segunda-feira, 14 de maio de 2018

Começou a Copa?


Na última Copa, comecei empolgadamente a escrever desde o sorteio dos grupos... provavelmente porque a Copa foi no Brasil. Só que a ressaca do 7 a 1 não acabou. Estou sem a menor vontade de escrever, até porque o maior evento mundial de futebol não tem sido mais a mesma coisa. A Fifa também não. Cheia de escândalos... e ainda querendo aumentar para 40 times. Vocês perceberão o quanto isso será ruim numa copa que já tem Irã e Marrocos na mesma chave, ou Panamá e Tunísia.

Não sei se terei a mesma vontade de escrever como antes, mas, com certeza, verei o máximo que conseguir. Afinal, é a suposta nata do futebol mundial. Vamos lá:


A dona da casa se deu muito bem, porque tem um time bem fraco e pegou uma chave com grandes possibilidades de passar. O Uruguai é talvez a única garantia SE jogar o futebol de 2010... porque não anda muito bem. Todos os olhos estão voltados para o Egito por causa do excelente Sallah, jogador do Liverpool, no entanto, não vejo como ele possa carregar o time sozinho. A Arábia pra mim é uma incógnita. Impossível de prever esse grupo... qualquer um pode sair vencedor. E será um vencedor fraco.


Esse grupo é óbvio. O primeiro jogo já é o clássico ibérico que, provavelmente, vai definir o primeiro do grupo. Não dá nem pra cogitar que Irã (a melhor seleção asiática no momento) e Marrocos façam algo, porém, a disputa entre eles - também na primeira rodada - deve ser um jogo pegado, afinal, quem vencer, ganhará fôlego para enfrentar as potências europeias, enquanto, quem perder, dará adeus. Seria muito bom se a primeira rodada desse só empates... Ai o grupo ia ficar interessante.

Quem passar desse grupo deve se dar bem, porque vai cruzar com o fraco Grupo A e já deve pensar nas quartas. O Uruguai é o único que - supostamente - poderia animar as oitavas.


O interessante desse grupo é sua irregularidade. França é possivelmente a vitoriosa aqui, mas é o time que ou joga bem demais e chega numa final (o que é bem possível porque tem jogadores excelentes) ou faz cagada logo de cara. Dinamarca, Austrália e Peru - sinceramente - estão equilibrados. Acho que o grupo será definido na última rodada, com chances pra todo mundo.


Argentina e Nigéria devem ter algum carma porque sempre se cruzam de alguma forma em Copas. Pode não parecer... mas esse grupo é muito equilibrado. Será que a Argentina tem só o Messi que classificou a seleção sozinho ou virá com força máxima? Aliás... que força? Eles só andam produzindo jogadores de frente, atacantes... nada de bons jogadores de defesa. Já a Nigéria é o clássico futebol africano de força sem qualquer adendo, sendo que anda apresentando problemas extracampo e um futebol bem medíocre. A Croácia é um bom time, eficiente e com bons jogadores. Pode ser até a primeira seleção do grupo, porém, se classificou pra Copa na repescagem... atrás da Islândia! Bom... essa seria a certeza de derrotas... mas depois do que fizeram na Eurocopa 2016, me arrisco a dizer que até a Argentina corre risco.

C e D se cruzam nas oitavas e é muito difícil de prever algo. Seria fácil apostar nas seleções europeias do C mais Argentina e Croácia no D, mas não sei mesmo. Fico achando que Austrália, Peru e Islândia podem dar o que falar.

Considerando que A, B, C e D irão se cruzar nas quartas, provavelmente Portugal e Espanha terão um caminho mais fácil do que quem sair de C e D. Se não tivermos surpresas, teremos clássicos europeus e a Argentina.


E aí estamos nós. Num grupo relativamente fácil, onde só perderíamos para nós mesmos. O primeiro jogo do Brasil vai determinar o caminho: ganhando da Suíça, provavelmente estaremos classificados; empatando, a gente embola o grupo; perdendo, a gente só passa em segundo se ganhar as outras duas. Faço essas previsões porque a Costa Rica - mesmo já tendo surpreendido em Copa e ter um futebol razoável - não deve dar problemas a ninguém. Suíça e Sérvia jogam a vida na segunda rodada, mas tem uma cara forte de empate... o que vai deixar o jogo Sérvia e Brasil com jeito de decisão caso o Brasil perca para a Suíça. Acho difícil o Brasil ficar fora da próxima fase, mas não podemos dar mole...


Que moleza, hein, Alemanha? Primeiro lugar garantido! Pelo menos a disputa do segundo lugar deve ser boa. Todos os jogos entre as três seleções serão tensos, porém, creio eu, que nivelados por baixo. México já está devendo há tempos, mas é o México. Suécia não tem mais Ibrahimovic, mas é a Suécia. E a Coréia do Sul tem o Song jogando um bolão no Tottenham

O segundo lugar do grupo do Brasil vai pegar a Alemanha... ou seja, Brasil, faça-me o favor de passarem primeiro! Azar de Suíça ou Sérvia. Passando em primeiro, o Brasil pega um dos três do F e será pedreira. O melhor seria pegar a Coréia, ma se ela passar, significa que tem algum potencial. México é famoso por detonar a gente em competições americanas e a Suécia é freguês em Copa, mas dá trabalho.


Bélgica e Inglaterra certamente, igual ao grupo C. E elas deram sorte, porque são duas seleções irregulares, mas Panamá e Tunísia não devem ter chance alguma. Nem ser surpresa. As europeias tem que fazer muita merda pra não passarem.


Esse grupo é bem parecido com o D da Argentina... É estranho ver a Polônia como cabeça de chave, mas, num grupo tão equilibrado de forma mediana, é possível que se dê bem. Só que a Colômbia mostrou um timaço na última Copa e manteve um futebol muito bom nas eliminatórias. Por isso, creio que será a primeira do grupo. Com isso, o segundo lugar fica aberto. Japão e Senegal podem acontecer nesse grupo, e, por isso, o jogo entre eles na segunda rodada pode ser decisivo para um deles, fazendo a última rodada ser interessante.

Acreditando em Bélgica e Inglaterra no grupo G, a Colômbia vai pegar uma pedreira nas oitavas, o que faz as duas europeias desejarem ficar em primeiro pra pegar algo mais fácil na sequência.

As quartas aqui se fazem de E, F, G e H, ou seja, Alemanha estará, Bélgica e/ou Inglaterra também. Falta uma ou duas vagas... Brasil? Colômbia? Bom... não acredito em surpresas nas quartas. Pode ser que tenhamos algo nas oitavas, mas nada que vá muito longe.

O futebol internacional está globalizado, porém, desequilibrado. São poucas as seleções que possuem jogadores de alto nível em todas as posições que podem criar uma boa seleção. Brasil acaba, de certa forma, se destacando nisso, assim como Alemanha, Espanha e França. Já Argentina, Colômbia, Portugal, Inglaterra e Bélgica vem logo a seguir com um grande número de bons jogadores (sendo que alguns desequilibram). Ou seja... nove seleções de 32 podem realmente fazer algo e ainda querem botar mais oito? Bom... talvez assim entrassem Itália, Holanda, Chile, Paraguai... mas em que nível?

Algo me diz que essa Copa será um divisor de águas no futuro do futebol internacional e da competição em si.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Reflexões sobre o livro "Transparência do Mal – Ensaios sobre os fenômenos extremos", de Jean Baudrillard

Texto produzido em 1º de maio de 1996 para a disciplina Análise à Informação, do Prof. Jorge Lúcio de Campos, enquanto eu estudava no primeiro ano da ESDI.

ENSAIO 1: "APÓS A ORGIA"
Toda boa redação deve ser dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, devem estar o tema central e as ideias a serem abordadas. O ensaio "Após a orgia" é como uma introdução.

Baudrillard apresenta uma série de argumentos demasiadamente radicais, caóticos e negativos. Chegou a me lembrar o poeta pré-moderno Augusto dos Anjos, que escandalizou sua época por usar um linguajar rebuscado e negativo. Sua radicalidade se expressa pelo excesso de palavras como "tudo", "todos", "nada", "jamais", que, em Geografia, aprendemos a não usar por serem tão generalizantes.

O autor define "orgia" como "o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios". E é nesse pensamento que se seguem seus outros ensaios, explicando-se uma série de liberações de nossa sociedade, relacionadas sempre com a pergunta crucial do livro: O QUE FAZER APÓS A ORGIA?

