mundo. Para isso, ele tem que consertar o robô deixado por seu pai com ajuda de uma menina bem sabida (Chloë Grace Moretz). De repente estamos no meio de um mistério: quem é realmente o dono da loja de brinquedos (Ben Kingsley)? Qual sua relação com o robô? Porque ele odeia tanto o cinema?

O problema é esse "de repente". O filme parece começar de um jeito e do nada termina previsivelmente. São inúmeros personagens descartáveis em um filme 3D que transforma Paris numa belíssima engrenagem de um relógio. A idéia de colocar o órfão como um diretor de cinema usando os relógios como suas lentes do mundo/estação de trem é uma boa sacada de Scorcese (diretor). Colocar atores que participaram da franquia de Harry Potter também (Narcisa Malfoy / Helen McCrory, Tio Dursley / Richard Griffiths e Madame Maxime / Frances de la Tour). Mas, apesar das ótimas relações com os sonhos e com as mágicas ilusionistas, conhecer a história do cinema nesta fábula é mais interessante, porém menos emocionante.



Diz muito sobre o Oscar o fato de ambos os filmes serem os campeões de indicações em 2012, respectivamente em 10 e 11 categorias, em um momento em que os grandes estúdios pensam em como evitar a evasão das salas e o poder da pirataria. Entre eles, não sei quem ganha. Um é "mais arte" enquanto o outro tem Martin Scorcese. Mas confesso que já vi disputas melhores.

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