Não acho que nossa sociedade tenha percorrido "todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, signos, mensagens, ideologias, prazeres". Nossa sociedade tradicional é calcada no ideal de progresso, onde o espaço de experiência é diferente do horizonte de expectativa. Isso nos leva a analisar uma sociedade que sempre procura melhorar através de mudanças sejam elas boas, ou não. Assim, fico impossibilitado de dizer que estamos progredindo no vácuo. Nós não vivemos uma reprodução indefinida em um tempo cíclico de saber no passado. O homem surpreende a toda hora e pode alterar seus ideais e sonhos, vivendo um tempo linear de saber no futuro.

Baudrillard argumenta que as coisas não desaparecem por morte ou fim. A proliferação, saturação, exaustão e epidemia das mesmas podem realmente levá-las a um fim dispersivo. O cineasta Wim Wenders diz que numa cidade grande, onde o acúmulo excessivo de propaganda é alienante, o tudo acaba se tornando o nada. É exatamente isso que o autor quer dizer: perde-se o sentido e a força quando se chega à contaminação exacerbada.

A trilogia do valor é facilmente entendida graças ao feedback que possuímos, uma vez que não há uma explicação clara e bem desenvolvida do tema. As atenções se voltam apenas para o quarto valor: o valor fractal. Esse valor é dado como o valor de avaliaço impossível que irradia para todos os lados sem referências, de forma aleatória. Isso porque é difícil avaliar o valor do que está em constante mudança, saindo de um eixo ordenado óbvio. Mesmo os opostos não andam mais lado a lado, numa luta eterna pela hegemonia. Esse é o valor fractal. E o autor determina esse valor como o "esquema atual de nossa sociedade". Assim, ele entra num paradoxo que ele diz melhorar o funcionamento de uma sociedade. Ao mesmo tempo que finaliza o ideal de progresso, ele dá um movimento às coisas de maneira fractal.

Esse paradoxo é mal analisado quando se sustenta o ideal de que o progresso, a riqueza e a produção desapareceram, mas continuam existindo. Como falar no desaparecimento das bases político-econômicas de nossa sociedade? É fato que estamos enfrentando momentos difíceis e confusos, mas anular a essência da sociedade? Isso fica exagerado. Concordo com a ascensão do jogo político em contraposição ao fim das ideias, porque (infelizmente) leio jornais para saber o que ocorre no ninho de víboras do governo.

O que, com certeza, possibilitou o homem mudar, ou seja, evoluir para o que é hoje, foi sua curiosidade. Nascida no âmago de todos os seres, essa sede de conhecimento nos levou a lugares incríveis e a descobertas fascinantes. Por isso, fica injusto considerar a curiosidade como uma pulsão secreta em todo ser humano de desfazer-se das ideias e das essências para chegar à orgia, excedendo em todos os sentidos. Nosso objetivo é estudar, experimentar para que alcancemos novas possibilidades e facilitemos a vida de todos.

Talvez seja um grande erro não obedecer ao código genético. Se eu fosse um fanático religioso, diria que a genética é um pecado mortal, uma afronta a Deus. Clonagens e próteses são uma tentativa de driblar os valores naturais. "O máximo da sexualidade com o mínimo de reprodução" é a ordem da liberação sexual. "O máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo" é o sonho de uma sociedade clônica. Mas será que chegamos, alguma vez, a um desses dois extremos? Nossa sociedade jamais foi influenciada apenas em sexo ou apenas em clonagens. Ocorre sim, como o autor comenta em seus outros ensaios, uma transexualidade que se estende bem alem do sexo. Não se tem um processo de confusão e contágio; tudo é experimental, são tentativas de formar personalidades próprias e extrapolar seus desejos mais íntimos. Realmente perde-se o caráter específico do sexo e cria-se um processo viral de indiscriminação. Isso, exatamente, porque é algo novo que vai contra os valores sociais e morais de nossa sociedade.

São esses valores que dão margens a essas discussões. O conservadorismo e as tradições que nossa sociedade guarda, de fundo moral e ético, acabam criando paradoxos com a evolução do saber que acompanha o crescimento da humanidade. Há uma dificuldade muito grande em quebrar tabus para acolher os novos conhecimentos.

A comparação entre a metáfora e a metonímia, direcionada ao processo transversal é interessante. A utilização da denotação das duas palavras para dar um sentido conotativo à transversalidade cai perfeitamente nesse discurso. Nesse processo da transversalidade, é fácil perceber essa metonímia ao avaliarmos o campo de ação de uma disciplina qualquer. As disciplinas criaram uma interligação, fazendo desaparecer os vestígios dos conjuntos individuais para formar um enorme termo de coletividade. E é por causa dessa contaminação, dessa infecção de todos os domínios que podemos falar "tudo é sexo", "tudo é política", "tudo é dinheiro". Essa radicalização é bem contestada quando Baudrillard fala que "cada categoria é levada a seu mais alto grau de generalização, e por isso, perde toda sua especificidade e se desfaz em todas as outras".

Há uma análise nesse ensaio, sobre as teorias revolucionárias, que nos faz pensar sobre o tão esperado progresso da humanidade. O capital não leva em consideração os valores econômicos, fugindo de seu próprio significado centralizador, sem quaisquer referências (aliás, raramente o capital seguiu as leis a ele impostas); o político foi questionado e, quando teve suas bases enfraquecidas, levou consigo o social; a arte tentou renegar as regras que a limitavam mais continuou seguindo padrões que levaram à banalidade das imagens; a utopia sexual de tornar a totalidade do desejo como uma realização na vida de cada indivíduo acabou numa confusa transição sexual de circulação promíscua que levam a uma indiferença e discriminação do ato. Ou seja, as tentativas que nossa sociedade fez para melhorar suas condições e seu campo de ação, determinaram o começo da orgia.

O princípio do Mal de Baudrillard acaba por aparecer. A curiosidade que a sociedade carrega instiga uma parte maldita: a vontade de violência e morte. O movimento incessante da sociedade, sempre eficiente e sempre fracassada, na tentativa de disfarçar o Mal, beneficiando o Bem, descreve essa parte maldita do princípio. O autor considera o Bem uma sentimentalidade ingênua que sempre será superada pela energia irônica do Mal.

Acho bem errado dizer que o êxito da comunicação e da informação indica a incapacidade da sociedade se superar através de outros meios. É através da comunicação e da informação que a sociedade, como coletivo, e o indivíduo, como entidade só, conseguem satisfazer sua curiosidade e aprender métodos de superação mais fáceis ou lucrativos. Até mesmo o conhecimento entra num processo de superação, quando seu excesso acaba em dispersão. Ao adquirirmos conhecimento, livramo-nos daqueles que se tornam vagos e ilógicos. Temos, assim, um processo metonímico de comutação. Quando Baudrillard fala que a imagem do homem sentado contemplando o horizonte e seu silêncio se tornará uma bela imagem no futuro, começamos a pensar outra vez sobre a relação tudo-nada, a que se refere Wim Wenders, graças à anulação da presença do silêncio no meio dessa invasão comunicacional e informativa. Acho que esse interesse no silêncio já está, aos poucos, surgindo. Há um anúncio de TV que mantém o silêncio, deixando apenas as imagens e as palavras correrem. Isso quebra o cotidiano de informações ininterruptas e acaba prendendo o telespectador.

ENSAIO 2: "TRANSESTÉTICO"
A arte sempre seguiu regras, que, por sua vez, seguiam os padrões de estética da sociedade. Às vezes ela assumia um caráter próprio por receber as influências dos indivíduos que a moldavam. O que chamamos de "moda", por exemplo, é algo ditado por alguns da sociedade que desejam impôr seus padrões a toda uma sociedade. No entanto, já não existe mais regras fundamentais ou critérios de julgamento. A arte continua com sua força de ilusão, sua capacidade de negar a realidade, perdendo o sentido e a finalidade, para ganhar uma nova forma idealizada. Continua também com suas características de proliferação de seus discursos sedutores e/ou destruidores.

No ensaio "Transestético", percebemos que, sem critério algum, fica difícil haver uma troca de informações no meio estético. A coexistência de diversas tendências artísticas num mesmo espaço cultural nos leva a aceitá-las simultaneamente com uma profunda indiferença. Essa espécie de inércia da sociedade atinge a arte numa estase agoniante, imobilizada pela própria imagem e riqueza de seu passado, deixando as liberdades formais e conceptivas se misturarem com outros estilos sem nenhum controle ou com um controle imóvel.

A evolução do homem, já analisada em função da curiosidade interior, tornou o mundo potencialmente criativo. Sem dúvida, a curiosidade "puxou" a criatividade para perto, onde as experiências podiam ser então melhor observadas e concluídas. Mas o homem experimentou a industrialização da arte e "transestetizou" toda a insignificância do mundo. Essa mercantilização que se viu ao redor da arte mudou o destino da organização semiológica. Qualquer coisa que fosse uma força de expressão, um signo, uma consideração de uma das tendências artísticas sofria ação do mercado. Acabou-se por vender o marginal, o banal como forma de cultura, de ideal estético. A arte ganhou o valor do mercado, perdendo o valor estético do signo. Isso não é uma descrição clara dos Mamonas Assassinas? Todo o besteirol, a lixo-cultura que eles empreenderam se tornaram uma ideologia que é cultuada até hoje, mesmo depois da morte do grupo.

Nesse ensaio, o ideal do transversal é esclarecido. Não é a essência da arte que está desaparecendo ou suas concepções desmaterializando. A estética se proliferou por toda a parte e ganhou uma personalidade mais operacional. Baudrillard diz que é assim que a arte sobrevive: modificando-se de acordo com as regras do jogo, forçando até seu próprio desaparecimento. Mas ele pisa num terreno contrário a arte. A publicidade jamais poderia ser chamada de arte, mesmo que tornemos essa última o mais mercantil possível. Os ideais fundamentais de arte e publicidade entram em choque. Não há passagem de emoção e sensibilidade numa propaganda, assim como a arte, em seu sentido mais puro, jamais será artificial.

O homem é uma criatura iconoclasta. Os ícones nos fazem crer na possibilidade da existência. Toda imagem nos passa alguma coisa, mas a profusão delas nos leva a um apagamento dos vestígios e das consequências. Seria fácil colocar a existência de Deus em questão, mas as imagens transmitidas por ícones não nos permitem deixar de crer. Assim, devemos considerar a arte contemporânea como os ícones e suas imagens, levando em conta sua função antropológica sem critérios ou julgamentos estéticos.

É inútil buscar coerência e destino estético na nossa arte. É impossível julgar belo e feio, condenando a humanidade à indiferença. Essa indiferença gerou o hiper-realismo atual da arte. Não se cultua mais o belo ou o feio. Prefere-se o kitsch e o fascinante, o hiperreal. A arte-pop ganhou força com isso, pois se elevou a potência irônica do realismo.

Essa elevação potencial mexe no meio mercantil, como já foi analisado. As leis do valor também se elevam, o que é mais caro se torna mais caro e os preços ficam exorbitantes. Entra aí o modismo. Essa alteração dos valores supervaloriza alguns artistas, inferiorizando outros, iniciando a arte-xerox, ou seja, uma arte copiada que penetra no paradoxo das regras artísticas.

Para Baudrillard, a arte gira em torno de dois mercados: o da hierarquia dos valores e o da especulação financeira, ficando acima do belo e do feio. Talvez não seja por aí que a arte se desenvolve. Ela cresce por si só, com seus fundamentos de sensibilidade e transmissão de uma mensagem, desafiando os valores, realmente ficando acima deles. Os mercados reutilizam essa arte como uma forma de superar esses valores para controlar o capital flutuante e ficar, ainda, acima do bem e do mal.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Arte ao Lado: Otávio Oliveira

Otávio Oliveira é o filho do meio, o “mais diferente dos três irmãos”, como ele diz. Era considerado o artista da família, pois, ainda criança, demonstrou facilidade em desenhar tudo que o cercava. Com o tempo, se interessou por música e aprendeu vários instrumentos musicais (quase se formou em violão clássico). Lia avidamente todos os livros que caíam na sua mão. Na hora de escolher uma carreira, sabia que necessitava fazer algo que o sustentasse, porém, era imprescindível que houvesse algum tipo de arte associada à profissão.

A odontologia apareceu como a “resposta perfeita”. Tornou-se um dentista pós-graduado em prótese, habilitando-o a lidar com a correção funcional e estética dos problemas causados pelas perdas dentária. A profissão permitiu uma vida digna a seus filhos e supriu sua necessidade de estar perto da arte.

Ele sabe que existe um grande lado de ciência no que faz. Após a parte técnica e a parte funcional do trabalho, entra a escultura dos elementos perdidos que deve estar em harmonia não só com os outros dentes, mas com todo o rosto. É preciso estudar a face de cada pessoa individualmente, pois “perceber suas peculiaridades é vital na criação não só de um sorriso bonito, mas de um sorriso que represente a verdadeira felicidade daquele que sorri”

Para Otávio, a arte é literalmente transformadora:
“Só a arte pode nos dar a sensibilidade necessária para perceber tais nuances. Tê-la dentro de si é um privilégio. Me sinto abençoado por isso.”
E é abençoado mesmo porque a arte transborda dele. Otávio foi meu dentista por um período curto, mas nos reconectamos através das redes sociais. Foi onde eu conheci o pai de família, o romântico, o músico, o cantor, o escultor, o pintor… o artista que ele é por completo.


quarta-feira, 25 de abril de 2018

Pantera Negra

Pantera Negra (Black Panther, 2018) é um filme de super-herói, gente. Nada mais do que isso e nada diferente do que a Marvel faz com relação a enredo. Está tudo lá: a ascensão e queda do herói para sua final redenção, a ascensão do vilão até sua derrota, as grandes perseguições e cenas de combate, a tecnologia, o humor... fórmulas que a Marvel já está craque.

No entanto, é preciso entender o fenômeno social que levou esse filme a bater inúmeros recordes (na casa de 1 bilhão de espectadores), a botar um super-herói na capa da revista Times e estar com possibilidades de disputa de Oscar.

Enquanto o filme da Mulher-Maravilha deu força à mulher não só como protagonista, mas em todos os aspectos dentro do filme (direção, figurino, direção de arte e por aí vai) e fora dele (manifestação anti-assédio), o filme do Pantera Negra traz a representatividade étnica com um elenco estrelar, 98% negro, cineasta negro, mostrando não uma África sofrida, mas uma África ACIMA da cultura branca ocidental europocêntrica com diversas críticas pontuais muito bem feitas.

Nós temos empatias por todos os personagens (interpretados por FERAS como Chadwick, Lupita, Forrester e Angela, somados a Daniel - de Corra! -, Letitia - grande Shuri -, Danai - poderosa Okoye, chefe das Dora Milaje -, Winston - o Homem-Gorila - e Michael B. Jordan em redenção cinematográfica, entre muitos outros). São tantas texturas, complexidades, nuances dos personagens traduzidas num visual arrebatador que une à tecnologia às expressões tradicionais africanas. Os vilões novamente não são vilões, mas aqui nesse filme isso é bom. Somente Ulysses Klaue (Andy Serkis) pode ser considerado realmente "do mal".

O filme está conectado diretamente à Guerra Civil e Vingadores 2, seja pela presença do Soldado Invernal, seja pela presença de Martin Freeman após os problemas na ONU. É meio longo, porém, necessário para apresentar todas as referências do Pantera e ainda mantê-lo conectado ao MCU.

Como aqui nessas postagens eu tenho falado sobre a relação cinema/quadrinhos... posso afirmar: a Marvel acertou em cheio! Acho que tudo estava no filme. Até as adaptações foram bem feitas, como o "superuniforme". E pra mim, é por isso, que esse é um grande filme do MCU.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Thor foi pro espaço

Tiraram o cabelo comprido sem razão. Tiraram um olho sem razão. Tiraram Mjolnir sem razão. Tiraram Asgard. Nem precisaria dizer mais...

Eu realmente saí do cinema (em novembro de 2017) bem desapontado com o fim da trilogia do Thor nos cinemas. Thor Ragnarok foi feito para tirar a má impressão de seus filmes anteriores (ditos muito sérios) com um humor totalmente fora de contexto e acabaram desconfigurando-o totalmente.

Primeiro, vamos à contratação de Taika Waititi, um ator/diretor que parece trazer somente o tal humor over, porque as decisões seminais do filme foram realizadas pelos produtores da editora. Ele também faz Korg, um guerreiro de pedra com sotaque havaiano longe do personagem dos quadrinhos, engraçadinho na tela, porém perdido.

Segundo, vamos aos atores... Contratar Cate Blanchet como a primeira grande vilã da Marvel parecia um tiro certeiro. Mas veja a atuação dela... parece que ela não está levando a sério!

Terceiro, vamos ao Hulk... personagem aparentemente querido do público, mas também envolvido em imbróglios contratuais (e medo de mais fracassos individuais) que é colocado no meio de um filme que não lhe pertence, ganha mais falas, mais tempo de tela e nos leva ao quarto ponto...

Quarto, vamos às contínuas adaptações de quadrinhos para as telonas:
  1. Hela como a primogênita de Odin? Conquistadora ao lado do pai? Banida por ambição? A morte de Odin a liberta? Hã? Nem na mitologia nem nas HQs!
  2. Thor usando os poderes de Heimdall? Hã?
  3. A única Valquíria que sobrou não tem nome e é uma alcoólatra espacial? (Não... não há justificativa... e atente que nem me incomodei pelo fato dela ser negra quando as valquírias eram a epítome da brancura/loirice nórdica, já que Heimdall é Idris Elba)
  4. Planeta Hulk é uma das histórias mais bem sucedidas do Hulk nos quadrinhos. Resumindo: com medo da fúria do gigante verde, alguns heróis o exilam no espaço; ele cai num planeta onde se torna um gladiador e, por fim, o salvador. Aqui no filme, lembramos que o Hulk ficou preso em uma nave depois da batalha em Sokovia, em Vingadores 2. Ele é colocado no Torneio dos Campeões do Grão-Mestre (outro clássico quadrinístico para ver herói vs. herói), junto com Korg e Miek (personagens do Planeta Hulk), só pra enfrentar o Thor (um combate interessante que mais vale pela cena que Loki vibra com o que o Hulk faz com Thor). Porém, a saga dos quadrinhos é muito maior, mais importante e impressionante. O filme reduziu tudo a nada.

For isso tudo, ainda temos [spoilers]:
  • A destruição sem sentido do Mjolnir em nome de dar poderes elétricos para Thor. Não... não adianta dizer que o martelo era poderoso demais. Ok, ficou visualmente bacana, mas não, não tem explicação.
  • A morte ridícula de Volstaag e Fandral (dos três guerreiros, Hogun é o que tem uma morte mais digna)
  • Sif ignorada ao ponto de nem aparecer no filme.
  • Um Skurge de quinta que não disse ao que veio.
  • Um teatrinho shakespeariano engraçado porque tem Sam Neill como Odin, Matt Damon como Loki e Luke Hemsworth (irmão de Chris) como Thor, enquanto Anthony Hopkins faz o Odin/Loki.
  • A participação do Dr. Estranho, que liga Thor ao lado místico do MCU, apesar do resto todo do filme direcioná-lo para o lado cósmico a la Guardiões da Galáxia (inclusive a primeira cena pós-crédito é ligação direta com a Guerra Infinita). Aliás, nessa cena (só) vale o Mjolnir como guarda-chuva, lembrando o início do herói nos quadrinhos.
  • Quer saber o que é o Ragnarok mitológico? Clique aqui, pois é beeem diferente do explicado no filme. Até os quadrinhos trabalharam melhor.

Especificamente sobre Sakaar, o planeta do Torneio dos Campeões, vale uma ressalva. Confesso que não entendi a estética daquele "lixão espacial" quando vi pela primeira vez. Porém, vendo os extras do blu-ray, entendi tudo: é uma senhora homenagem a Jack Kirby, um dos grandes construtores visuais do Universo Marvel. Passei a gostar da vibe oitentista.

Precisamos saber também que cronologicamente esse filme se passa AO MESMO TEMPO que Guerra Civil e seria, por essa razão, que Thor e Hulk não participaram do terceiro filme do Capitão. No entanto, pra mim, o objetivo foi literalmente ACABAR com a trilogia individual do Thor e, talvez, eliminá-lo das vindouras fases do MCU. Não duvido que ele morra nos próximos Vingadores...

Apesar dessa minha crítica, o filme foi muito bem recebido. Ou seja, ignorem tudo que eu escrevi e vejam o filme por sua própria conta.

sábado, 7 de abril de 2018

De volta ao lar

E o Homem-Aranha está de volta ao lar, ou seja, ao MCU! Título perfeito (Spiderman: Homecoming, 2017) para uma confusão legal feita há nos atrás pela Marvel. Resumindo: pra colocar seus heróis na telona, a editora vendeu um monte de direitos cinematográficos. Por exemplo, X-Men e Quarteto Fantástico foram para a FOX, enquanto o aracnídeo foi para a Sony.

Antes de falar do novo filme, deixa eu lembrá-los que, em 2002, o primeiro filme do Homem-Aranha foi um sucesso estrondoso e a Sony viu que havia tirado a sorte grande. A sequência em 2004 foi ainda maior, mas o fim da trilogia em 2007 deixou um pouco a desejar.

Quando Homem de Ferro foi lançado em 2008 pela própria Marvel, deu-se o problema: enquanto os fãs exigiam o retorno do teioso para casa, a Sony jamais largaria sua mina de ouro. Então, assim como nos quadrinhos mudam o desenhista e as histórias são recontados com outros pontos de vista, em 2012, mais um filme foi feito... um "reboot" que não era exatamente um reinício.

Só que em 2012, a Marvel detonou tudo com Os Vingadores e já preparou terreno para vários filmes de sua segunda fase. A Sony precisava fazer algo com o universo do Aranha e resolveu lançar o segundo filme do "reboot" em 2014, cheio de pontas para criar um universo particular. Porém... o filme pecou em vários erros semelhantes ao do terceiro filme da primeira trilogia e as pessoas começaram a perder interesse por essa versão do herói. O público exigia que ele voltasse para as mãos da Marvel.

Um ano de intensas negociação (com direito a quase porrada de produtores), finalmente foi negociada uma parceria entre Marvel (agora com toda a força da Disney e das Lucasfilms) e Sony. Assim, o Homem-Aranha estreou em 2016, no terceiro filme do Capitão América, Guerra Civil. Ah... agora sim! Teremos o melhor Homem-Aranha de todos!!!

Longe disso.

O "amigão da vizinhança" virou uma salada:

  • Tom Holland é uma mistura de Tobey Maguire com Andrew Garfield, porém com a idade, ansiedade adolescente e condição atlética certa (o poder de adesão foi muito bem trabalhado).
  • Seus colegas adolescentes tiveram suas características físicas alteradas. Ok, entendo a tal da representatividade... mas colocar o Flash como um indiano não dá. MJ como um nerd é impossível! Liz negra e filha do Abutre... hã??? E Ned... talvez o MELHOR PERSONAGEM DE TODO O FILME... é, na verdade, outro personagem do universo Marvel, o Ganke do Homem-Aranha Ultimate.
  • Tia May garotona também é questionável... pelo menos tiraram o tom "Tonyzete" que deram a ela no filme Guerra Civil.
Jacob Batalon faz o ótimo Ned Leeds.

É visível também que houve uma tentativa de traduzir o sucesso da primeira trilogia quando toda a cena da barca é PRATICAMENTE IGUAL a cena do trem no Homem-Aranha contra o Dr. Octopus. Além disso, prestem atenção no Abutre... ele É O DUENDE VERDE! Suas asas parecem o planador! E ele descobre a identidade do herói em uma cena que jogam uma luz verde do semáforo na cara dele! Mesmo sendo feito por Michael Keaton (eterno Batman e Birdman) com um enredo até bem estruturado (o tráfico de armas alienígenas), isso ficou muuuuuito ruim pra mim. Pelo menos dessa vez eles entenderam que colocar três vilões não funciona e Shocker e o Consertador são personagens bem coadjuvantes.


Tony Stark - que já roubara metade do filme do Capitão - também rouba um pedaço desse filme na construção de uma relação pai e filho. Mesmo que não seja totalmente presencial... é dele a Controle de Danos (empresa que cuida das destruições em combates de super-heróis), é dele a nova tecnologia do uniforme (com destaque para as teias-planadoras, o sinal-aranha e o rastreador, porque o modo "Morte Súbita" e o drone não colaram) e é a mudança dos Vingadores para o Triskelion que dá o norte ao filme. Fora Happy Hogan que é a "babá" do Aranha e (spoiler) a cena do pedido de casamento.

Mesmo não contando mais a origem, foi necessário estabelecer o herói dentro no MCU e isso tornou o filme longo demais. Não é um filme ruim, mas ficou aquém. Parece uma sina manter o nível desse personagem. A Sony anda tentando estender o universo aracnídeo com filmes do Venom, da Gata Negra e da Silver Sable e eu não sei como isso vai mexer com o Homem-Aranha no MCU, que vai entrar na Guerra Infinita com sua tia sabendo de sua identidade. Aguardemos.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Famílias da Galáxia

We. Are. Groot.

Essa frase de Groot, a segundos de morrer e salvar a todos, determina toda a sequência do sucesso: Guardiões da Galáxia vol. 2 (Guardians of the Galaxy vol. 2, 2017) é um filme que fala de família, de uma equipe disfuncional exatamente por serem mais do que simples amigos ou mercenários. Vejam:
  • A paternidade do Senhor das Estrelas já era uma questão desde que Peter segura a Joia do Infinito contra Ronan e a Tropa Nova descobre que ele tem meio sangue alienígena. Na última cena do primeiro filme, ainda vemos Youndu conversando com Kraglin sobre o sequestro de Peter ter sido encomendado por seu pai. Nos quadrinhos, Peter é filho de J'Son, regente do planeta Spartax. Aqui ele é elevado a categoria celestial ao ser filho de Ego, o Planeta Vivo. Apesar da mudança drástica, a ideia caiu bem se avaliarmos o personagem de Peter em si. No entanto, essa relação é a mais morna e lenta do filme.
  • Isso porque a outra "paternidade" é muito melhor: o carinho nutrido por Youndu, transforma o quase vilão no primeiro filme em um anti-herói (e numa Mary Poppins badass) que fecha o filme com tristeza. O crescimento desse personagem é gritante.
  • Peter e Rocky estabelecem uma visível relação de irmãos em constante conflito, assim como Gamora e Nebula. Só entendemos Rocky depois de uma conversa que ele tem com Youndu que aumenta a carga emocional de ambos os personagens. Só entendemos Nebula, quando Gamora lhe dá ouvidos. Esses personagens ganham profundidade e nos conecta.
  • Rocky e Groot se tornaram sucessos mundiais e até ganharam revistas próprias. Porém, é Groot que se torna protagonista. Ele termina um bebê germinando e começa um bebê birrento. Vive brigando com Drax (seu irmão birrento), mas termina em seus braços. Peter e Gamora estabelecem uma relação de quase filho com ele, mas esse papel é de Rocky.
  • Drax é um caso a parte. Ele é aquele membro inconveniente da família independente do grau de parentesco. Pra mim, exageraram no tom, deixando muito acima do necessário, mas não dá pra negar que ele pontua o humor do filme.

Como já conhecemos os personagens, ficou mais fácil desenvolvê-los. O filme é muito mais grandioso do que o primeiro, principalmente se levarmos em consideração que agora o vilão é um planeta inteiro! No entanto, é possível ver que toda inovação foi gasta no primeiro filme: mesmas fórmulas são seguidas até mesmo de enquadramento de cenas. A música tão maravilhosamente bem colocada anteriormente também tem seus momentos, mas não chega aos pés.

Com relação a Ego, sinceramente, teve seus altos e baixos. Ser um celestial, dar poderes a Peter, plantar flores em planetas... acho que ficou tudo cheio de pontas a serem aparadas. O acerto ficou na contratação de Kurt Russel que acerta o tom e ainda parece fisicamente com Chris Pratt pra ser seu pai de verdade.

A entrada de Mantis pra mim foi muito mal construída. A personagem não é fácil de explicar nem nos quadrinhos, mas ela é totalmente desnecessária. Sim, ela está bem encaixada, mas me parece que seria possível resolver tudo sem sua presença. Assim como Ayesha e os Soberanos. Suas motivações são muito pequenas para uma perseguição vingativa ininterrupta, mas, na cena pós-crédito, pode ter sido responsável pela introdução de um personagem antagonista a Thanos: Adam.

A colocação de mais Guardiões da Galáxia como Saqueadores foi pra fã, mas não sei se teve o impacto desejado (NOTA: Sylvester Stallone interpreta um famoso guardião chamado Águia Estelar, que no filme está totalmente descaracterizado. Uma das cenas pós-créditos mostra outros também descaracterizados. Talvez Ving Rhames como Charlie-27 seja o mais próximo.)

Tiro como conclusão que esse filme ainda é muito bom porque os personagens construídos no primeiro se mantém em forma e são ainda mais aprofundados (com destaque para Youndu). Porém, a história de fundo precisaria de mais trabalho. A equipe agora será vista na Guerra Infinita e existem planos para o fechamento da trilogia em 2020, mas tenho a impressão que deveria parar.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Força estranha

O segundo filme da terceira fase da Marvel se propôs a introduzir o universo místico da editora na telona: Doutor Estranho (Doctor Strange, 2016) expande o lado cósmico para o lado dimensional. O caminho pra isso já havia – de certa forma – sido pautado pelos filmes do Thor, já que os Asgardianos tornaram-se "alienígenas" (com uma pitada de Loki, algo que fica explícito nos pós-créditos), mas também pelos poderes surreais das Joias do Infinito e pelo microverso do Homem-Formiga. Neste filme, somos apresentados à magia como uma "programação da realidade" e, assim, o MCU tenta não se afastar (muito) do que seria possível.

O filme segue a fórmula Marvel e mantém a origem do personagem bem próxima dos quadrinhos. A arrogância de Stephen Strange é perfeitamente desenvolvida, até o acidente que o leva a uma jornada tanto mística quanto interior. É possível até perceber (para aqueles que acompanham todos os filmes) que Stephen começa como um Tony Stark e termina como um Steve Rogers, pensando em se sacrificar pelo bem maior sem desistir.

Os efeitos especiais desse filme são absolutamente incríveis. Sim... eles se inspiraram (bastante) no filme A Origem (Inception, 2010), mas foram além com o Multiverso dimensional criado. A cena ao avesso é de tirar o fôlego. O visual da magia – que traz mandalas hindus – também é lindo e o Manto da Levitação ganhou uma personalidade até divertida, porém, paradoxal já que parece não funcionar quando deveria (por exemplo, na incrível Dimensão do Espelho).


O elenco do filme é estelar, mostrando o quanto a Marvel continua atraindo os grandes nomes (seja pela quantidade absurda de dinheiro ou pelos desafios cinematográficos). A atuação de Benedict Cumberbatch foi muito elogiada e realmente está muito boa, porém, em vários momentos ele parece a pessoa errada para o papel, meio over. Isso respingou em Chiwetel Ejiofor, o (ainda não Barão) Mordo. Ele parece ser a razão, a consciência sobre o preço que se paga ao usar a magia indevidamente e até concordamos com ele ao longo do filme, entendendo sua motivação errada no final, o que lhe dá uma nuance de "vilão que não é exatamente vilão". Pena que é exatamente nessa transformação que o vemos ficar over.

Isso acaba sendo um contraponto com dois personagens: a Anciã e Kaelicius, protagonizados por Tilda Swinton e Mads Mikklsen. Ambos transmitem uma calma em suas atuações mesmo em suas cenas grandiosas de atuação, o que nos faz pensar que talvez o over de Estranho e Mordo sejam propositais. O caso de Tilda é a parte, já que o personagem nos quadrinhos é o estereótipo do ancião oriental careca de barbicha que domina todo o conhecimento. Ao ser escalada gerou dúvidas, mas ela dá um show, é claro.

Rachel McAdams como Christine Palmer está perfeita em toda cena que aparece, e Benedict Wong, o... Wong (!) também dá conta do recado mesmo sendo um retrato levemente diferente dos quadrinhos.

No fim, temos um bom filme de origem da Marvel que introduz vários novos elementos não só para a terceira fase, mas abre inúmeras possibilidades para o que virá depois da Guerra Infinita.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Intolerância do Tempo

ser "Advogado do Diabo" nos ensina a pensar fora da caixa e questionar as "fórmulas", até mesmo aquelas criadas pela gente mesmo. no entanto, é um processo difícil que atrai animosidades em uma época onde uma nova intolerância se encorpa: a INTOLERÂNCIA DO TEMPO, aquela q cerra os ouvidos e encerra conversas, q não permite a fermentação e a mudança, q cria novas caixas e novas fórmulas cada vez mais indecifráveis, q aumenta distanciamentos e seleciona somente a exclusão.

mudar de opinião e admitir o erro é agora tratado com descaso, agressividade e mais exclusão ao invés de um possível sinal de amadurecimento, de crescimento, de inteligência emocional.

fico feliz de saber q a Arte e o cotidiano como professor me colocam à prova, tornando-me alguém capaz de, pelo menos, ouvir o outro e entender a força do tempo.

amigos, o mundo q gira é o mesmo em q um homem não entra no mesmo rio duas vezes.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

MCU - 10 anos

Em 2008, a Marvel lançava Homem de Ferro, o primeiro filme de seu universo cinematográfico.

Dez anos depois, ela irá concluir sua terceira fase com uma megassaga em dois filmes que colocará todos os seus heróis contra Thanos, o grande vilão galáctico!

Não é à toa que o Homem de Ferro está no centro dessa imagem promocional de dez
anos. Além disso, os únicos vilões que aparecem são Loki e Nebula (de Guardiões),
mas eles não são exatamente vilões, né? (clique na imagem para aumentar)

Já fiz a resenha do terceiro filme do Capitão América, Guerra Civil, porque a Marvel decidiu que – estando consolidada – estava na hora de lançar novos heróis. Doutor Estranho, seu próprio Homem-Aranha (porque os anteriores eram da Sony), Pantera Negra, Vespa e Capitã Marvel teriam sua vez, enquanto os Guardiões da Galáxia teriam uma continuação e Thor encerraria sua trilogia.

Então, começarei as resenhas até culminar na Guerra Infinita dos Vingadores, no fim de abril, que ainda não é o fim dessa fase. O terceiro filme terá uma continuação em 2019 que (aí sim) irá encerrar a fase e abrir um novo horizonte ainda sem rumo, provavelmente com as sequências de Homem-Aranha, Pantera Negra, Doutor Estranho e o fim da trilogia dos Guardiões da Galáxia. Aguardemos até lá!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O ziriguidum ao lado

O Carnaval está chegando e a revista do Arte ao Lado está voltando! Então, mexa-se! Tem dança, tem teatro e – é claro – arte na Sapucaí!



"Ô abre-alas que eu quero passar..."

sábado, 3 de fevereiro de 2018

MCU - Fase 2

Após os Vingadores detonarem o cinema, o que a Marvel poderia fazer para continuar com seu sucesso estrondoso? A resposta: apostar em mais heróis e na incrível dinâmica criada entre eles. Como já escrevi sobre todos os filmes dessa fase, farei alguns comentários gerais sobre esse momento.


FASE 2
  1. Homem de Ferro 3 (2013)
  2. Thor: O mundo sombrio (2013)
  3. Capitão América: O soldado invernal (2014)
  4. Guardiões da Galáxia (2014)
  5. Vingadores: Era de Ultron (2015)
  6. Homem-Formiga (2015)

O que precisa ficar claro é que a Marvel não só apostou alto como acertou muito na segunda fase. Porém, começou com um erro: Homem de Ferro 3... Na verdade... O que fazer com o Tony Stark de Robert Downey Jr., um do grandes responsáveis pelo sucesso do MCU? O filme privilegia o ator, ao mesmo tempo que nos presenteia com inúmeras armaduras com um jeitão claro de fechamento, como se ele nem fosse mais aparecer. O(s) vilão(ões) são péssimos e mostrou um problema com todos os filmes.

A saturação de filmes de heróis no cinema começou a colocar as produções em cheque, mas a Marvel percebeu o que deveria fazer. Primeiro, precisava consertar os filmes solo dos outros dois representantes de sua trindade, Thor e Capitão América. Depois, criar um ponte de ligação ainda mais forte entre eles, de preferência, uma ligação cósmica...

O segundo Thor se baseou na força do Loki de Tom Hiddleston para manter a grandiosidade. O vilão aumentou a mitologia nórdica da Marvel e eles introduziram o Éter como uma das seis Jóias do Infinito (ao lado do já conhecido Tesseract). Mesmo assim, não foi um filme muito bem considerado. O título "Mundo Sombrio" parece ter deixado o filme mais sério do que se esperava.

Já o segundo Capitão América veio pra arrebentar! Na verdade, talvez seja um dos melhores filmes da Marvel. Tem ação, espionagem, novo herói (Falcão), antigos heróis queridos (Viúva Negra)... até o vilão que não é um vilão funcionou muito! Esse filme também funciona como um outro fechamento com o fim da Shield e a preparação para o próximo filme dos Vingadores.

Mas aí veio o pulo do gato da Marvel... ou melhor dizendo... o pulo do guaxinim! A editora pegou heróis completamente desconhecidos do grande público e mostrou todo o seu potencial num filme praticamente perfeito. Estendeu o lado cósmico do MCU, amarrando os Guardiões da Galáxia com os Vingadores através das Jóias do Infinito, e mostrou que o gênero de super-heróis não se esgota se você tem uma boa história com bons personagens.

Até vou dizer que os Guardiões fizeram o segundo filme dos Vingadores perder um pouco a força. O filme tem algumas falhas mesmo... mas a inclusão do Visão, da Feiticeira Escarlate e de Wakanda deixaram os fãs mais satisfeitos. Porém, os Guardiões também abriram a porteira: Homem-Formiga, um dos vingadores originais, poderia sair do papel e entrar para o MCU. E deu certo com um filme mais família, diferente dos outros.

Essa segunda fase, então, serviu para ampliar a quantidade de heróis na telona e mostrar que esse gênero de filmes só precisa de um bom roteiro e uma boa direção, pois as histórias já fazem sucesso há mais de 70 anos nos quadrinhos. O MCU se estabeleceu de forma inegável e bem sucedida, mas estabeleceu um padrão elevadíssimo para a terceira fase que foi sendo construída junto à segunda.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

MCU - Fase 1

MCU é o Universo Cinematográfico Marvel, ou seja, o que a Marvel está fazendo com seus personagens no cinema: uma série de filmes individuais sobre os super-heróis da editora que se interligam. Capitão América, Homem de Ferro e Thor foram os responsáveis pela Primeira Fase do MCU e é disso que vou escrever até chegarmos à atual Fase Três, que irá culminar numa Guerra Infinita.


FASE 1
  1. Homem de Ferro (2008)
  2. Incrível Hulk (2008)
  3. Homem de Ferro 2 (2010)
  4. Thor (2011)
  5. Capitão América: O primeiro vingador (2011)
  6. Os Vingadores (2012)

Dos seis primeiros filmes, somente os dois primeiros não fiz uma resenha por aqui. Então, farei uma bem breve, enquanto as outras estão com links para leitura posterior.

HOMEM DE FERRO
É o filme que estabeleceu um novo padrão no cinema de super-heróis porque foi feito pela própria editora e não por uma produtora de filmes que não se preocupa com os personagens, mas em como fazer dinheiro. Então, tudo que os fãs pediram estava presente, mesmo com as adaptações necessárias. Robert Downey Jr. se tornou Tony Stark (pena que perdeu a mão no filmes posteriores) em um filme redondo na ação e no humor. A esperança estava reestabelecida e melhor... numa cena pós-crédito, a Marvel avisou que os Vingadores estavam sendo planejados.

INCRÍVEL HULK
Bom... nem me atrevo a falar do primeiro filme do Hulk. Talvez em outro momento, mas esse filme é muito interessante. Ele faz homenagem a antiga série de TV com Lou Ferrigno e traz vários elementos dos quadrinhos já ligados à "Iniciativa Vingadores", mesmo sendo um acordo entre a produtora e a editora. Edward Norton é um excelente ator e faz um Banner perfeito, mas parece que ele tentou mandar na Marvel e aí... vocês já sabem, porque outro Banner/Hulk foi contratado (Maek Ruffalo). O filme ainda tem ótimos personagens, como Betty Ross (Liv Tyler), General Ross (William Hurt), um Abominável interessante (Tim Roth) e uma promessa de Líder (Tim Blake Nelson). Infelizmente não se pode dar sequência (questões contratuais) porque o caminho era bom. Hulk se tornou um coadjuvante de luxo que acabou perdido no terceiro filme do Thor.

RESUMÃO
Mina de ouro. Uma mudança geral não só nos filmes de super-herói que se seguiram (de qualquer editora ou produtora), mas do cinema blockbuster em si. O tom de humor, de ação, de envolvimento tinham agora um padrão a seguir: o Padrão Marvel (que a DC não conseguia, até contratar o responsável pelos Vingadores para refazer a Liga da Justiça e chegar perto).

Sem poder cinematográfico sobre o Homem-Aranha, os X-Men e o Quarteto Fantástico era preciso achar um farol. Com dois filmes do Homem de Ferro, fica bem claro quem a Marvel escolheu. E não é por menos, porque, mesmo fora do tom, Robert Downey Jr. virou o jogo da sua vida e da editora.

Chris Evans calou críticos ao entregar um personagem crível em um filme muito bom. Um líder nato. Aliás, vale a pena ver TODA a trilogia do Capitão porque é só filme bom.

Já o filme do Thor não teve boas críticas. Nem o primeiro ou o segundo porque tinham uma "veia séria", apoiada em ciência e mitologia, com bem menos "humor Marvel" do que os fãs esperavam. Loki acabou com muito mais força do que todo o resto e Tom Hiddelston atingiu o estrelato. Mas me ouçam... São filmes interessantes. O que fizeram no terceiro filme do deus do trovão é só um GRANDE ERRO cheio de ERROS, e ainda envolveu o Hulk. Talvez o maior de toda o MCU até agora (isso porque não estou considerando o primeiro filme do Hulk e os filmes do Demolidor, da Elektra e do Motoqueiro Fantasma no MCU).

Steve, Stark e Thor se tornaram, então, a trindade dos heróis no cinema, com as adições da incrível Viúva Negra, o Gavião Arqueiro, o Máquina de Combate e Fury. A partir deles continuou-se (e ampliou-se) o MCU indo até a TV com a ótima série Agents of S.H.I.E.L.D que trouxe o querido Phil Coulson (antes um ótimo coadjuvante dos filmes e curtas) de volta à vida.

A primeira fase do MCU é o orgulho de todo geek como eu. Mesmo que já tivéssemos aranhas e mutantes há algum tempo, sabíamos que a Marvel trataria seus personagens como nós gostaríamos. O que veio a seguir foi só melhorando.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Olhe além.

Relendo minhas postagens de fim de ano, percebi que desde 2013 venho dizendo que os anos estão péssimos. O que dizer de 2017: ano de Trump, de Crivella, de corrupção às claras, de crise e sei lá mais de quê?

Na postagem do ano passado, ficamos sabendo que entramos em um Ciclo de Saturno que durará 36 anos! E o interessante é que Saturno é também Cronos, deus do tempo... tempo esse que eu não tive esse ano, tempo esse que eu decidi recuperar. Nem escrevi minha postagem de aniversário... e olha que eu tinha bastante a falar, porque esse ano fiz 39 anos e tudo está com uma cara de final, como se realmente as coisas estivessem chegando ao seu fim para o início da segunda metade da minha vida. Decisões foram tomadas e agora é hora de ver no que vai dar.

Por isso, minha mensagem é "Olhe além", porque quero que todos vão além, sejam além. Busquem o melhor de vocês, o melhor para vocês. Não deixem que os estereótipos te enjaulem ou que as expectativas sociais te prendam em um lugar onde você é/está infeliz. Não há fórmula para felicidade ou mapa para achá-la, mas comece olhando além.

O olho grego foi adicionado porque todo mundo precisa de proteção contra a inveja – principalmente quando você está em busca de sua felicidade e as pessoas à sua volta estão presas, desejando que você esteja preso junto à elas. Saiba mais sobre o olho grego, AQUI.

Mas olhe mesmo, porque 2018 será reinado por Júpiter, aquele que destronou Saturno (mas o ciclo ainda é do titã até 2052 e Júpiter só entra em março!). Um ano regido pelo maior planeta do sistema solar é de conquistas e mudanças em vários setores, tendo impactos maiores nos negócios, esportes, leis, política e religião, com período de prosperidade para assuntos ligados às artes (AMÉM SENHOR!). Júpiter acena com expansão, crescimento e desenvolvimento intelectual para novos projetos, novos empreendimentos (TOMARA!) e novas leis estão no caminho deste ano. Nem tudo são flores: em ano de Júpiter elevam-se os fanatismos (isso já está, né?) e os relacionamentos se abalam se não houver respeito mútuo.

A numerologia é positiva, pois o ano é regido tanto pelo número 2 quanto pelo poderoso número 11, que trazem um forte magnetismo, influenciando a intuição, a sensibilidade, a espiritualidade, a energia da cooperação e a facilidade de adaptação a novas situações. É um ano que favorece aqueles que tem um mesmo ideal. É tempo de união, conciliação e diplomacia.

O ano chinês será do Cão de Terra com início em 16 de fevereiro. É um ano de lealdade, fidelidade e honestidade, mas também de teimosia e conservadorismo. Parece que Júpiter e o Cão da Terra tem bastante coisa em comum, pois também indica prosperidade na medicina e nas artes (DE NOVO AMÉN!).

A Pantone disse que a cor do ano é o Ultraviolet, mas Júpiter e o Cão da Terra pedem tons terrosos e mais escuros (A Coral deu um cinza rosado que nem vale a pena considerar). No entanto, o legal da cor Pantone é que ela corrobora com o meu desejo de ir além. A empresa diz que a cor Ultraviolet é complexa e contemplativa, sugerindo "os mistérios do Cosmos e nos intrigando por aquilo que ainda está por vir e as descobertas que estão além do lugar onde nos encontramos agora". Está ligada às artes e "simboliza a experimentação e o não conformismo, levando os indivíduos a conhecer a sua marca única no mundo e expandir as fronteiras através de soluções criativas".

Então é isso mesmo: Olhe além. Vá além. Seja além.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Pra onde foi a Arte grega?

Em 2014, fiz o curso "Introdução à Arte Moderna: do Néoclássico ao Impressionismo", na PUC-RJ. Como conclusão, escrevi um trabalho sobre a arte grega chamado Os anos perdidos da Arte grega: A transformação dos cânones ocidentais clássicos em uma produção anticlássica, onde investigo os rumos que tomaram os preceitos considerados clássicos ao longo dos séculos.



É longo, mas vale a pena pensar nesse tipo de transformação – da referência ao ostracismo – que o tempo histórico nos oferece.

sábado, 14 de outubro de 2017

Arte ao Lado: Erick Grigorovski

Com formação em design pela ESDI, é claro que Erick Grigorovski iria sistematizar sua produção artística… quer dizer… seus "filminhos" de animação. Independente do projeto, seja profissional ou pessoal, Erick mantém um processo de criação e produção bem semelhante: do briefing à pesquisa, do esboço no papel à finalização digital. Porém, como ele mesmo diz:
“Nos meus projetos pessoais, a diferença é que o cliente sou eu. E como nem sempre sei exatamente o que quero, de modo geral, o briefing vem a partir de conversas com amigos”.
Seus "filminhos" de animação são sem orçamento ou ambições, mas com muita vontade de contar histórias ao lado de amigos queridos. Então, somente após enxergar o projeto na sua frente com roteiro, artes conceituais, storyboard e cronograma, é que decide se tem motivação suficiente para colocar todo seu esforço nos meses seguintes e evitar cair na armadilha frustrante do engavetamento de um projeto pessoal. Por exemplo, Terra Incognita e Uruca levaram 10 meses, enquanto Entre Nós levou 18 meses e mais 10 meses ilustrando e escrevendo o blog da protagonista.


Em nenhum momento, Erick fala sobre fazer arte. Parece enxergar o que faz quase como um trabalho. Mas, quando fala que “faço porque quero contar aquela história, daquele jeito”, mostra sua motivação interior. Mesmo que um trabalho profissional de design, ilustração ou videografismo também o divirtam, é nesses "filminhos" de animação que realiza seu ato de arte. Não só no contar uma história, mas na dedicação à ilustração e no envolvimento pessoal.


Erick é de casa. Tem até marcador aqui no blog. Estudamos juntos na ESDI e passamos poucas e boas nessa vida. E é por isso que não entendo o diminutivo que ele usa para suas animações. Porra, cabeça, tu ganhou prêmio com teus “filminhos”! Vai estrear HOJE o novo Uruca no Rio Mountain Festival E no Inkafest, em Lima, no Peru! O que você faz é incrível! É arte! Você dá movimento ao desenho, vida à sua imaginação! Força na motoca!

sábado, 30 de setembro de 2017

Os olímpios

Segunda metade do século 19.

Alguns pintores resolveram parar de idealizar o cotidiano com alegorias e metáforas para fazer obras que mostrassem a realidade e representassem a vida como ela é (que deu no movimento artístico denominado Realismo). Em 1863, Édouard Manet pintou Olímpia (óleo sobre tela, 1,3 x 1,9 m, Museu d'Orsay), inspirado pela Vênus de Urbino de Ticiano e pel'A maja desnuda de Goya. Dois anos depois, Olímpia foi selecionada para ser exibida no Salão de Artes de Paris.


IMORAL! VULGAR!

Esses foram os xingamentos mais leves que o precursor do Impressionismo recebeu dos críticos conservadores da época.

O nu artístico sempre existiu, porém, de forma acadêmica (como estudos do corpo humano com modelos vivos), alegórica (em cenas mitológicas) ou exótica (mostrando povos distantes e considerados primitivos). Quando Manet representou uma prostituta de luxo fora desses três contextos, ele deslocou o nu do imaginário profano para a realidade pudica (e hipócrita). BLASFÊMIA!

E ele fez mais: ao colocar a mulher olhando diretamente o espectador com a mão tampando seu sexo, ele deu poder à ela. É ela quem manda no sexo, é ela que dá acesso e controla sua própria sexualidade. QUE ABSURDO (para uma sociedade machista e patriarcal)! UM ESCÂNDALO!

O escritor francês Émile Zola saiu em defesa do pintor:
Quando outros artistas corrigem a natureza pintando Vênus, eles mentem. Manet perguntou a si mesmo porque deveria mentir. Por que não dizer a verdade?
Manet ficou arrasado com as reações do público. Seu amigo, o poeta francês Charles Baudelaire, ficou preocupado:
Manet tem um grande talento, um talento que resistirá. Mas ele é frágil. Pareceu desolado e atordoado pelo choque. O que me impressiona é a alegria de todos os idiotas que acreditam que ele foi vencido.
O pintor chegou a se isolar, mas (ainda bem) foi tirado do ostracismo pelos impressionistas capitaneados por Bethe Morisot, Camille Pissarro e Claude Monet (que foi responsável por comandar uma campanha em 1890 para que a tela fosse comprada e doada para coleções públicas). Ele deveria ter conversado mais com Gustave Courbet, pintor da obra A origem do mundo, censurada pelo Google e pelo Facebook...

Corta, então, para o início do século 21.

Em julho de 2017, o artista Maikon K (um dos nomes mais respeitados e consagrados da performance no Brasil contemporâneo), realizou em um projeto privado a apresentação da DNA de DAN, na qual fica nu com o corpo coberto de um líquido que se resseca aos poucos, até, ao fim, se quebrar, revelando a pele do artista. Foi preso de forma truculenta por ATENTADO AO PUDOR e OBSCENIDADE, mas fez questão de declarar:
Podem me colocar diante de um juiz. Eu sei que eu não fiz nada de errado nem nada pelo qual eu deva me envergonhar. Eu estava trabalhando, e minha função é essa: perturbar a paisagem controlada dos sentidos. O meu corpo afronta os seus canais entupidos, o seu ódio contido, mesmo estando parado. Porque vocês nunca vão me controlar e eu pagarei o preço, eu sei, eu sempre paguei. Porque parado ali, nu, imóvel no meio da praça, suas vozes me atravessam, suas piadas estúpidas tentam me derrubar, sua indiferença me faz rir, seu embaraço me dá dó, mas eu continuo em pé.
Em setembro de 2017, o artista Wagner Schwartz realizou em um museu de arte a apresentação Le Bête, na qual manipula uma réplica de plástico de uma das esculturas da série "O Bicho", de Lygia Clark, e se coloca nu, vulnerável e entregue à performance artística, convidando o público a fazer o mesmo com ele. O evento tinha avisos de classificação etária. Uma mãe (coreógrafa e também artista performática) levou a filha para interagir com o artista. Foi filmada e... PEDÓFILO! CRIMINOSO! DESTRUIDOR DA FAMÍLIA TRADICIONAL BRASILEIRA!

Esses são apenas dois acontecimentos entre a dezena de censuras que a Arte vem sofrendo no atual momento. Vivemos um período de transição e polarização que a Arte insiste em escancarar. Disse Zola:
Basta ser diferente dos outros, pensar com a própria cabeça, para se tornar um monstro. Você é acusado de ignorar a sua arte, fugir do senso comum, precisamente porque a ciência de seus olhos, o impulso de seu temperamento, levam-no a efeitos especiais. É só não seguir o córrego largo da mediocridade que os tolos apedrejam-no, tratando-o como um louco.
A nudez é um dos tabus mais hipócritas que temos hoje em dia. Em nossa sociedade, pode-se usar roupa íntima na praia, mas não se pode amamentar em público. Pode-se colocar crianças maquiadas dançando eroticamente um funk, mas não se pode expor a criança à manifestações artísticas mais contundentes. Pode-se dar uma arma de brinquedo, mas jamais ir a uma praia de nudismo. Mande nudes, mas não tome banho com seu filho.

A nudez feminina vem sendo "trabalhada" há séculos, enquanto a nudez masculina se resume à estátuas gregas com folhas de parreira (castração religiosa) ou membros pequenos que não chamam atenção. Maikon K e Walter Schwartz se colocam no lugar da Olímpia e confrontam os padrões tanto da representação masculina quanto da Arte em si.

Esse é o papel da Arte (dita contemporânea) desde que as vanguardas do século 20 começaram a questionar o que vinham sendo feito em busca de maior expressividade ao invés de restrições estéticas. Técnicas e suportes foram sendo experimentados e substituídos. O corpo se tornou ferramenta e meio. Gostar ou não gostar não é mérito da Arte: isso é um problema do espectador.

Toda essa discussão só incentiva ainda mais a produção artística. Eu espero muita gente pelada por aí.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Ao meu lado

A quarta edição da revista Arte ao Lado é especial... porque é minha!



Tinha que lançar ainda em agosto, mês dos Leoninos que adoram aparecer... como eu (?).

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Arte ao Lado: Raphael Zanow

Como captar o que a mente transcende? No caso de Raphael Zanow, escrevendo poesia. Mas como manter suas ideias em equilíbrio? Pra ele, jogando capoeira.

Seu movimento interno de expressão se deu na forma dessas duas artes. Uma desenvolve a outra e o permite praticar aspectos do corpo, da mente e do espírito para que suas palavras e seus gestos falem de outra forma.

A capoeira sempre foi mais do que uma arte para Raphael. Desde a adolescência, a filosofia dessa luta / jogo / dança afro-brasileira invadiu sua casa (literalmente) e o mostrou exemplos de união, de harmonia, de força e de família. Ele diz que a capoeira foi uma força que potencializou suas reflexões de como ser uma pessoa melhor. Hoje sua casa já se tornou um quilombo onde ele não só treina como também ministra aulas.

Com a entrada da Psicologia em sua vida, Raphael conseguiu refinar os processos externos e internos para escrever sobre tudo que vem à mente. Como, por exemplo:
Sou normal,
No mundo dos anormais.
Onde todos estão nesse mundo,
E ao mesmo tempo não estão,
Ou não querem estar.
Um mundo de criação,
Criado para viver.
Para o bem viver eu não sei?
É pra ser vencido!
É uma luta contra a criação.
Sua própria criação.
Você contra você.
Todos contra todos e todos juntos contra tudo e todos.
Mundo louco!
Mundo normalíssimo.
Cada situação diferente da outra,
Parecida,
Mas nunca igual.
Criação gerando criação.
De perto…
Olhos que você vê, porém, só enxerga com os seus.
Olhos que dão a visão do normal!
O seu normal.
O normal do próximo, já não é tão normal.
Mas é um normal na invisibilidade de outro normal.
Que ao mesmo tempo é vivido!
Com o desejo de ser único por um só.
Uma mistura de normalidades que englobam outras realidades.
Indiretamente tudo é respeitado para poder ser vivido normalmente.
O verdadeiro significado do nosso real?
Não sei, mas é normal eu não saber.
Pois convivemos bem nossa normalidade.
Esqueça as diferenças, pois tudo é normal.
Caso para você algo não seja normal ou tão normal…
Imagine que você que não é normal.
Assim será normalmente melhor.
Viva normalmente,
Mas não seja normal!
Em sua página do Facebook, Reflexões Poéticas da Existência, Raphael posta mais de seus textos junto com algumas leituras em vídeo.


Eu e Rapha nos conhecemos na academia, mas não foi malhando. Foi dançando! Isso mesmo: nós fazíamos aulas de street dance, step e lambaeróbica! Fazíamos não... dominávamos, né, Rapha? Criamos um vínculo fraternal forte: eu, o irmão mais velho com um pouco mais de sabedoria porém bem menos calejado; Raphael, o irmão mais novo impetuoso que abraçava a vida com intensidade.

A distância nunca desfez esse vínculo que a Arte veio agora revelar. Axé!

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Ao Lado da Escultura

Demorou bem mais do que o previsto, mas saiu a terceira edição da revista Arte ao Lado! O assunto é escultura com Katia Politzer, Mari Leal e Alcemar Maia, ou seja, a escultura de uma forma não tão convencional assim! Leia e surpreenda-se!